
Capítulo IX
Ya viví lo que pude vivir
Perdón que me tenga que ir
En la noche, conquisto el silencio
Y la ausencia del ruido genera un vacío
Sentado no confortável sofá da sala de estar, aproveitando a tranquilidade da tarde para ler um livro trouxa que Narcisa me indicou, deixei que minha atenção se fixasse nela e em meus netos, que aparentemente tentavam fazer um bolo de chocolate. Melhor do que qualquer leitura, esta é uma cena que aquece meu coração, especialmente após ontem a noite.
Enquanto desfruto desse momento de harmonia familiar, ouço batidas incomuns na janela e ainda sentado percebo que se trata de uma coruja da neve. Silenciosamente, vou até a janela e pego a carta, sem que Narcisa ou as crianças sequer percebam.
Ao pegar a carta, uma certa preocupação se apossou de mim ao reconhecer imediatamente o selo e o remetente.
Uma correspondência relacionada aos negócios da família na Inglaterra, algo que eu preferiria não lidar nesse momento, especialmente quando finalmente estou começando a reparar meu relacionamento com Narcisa.
Dirigindo um olhar de soslaio à cozinha, noto que ela e as crianças estão tão entretidas em sua tarefa, que nem mesmo sentirão minha falta. Por isso, caminhei até o escritório que transformei em meu quarto para poder ler a carta sem interrupções.
Ao finalizar minha leitura, um misto de sentimentos me invadiu, pois eu havia prometido à Narcisa que permaneceria ao seu lado para cuidar das crianças, mas os negócios da família mais uma vez mostram-se inconvenientes ao exigir minha presença na Inglaterra por uma temporada indeterminada.
Como explicarei a eles que mal cheguei e precisarei partir por tempo indeterminado? É a única coisa que consigo pensar enquanto guardo a carta em meu bolso esperando o momento apropriado para abordar o assunto com Narcisa e as crianças.
Em razão disso, me juntei a eles na cozinha e me deliciei com o bolo que eles se divertiram confeitando.
Uma parte egoísta de mim queria aproveitar cada segundo possível ao lado deles na ignorância de minha partida iminente, pois temo as repercussões quando eu lhes disser de minha partida iminente.
A carta ainda pesa em meu bolso, lembrando-me de minhas obrigações na Inglaterra. Mas os meus pensamentos estavam a milhares de quilômetros de distância, mergulhados em uma memória dolorosa.
Era uma tarde fria na Mansão Malfoy e o silêncio na casa havia sido interrompido pelo som de passos rápidos e decididos. Estava em meu escritório, revisando documentos, quando Narcisa entrou, seus olhos azuis queimando com uma determinação que não me recordo de ter visto antes.
_Eu vou embora, Lucius. –Ela declarou, sua voz firme e sua postura sequer vacilou com o anúncio que abalou minha estrutura.
Levantei meu olhar dos papéis, surpreso.
_Narcisa, o que está dizendo? –Indaguei ainda incrédulo com as palavras que ela havia acabado de proferir.
Ela respirou fundo, tentando manter a compostura.
_Estou dizendo que não posso mais ficar aqui. Não posso viver com um homem que renegou nosso filho, meu único filho. –Ela declarou.
_Isso é insensatez. -Afirmei, levantando-me da cadeira e caminhando até ela –Nós somos uma família. Precisamos permanecer unidos.
_Família? Como tem coragem de dizer isso quando Draco está em Merlim, sabe-se onde? –Ela disse com uma raiva mal contida, fazendo-me lembrar que ela era uma Black por nascimento e eles tendiam a ficar psicóticos quando o assunto é família.
Narcisa balançou a cabeça, lágrimas brilhando em seus olhos e com uma frieza assustadora acrescentou:
_Você fez sua escolha, Lucius. Escolheu o orgulho e os preconceitos em vez do nosso filho. Eu escolho Draco, eu o escolho mil vezes e escolho o amor, mesmo que isso signifique não estar mais ao seu lado.
As palavras dela cortaram como facas.
Sei que havia cometido erros, que minha decisão de renegar Draco havia sido baseada em anos de tradições e preconceitos arcaicos. Mas admitir isso nesse momento parecia impossível.
_Você não pode simplesmente ir embora –Insisti, a voz se elevando, enquanto eu tentava lhe dar um senso de noção do que era certo –Nós pertencemos aqui.
_Eu não pertenço mais aqui. –Ela respondeu, a voz trêmula –Eu pertenço onde meu coração está e ele está com o meu filho.
Dito isso, ela se virou e saiu do escritório, deixando-me sozinho com minha raiva e frustração. Fiquei imóvel, apenas ouvi seus passos se afastando e o som da porta da frente se fechando com um estrondo final. Naquele momento, percebi que a tinha perdido, e com ela, a melhor parte de mim.
Agora, sentado entre meus netos, reflito sobre aquele fatídico dia. A carta em meu bolso parece pesar uma tonelada, não me deixando esquecer de minhas obrigações como patriarca desta família.
_Está tudo bem, vovô? –Rose indagou de repente, chamando a atenção dos demais para mim.
_Está, querida. –Eu a tranquilizo com um sorriso –Todavia, preciso compartilhar com vocês que minha presença é necessária na Inglaterra.
Rose e Scorpius pareciam confusos, já Narcisa ergueu uma sobrancelha em surpresa, sua expressão mostrando claramente sua hesitação. Ela sabia que a Inglaterra estava repleta de memórias dolorosas para nós, principalmente para ela e a ideia de retornar àquele lugar não era exatamente reconfortante.
_Mas o que isso significa para nós? –Perguntou a mulher de nome de flor cautelosamente e eu sabia que meu futuro nesta família dependia das palavras que diria a seguir.
Por isso, momentaneamente ignorei nossos netos e a fitei com seriedade antes de continuar.
_Eu gostaria que vocês viessem comigo. –Disse seguindo o desejo de meu coração e tomando a atitude mais grifinória de toda a minha vida.
Ao ver a hesitação estampada em suas feições angelicais, apressei-me em acrescentar:
_Apenas como um passeio. Podemos aproveitar o tempo juntos, visitar alguns lugares familiares, talvez até mesmo relembrar alguns momentos felizes.
Narcisa estava prestes a recusar o convite, mas antes que pudesse abrir a boca, Rose e Scorpius intervieram.
_Eu adoraria ir! –Exclamou Rose, seus olhos brilhando de excitação –Seria incrível explorar a Inglaterra com vocês, vovô.
Scorpius assentiu vigorosamente, seu rosto iluminado por um sorriso animado.
_Sim, seria demais! –Meu pequeno neto acrescentou.
_Podemos visitar o Lago Negro e a estação de trem de King's Cross! –Rose sugeriu batendo palmas.
Narcisa me ignorou completamente enquanto olhava de Rose para Scorpius e isso é o suficiente para saber que ela não tem coragem de lhes negar essa oportunidade de aventura e conexão familiar, especialmente depois de tudo o que haviam passado juntos.
Com um suspiro resignado, ela enfim me encarou e eu lutei para permanecer imóvel quando seu olhar me fazia querer estremecer.
_Muito bem. –Disse ela suavemente –Nós iremos.
Instantaneamente me vi sorrindo para ela, grato por seu aval, pois sei não será fácil voltar à Inglaterra.
Depois de Narcisa concordar com a viagem à Inglaterra, realizei os arranjos e comuniquei os elfos domésticos para prepararem quartos para as crianças e um quarto de hóspedes.
Finalmente, o dia de nosso retorno chegou e após providenciar o envio de nossas bagagens pelo floo, Rose e eu aguardamos Narcisa descer as escadas com Scorpius em seu colo para atravessarmos juntos.
Assim que saímos da lareira da mansão e adentrávamos o grande hall de entrada da mansão, Rose e Scorpius ficaram maravilhados com a grandiosidade do lugar. O teto alto era adornado com lustres de cristal cintilantes, e as paredes estavam decoradas com tapeçarias e retratos dos antepassados Malfoy. Uma grande escadaria de mármore levava aos andares superiores, e o chão de mármore polido refletia suas imagens como um espelho.
_É tão bonito. –Rose sussurrou, olhando ao redor com admiração e eu não pude deixar de me sentir satisfeito com isso.
Scorpius foi colocado no chão por Narcisa, ao mesmo tempo, em que fazia um grunhido de aprovação.
Observei as reações de ambas as crianças, sentindo uma sensação de realização e esperança crescer em meu coração. Pois estou determinado a fazer com que durante a estadia deles na Malfoy Manor, eles sintam que estejam em um verdadeiro lar, um lugar onde pudessem criar memórias felizes e se sentir amados.
Contudo, notei que ao meu lado, Narcisa observava silenciosamente, com um misto de apreensão e nostalgia no olhar.
_É enorme! –Scorpius exclamou enquanto corria e Narcisa se apressou em segui-lo.
Rose se agarrou a minha mão e caminhamos atrás de Narcisa.
_Você gostou, Rose? –Questionei minha neta.
Assentindo ela disse:
_Nunca vi algo assim antes, vovô.
_Parece um castelo de contos de fadas! –Exclamou Scorpius subindo as escadas.
_Scorpius! –Exclamou Narcisa preocupada –Por favor, venha aqui.
Quando Scorpius se aproximou de Narcisa e ela finalmente agarrou a mão dele, sorri levemente.
_Bem-vindos à Malfoy Manor. –Disse não escondendo o orgulho em minha voz –Este é o lar dos Malfoy há gerações.
Instantaneamente, um suave “pof” ecoou no ambiente e um dos elfos domésticos da mansão apareceu chamando a atenção das crianças.
_Bem-vindos de volta, mestre e senhora Malfoy. –Disse o elfo, com a voz mais gentil que eu havia ouvido em anos.
Narcisa deu um pequeno sorriso, acenando com a cabeça.
_Obrigada, Missy. É bom estar de volta. –Narcisa disse suavemente.
Enquanto Rose e Scorpius exploravam o salão, Lucius e Narcisa os seguiam, trocando olhares cúmplices. A mansão, que outrora fora um símbolo de tradição rígida e expectativas severas, agora se enchia de risos e entusiasmo juvenil. Lucius sabia que havia muito trabalho pela frente, mas por enquanto, estava satisfeito em ver a alegria nos olhos de seus netos.
Narcisa se descuidou de Scorpius brevemente e ele logo correu até o grande piano de cauda que ficava em um canto do salão.
_Posso tocar, vovô? –Ele perguntou, olhando para mim com expectativa.
_Claro, meu rapaz. –Respondi sorrindo –Vamos ver se você é tão talentoso quanto a sua avó.
Narcisa por sua vez, se aproximou de Rose, que estava fascinada com uma tapeçaria que representava um dragão voando sobre um campo.
_Gostou daqui, amor? –Ela perguntou, acariciando suavemente o cabelo cacheado de nossa neta.
_Sim, vovó. –Rose respondeu com um sorriso –É como estar em um castelo de verdade.
Assim, enquanto Scorpius tocava as teclas do piano e Rose explorava cada canto do salão, Narcisa se aproximou de mim, tocando levemente meu braço.
_Eles parecem tão felizes. –Ela disse suavemente, seus olhos finalmente encontrando o meu pela primeira vez desde que ela concordou em me seguir de volta ao local que ela prometeu jamais pisar novamente.
_Sim. –Respondi, segurando a mão dela –Vamos fazer o nosso melhor para que isso continue assim.
Logo, demorou dois dias inteiros para que eu pudesse reunir-me com minha família novamente, pois as reuniões de negócios foram incessantes.
Em razão disso, durante o café da manhã, quando Scorpius, com os olhos brilhando de entusiasmo, correu até mim, agarrando a manga de seu casaco eu senti uma profunda culpa.
_Vovô, você vai ter tempo para nós hoje? –Perguntou ele, olhando para mim com expectativa.
_Scorp, seu avô tem que trabalhar. –Narcisa que já estava sentada na mesa tomando o café da manhã o repreendeu sutilmente e isso inevitavelmente me transportou para algumas décadas no passado.
Sentiu um aperto no coração ao ver a esperança nos olhos de seu neto. Por isso, me abaixei até ficar na altura do menino e sorri dizendo:
_Sim, Scorpius. Hoje estou de folga e o dia é todo nosso.
Scorpius soltou um grito de alegria e correu para contar a novidade a Rose, que havia acabado de chegar na sala de jantar.
_Rose! O vovô vai passar o dia com a gente! –Exclamou ele animado.
Rose me fitou instantaneamente, seu rosto iluminado por um sorriso muito semelhante aos de Narcisa.
_Sério? –Indagou ela correndo até mim -Então o senhor pode nos levar para conhecer o Beco Diagonal? A vovó nos levou para conhecer Hyde Park ontem, mas ainda não conhecemos nenhum local bruxo!
Ignorando o fato de Narcisa ter se escondido no mundo trouxa, eu riu, comovido com a excitação das crianças.
_Claro, Rose. Vamos ao Beco Diagonal. Há muitas coisas interessantes para vocês verem lá. –Disse em concordância.
Quando voltei minha atenção à Narcisa, no que ela observava a cena com um sorriso afetuoso e sem me dar chance de convidá-la, ela disse:
_Eu me encarrego de tudo aqui, Lucius. Aproveite o dia com nossos netos.
Apesar de querer lhe convidar, eu sabia que ela havia dito isso de propósito e por isso só consegui dizer:
_Obrigado, Narcisa.
Voltando então minha atenção para as crianças, eu disse:
_Então vamos tomar café da manhã, para podermos pegar logo nossas capas e partir para o Beco Diagonal.
Cerca de uma hora depois, acompanhei meus netos no Beco Diagonal, segurando as mãos pequenas deles firmemente, eu sequer dei atenção aos poucos que me reconheceram. O lugar estava cheio de bruxos e bruxas, com lojas coloridas e uma atmosfera de magia que encantava as crianças a cada passo.
Rose não demorou a nos puxar em direção a uma loja de doces dizendo:
_Olhe, vovô! Podemos comprar alguns sapos de chocolate?
Ainda rindo, eu acenei com a cabeça em concordância, pois não seria agora que eu começaria a negar algo à primeira Malfoy em sete gerações.
_Claro, Rose. Vamos ver quantos conseguimos encontrar. –Afirmei me forçando a não parecer tão empolgado quanto ela por também estar fazendo isso pela primeira vez desde que eu era um estudante de Hogwarts.
Scorpius, por sua vez, estava fascinado com uma loja de vassouras voadoras.
_Eu quero uma dessas, vovô! Posso ter uma vassoura? –Indagou ele apontando para uma vassoura de última geração. Definitivamente Narcisa me mataria se chegássemos em casa com uma dessas.
Apenas por isso, me vi agachando ao lado de Scorpius e dizendo:
_Ainda é um pouco cedo para você ter sua própria vassoura, mas podemos entrar e olhar. Quem sabe, no futuro, você não ganhe uma?
Assim, nós três passamos a manhã explorando cada loja, experimentando doces e admirando os objetos mágicos. Era a primeira vez em décadas que eu não sentia o peso da minha idade, e as sombras do passado eram aliviadas pela alegria de meus netos.
À tarde, depois de um dia cheio de risos e novas descobertas, nos sentamos em um café para descansar. Rose estava saboreando um sorvete, enquanto Scorpius bebia um suco de abóbora, os rostos dos dois brilhando de felicidade.
_Este foi o melhor dia de todos, vovô –Rose declarou com um daqueles sorrisos que rivaliza os de Narcisa -Obrigada por nos trazer aqui.
Inevitavelmente um calor se instaurou em meu coração, uma emoção que há muito tempo não experimentava.
_O prazer foi todo meu, Rose. Fico feliz por gostarem. –Afirmei satisfeito.
Por sua vez, Scorpius se inclinou, descansando a cabeça em meu ombro.
_Podemos fazer isso de novo algum dia, vovô? –Indagou meu neto –E podemos trazer a vovó, também?
Sem pensar duas vezes, envolvi o pequeno corpo do meu neto em um abraço carinhoso.
_Claro que sim, Scorpius. Convidaremos sua avó e teremos muitos dias assim. –Prometi a ele.
Meia hora depois, enquanto o sol começava a se pôr, aparatei nos jardins da mansão sentindo uma sensação de paz que não experimentava há muito tempo.
Surpreendendo a nós três, Narcisa estava nos esperando na entrada, e ao ver a avó, Rose correu em sua direção e se atirou contra ela, lhe dando um abraço caloroso.
Notei que as duas falaram algo que não ouvi e logo Narcisa ergueu seus olhos azuis brilhantes me fitando com um pequeno sorriso, que me vi retribuindo instantaneamente.
Já a noite, enquanto colocava Scorpius na cama, observei o pequeno rosto adormecido do meu neto e sussurrei:
_Vou estar sempre aqui para vocês, prometo.
Após sair do quarto de Scorpius, fui para o quarto de Rose, que ainda estava acordada, lendo um livro.
_Boa noite, Rose. –Falei acariciando suavemente seus cachos castanhos.
_Boa noite, vovô. –Respondeu ela, fechando o livro e sorrindo –Obrigada pelo dia maravilhoso.
Em resposta, eu me vi sorrindo e após a promessa dela de ler apenas mais uma página, eu saí de seu quarto fechando a porta, perfeitamente ciente que essa uma página viraria vinte.
Na manhã seguinte, a atmosfera era serena e tranquila, enquanto nós quatro desfrutávamos do café da manhã
Um dos elfos me entregou o jornal e abri direto na página de finanças, sem notar o olhar que Rose dirigia aos elfos que serviam a refeição ao nosso redor, sua expressão mostrando claramente sua relutância em aceitar sua ajuda.
_Rose, querida, você está bem? -Perguntou Narcisa, chamando minha atenção.
Rose suspirou, seus ombros caindo ligeiramente enquanto ela abaixava os olhos para seu prato.
_É só... eu não gosto de ver os elfos trabalhando assim. –Admitiu ela, sua voz suave e carregada de tristeza –Eles deveriam estar livres, não presos a nós.
_Mas eles gos... –Comecei a argumentar, mas ao ver o olhar fulminante que Narcisa me dirigiu, calei imediatamente.
_Eu entendo, meu amor. –Narcisa disse suavemente, colocando uma mão reconfortante no braço de Rose –Mas você sabe que os elfos gostam de ajudar. É assim que eles mostram seu amor e dedicação à nossa família.
Rose assentiu, aceitando as palavras de Narcisa com relutância e eu troquei um olhar com minha esposa buscando aconselhamento, mas ela simplesmente fez que não com a cabeça.
Deixando o assunto momentaneamente de lado, o café da manhã prosseguiu e pelo canto do olho observei silenciosamente Narcisa tranquilamente tomando seu chá da manhã quando pegou o profeta diário, como uma vez foi seu costume. Ela folheou as páginas com uma expressão serena e eu a conhecia há tempo suficiente para saber que ela procurava a sessão de fofocas, embora sempre negasse quando questionada.
No entanto, sua calma foi abruptamente interrompida quando seus olhos caíram sobre uma fotografia. Então eu a vi engasgar, seus olhos se arregalaram de surpresa.
_Como podem publicar algo tão infame e difamatório? –Ela disse de repente furiosa.
_O que aconteceu, querida? –Lhe questionei e com uma expressão indignada ela me entregou o jornal.
Assim, eu vi o motivo de sua indignação. Uma fotografia minha segurando Scorpius nos braços, com um sorriso radiante no rosto. Ao lado da foto, uma manchete em letras garrafais chamava a atenção:
O novo herdeiro Malfoy: Bastardo de Lucius ou a salvação da família?
No dia anterior, o infame lorde Malfoy foi flagrado por transeuntes no Beco Diagonal na companhia de um garotinho que é uma cópia idêntica do ex-comensal da morte. Desde o exílio de Draco Malfoy há mais de uma década e do desaparecimento da senhora Malfoy muito se especula sobre o destino da família Malfoy, mas aparentemente não há com que se preocupar, pois o legado Malfoy segue garantido para mais uma geração.
Avistados sozinhos, questionamentos surgiram acerca da maternidade do menino que claramente é um Malfoy. Fontes afirmam que Narcisa Malfoy reside sozinha na França há anos, portanto, sem indícios de um segundo filho por parte da senhora Malfoy muito se especula que o herdeiro Malfoy seja um bastardo de Lucius.
Diante disso, estaria o divórcio Malfoy prestes a ser anunciado ou a senhora Malfoy tomará a criança como sua? Afinal, é de conhecimento geral que o amor maternal da senhora Malfoy foi um dos fatores principais para a sobrevivência de Harry Potter.
Ao finalizar a leitura, com mãos trêmulas, dobrei o jornal com firmeza, sentindo uma onda de raiva e determinação se apoderar de mim.
_Darei um jeito nisso imediatamente. –Garanti a ela, sabendo que precisava agir rapidamente para proteger nossa família e defender a honra dos Malfoy contra essas acusações infundadas.
Por isso, cerca de uma hora depois, meus advogados reuniram-se no meu escritório na mansão, imersos em papéis e documentos, discutindo a melhor maneira de lidar com o escândalo que envolvia a suposta bastardia de Scorpius. Aparentemente a notícia havia causado um alvoroço nos círculos sociais e, mais importante, machucado profundamente minha esposa, por sorte as crianças estavam alheias a isso tudo.
_Temos que pressionar o jornal a retirar a matéria e exigir uma retratação pública. –Disse com a voz firme –Não posso permitir que essas mentiras manchem o nome da minha família.
Um dos advogados, um homem de meia-idade com óculos de aro grosso, assentiu dizendo:
_Concordo, senhor Malfoy. Já estamos preparando os documentos necessários para processá-los por difamação e calúnia. Mas precisamos de algo mais para garantir que eles cedam rapidamente.
Antes que eu pudesse responder, a porta da sala de reuniões se abriu com um estrondo. Todos se viraram para ver Narcisa entrando com passos firmes, seu rosto uma máscara de raiva controlada. Ela carregava uma pasta de documentos e a determinação em seus olhos azuis era palpável.
Ah, esse jornal de meia tigela estava prestes a sofrer a ira de Narcisa Malfoy e eu estou ansioso por isso.
_Lucius. –Disse ela, dirigindo-se diretamente a mim e ignorando os advogados, que estavam atentos a ela –Além de exigir uma retratação pública, quero que esse jornal pague uma indenização substancial pela dor e sofrimento que causaram a nossa família.
Levantei de minha cadeira de couro, surpreso pela presença de Narcisa, mas não por sua atitude, pois ninguém protegia mais a família do que Narcisa.
_Narcisa, eu não sabia que você viria. –Foi a primeira coisa que eu disse e me arrependi instantaneamente por parecer um adolescente nervoso diante de seu primeiro amor.
_Não podia ficar de fora disso. –Ela respondeu, colocando a pasta sobre a mesa –Essas calúnias são inaceitáveis e quero garantir que sejam devidamente punidas. Não apenas por nós, mas principalmente pelas crianças. Rose e Scorpius não merecem passar por isso.
Pelo canto do olho, vi os advogados trocaram olhares rápidos, percebendo a intensidade da situação. O mesmo advogado que havia falado antes pigarreou e se dirigiu a Narcisa:
_Sra. Malfoy, estamos todos de acordo que precisamos de uma ação enérgica. Suas sugestões são mais do que bem-vindas.
Narcisa abriu a pasta e tirou vários documentos, ao mesmo tempo, em que explicava:
_Aqui estão todas as provas de que essa matéria é completamente infundada. E, além disso, vou preparar uma declaração pessoal sobre o impacto emocional que essa situação causou em nossa família. Eles devem pagar por isso, e uma retratação pública é apenas o começo.
Observei Narcisa enquanto ela falava, sentindo um misto de orgulho e tristeza. Sempre soube que, apesar de todas as dificuldades, ela sempre foi uma mulher forte e determinada. E agora, vendo-a lutar com unhas e dentes pela honra de nossa família, me senti ainda mais motivado a fazer justiça.
_Estamos juntos nisso, Narcisa. –Afirmei colocando a mão sobre a dela em um gesto de solidariedade, ignorando completamente os olhares desconfortáveis dos advogados –Vamos garantir que essas mentiras sejam apagadas e que nossa família seja protegida.
Quando ela me fitou, seu olhar suavizou por um momento.
_Obrigada, Lucius. Pelo menos nisso, estamos completamente de acordo. –Disse ela e os advogados trataram logo de começar a revisar os novos documentos trazidos por ela, e a reunião continuou com um senso renovado de propósito. Isso também me fez sentir que, apesar de todos os desafios e mágoas do passado, nós dois estamos mais unidos do que nunca na defesa de sua família.
A medida que a reunião avançava, não podia deixar de pensar no impacto que essa situação poderia ter sobre Rose e Scorpius e quando finalmente a reunião terminou e os advogados saíram para começar a trabalhar nas ações legais, Narcisa e eu ficamos sozinhos na sala de reuniões.
_Você foi incrível hoje. –Falei quebrando o silêncio.
Narcisa suspirou, parecendo exausta, mas determinada.
_Obrigada, Lucius. Tudo o que faço é por eles. –Ela disse com aquela suavidade que ela costumava reservar apenas para Draco.
Aproximei dela e, por um momento, segurou sua mão dela.
_Vamos superar isso juntos. –Eu lhe garanti.
Ela assentiu, seus olhos brilhando com uma mistura de emoções.
_Sim, vamos. –Afirmou ela com convicção.
Nesse momento, apesar da situação que enfrentamos, senti que, mesmo diante de todas as cicatrizes do passado, havia uma chance real de cura e renovação. E isso, sem sombras de dúvidas, é graças à força inabalável de Narcisa e ao amor que ela tem por nossos netos e talvez, apenas talvez, por mim também.
Na manhã seguinte, acordei com uma sensação de expectativa, sabendo que o jornal publicaria uma retratação sobre o escândalo envolvendo Scorpius. Por isso, me arrumei rapidamente e logo me dirigiu à sala de estar, onde o jornal estava esperando sobre a mesa de centro, com Narcisa sentada no sofá como se me esperasse para aquele momento.
Meu coração batia mais rápido à medida que eu me aproximava dela e do jornal.
Sentei ao seu lado e aguardei ela pegar o jornal com uma mistura de apreensão e esperança, meu coração bate estranhamente mais forte enquanto nos preparamos para ler as manchetes.
Ela respirou fundo e abriu o jornal, logo nossos olhos percorrendo as palavras impressas com cautela.
Scorpius Frederick e Rose Luna Granger-Malfoy: o futuro da Casa Malfoy
Esta jornalista pede desculpas à família Malfoy pelas especulações maldosas no último artigo sobre os Malfoys.
Em declaração exclusiva, Narcisa Malfoy, comunica que “Após a decisão de meu filho em casar-se com a senhorita Hermione Granger, a família optou por residir na França para ter uma vida longe dos holofotes, por isso acompanhei meu filho e minha nora à França durante todos esses anos. Eu e meu marido não poderíamos estar mais orgulhosos de nossa pequena família e gostaríamos que respeitassem nossa privacidade, especialmente enquanto atravessamos o período de luto pela perda precoce de meu filho e minha nora”
Diante das informações recentes, o Profeta Diário se solidariza com a família Malfoy e expressa seus pêsames precoces, especialmente diante da notícia do falecimento da heroína de guerra Hermione Granger (Tributo à folha 3).
Um sorriso de alívio e satisfação se espalhou pelo rosto de Narcisa quando ela leu a retratação do jornal. Ao passo que senti um peso sendo retirado de meus ombros enquanto lia as palavras impressas, a verdade finalmente vindo à tona após tantos desafios e injustiças.
Com um suspiro de contentamento, Narcisa dobrou o jornal e o colocou de lado, seu sorriso permanecendo em seu rosto.
_Acredito que ainda há muito trabalho a ser feito para reconstruir a reputação da família, mas por enquanto, acho que podemos desfrutar desse momento de vitória. –Anunciou ela enquanto eu a observava com admiração.
_Narcisa, querida, você foi incrível. –Expressei meus pensamentos em voz alta –A maneira como você lidou com toda essa situação no jornal... foi verdadeiramente notável.
Narcisa me fitou surpresa por alguns segundos.
_Obrigada, Lucius. –Respondeu ela, um leve sorriso tocando seus lábios –Significa muito, para mim, ouvir isso vindo de você.
Inclinou a cabeça em reconhecimento, esperando que meu olhar transmitisse toda a gratidão e respeito que sinto por ela.
_Você sempre foi uma mulher excepcional, Narcisa. –Afirmei com sinceramente –E eu sou grato por tê-la ao meu lado, mesmo que as circunstâncias tenham mudado.
_Eu também sou grata, Lucius. -Disse ela suavemente, seus olhos encontrando os meus com ternura –Por tudo.
Estávamos tão próximos que eu podia sentir a respiração dela. Instintivamente inclinei-me, meu olhar fixo nos lábios dela, enquanto ela permanecia imóvel, meu coração batendo acelerado.
No exato momento em que nossos lábios estavam prestes a se encontrar, uma voz infantil ecoou pela sala:
_Vovó! Vovô! Onde vocês estão?
Nos afastamos abruptamente, como se um feitiço tivesse sido quebrado. As bochechas dela coravam ligeiramente, enquanto Lucius limpava a garganta, tentando recuperar a compostura.
_Estamos aqui, Rose. –Respondeu Narcisa, sua voz um pouco mais alta do que o normal.
Rose entrou na sala correndo, os olhos brilhando de curiosidade.
_O que vocês estavam fazendo? –Indagou ela nos olhando desconfiado.
Tentei encontrar as palavras, mas me vi tropeçando nelas.
_Nós... estávamos apenas... conversando sobre alguns assuntos importantes. –Consegui dizer com dificuldade.
Narcisa, mais rápida em recuperar a calma, sorriu para nossa neta.
_Sim, querida. Apenas discutindo alguns detalhes sobre a nossa família. –Declarou minha esposa e Rose assentiu aceitando a resposta.
_Vovó, vovô, precisamos conversar. –Afirmou nossa neta com uma seriedade incomum para uma criança de sua idade.
Narcisa e eu trocamos olhares, surpresos com a urgência na voz de Rose.
_O que está acontecendo, Rose? –Perguntou Narcisa, preocupada com a expressão determinada da nossa neta.
_É sobre os elfos domésticos. –Começou Rose, sua voz firme –Eu tenho lido sobre eles e descobri que não é certo mantê-los escravizados assim. Eles merecem ser livres.
Narcisa me fitou surpresa, mas pensando bem não há motivos para isso, pois nossa pequena Rose é filha de Hermione Granger e herdou toda a sua determinação.
_Rose, querida, é importante entender que a relação entre bruxos e elfos é... complicada. –Começou Narcisa, tentando explicar delicadamente a situação –Eles têm servido nossas famílias por gerações e...
Mas Rose a interrompeu, sua determinação inabalável.
_Mas isso não significa que esteja certo. –Insistiu ela –Eles merecem respeito e liberdade, não servidão.
Inevitavelmente Narcisa e eu mais uma vez trocamos olhares, impressionados com a compaixão e a coragem de Rose.
Ademais, em seus olhos azuis eu vi que Narcisa já não sabia mais como conduzir aquela situação.
Por isso, depois de um momento de silêncio tenso, suspirei, resignado.
_Muito bem, Rose. –Disse soando firme, talvez seja hora de começar efetivamente as mudanças nesta família –Vamos libertar os elfos domésticos.
Rose exclamou em alegria e instantaneamente Narcisa me fitou, visivelmente surpresa com minha decisão.
Horas após assistir Rose e Scorpius correndo atrás de alguns elfos e lhes entregar meias e consolar as pobres criaturas que eles não precisavam deixar o local e poderiam receber por isso, finalmente Narcisa e eu tivemos um momento a sós depois das crianças dormiram.
Na calma da noite, nós dois nos encontrávamos mais uma vez no sofá na sala de estar, assim como nesta manhã, mas agora com o ambiente iluminado apenas pelo bruxuleio das velas. O ambiente estava impregnado de uma atmosfera tranquila e íntima, enquanto desfrutávamos de um momento de paz depois do agito do dia.
Entre goles de vinho, Narcisa me fitou com um sorriso suave, seus olhos brilhando com uma mistura de ternura e nostalgia.
_Sabe, Lucius. –Começou ela, sua voz suave no silêncio da sala –Rose tem você enrolado em seu dedinho. Você nem percebe.
Eu ri, balançando a cabeça em concordância.
_Você está certa, meu amor. –Admiti não escondendo a diversão –Ela é uma Malfoy, afinal de contas. É notável que as mulheres Malfoy sabem dobrar os outros a sua vontade.
Narcisa sorriu, se era apreciando o calor reconfortante da conversa ou da companhia eu não sei. Mas, em meio àquele momento de proximidade, algo mudou no ar ao nosso redor.
Nossos olhares se encontraram, uma eletricidade sutil passando entre eles enquanto ficavam mais próximos.
Mais uma vez me vi inclinou levemente em direção a Narcisa, sua expressão séria quando nossos rostos ficaram perigosamente próximos.
_Narcisa... –Comecei com a voz baixa e cheia de emoção –Eu gostaria muito de beijá-la.
Por um momento, o tempo parecia congelar enquanto nos encarávamos, ambos capturados pelo magnetismo do momento. Então, antes que algo mais pudesse acontecer, Narcisa se afastou suavemente, uma expressão de pesar em seu rosto.
_Lucius... –Murmurou ela incerta, sua voz tremendo ligeiramente –Eu... Eu acho que um único beijo não faria mal.
Meu coração acelerou ao ouvir suas palavras, a esperança crescendo dentro de mim. Lentamente, ela fechou os olhos e eu fiz o mesmo, inclinando-me mais perto até que nossos lábios finalmente se encontraram em um beijo suave e hesitante. Foi um beijo cheio de saudade, de arrependimento, mas também de uma promessa silenciosa de um novo começo.
Narcisa suspirou contra meus lábios, e eu a puxei mais para perto, sentindo seu corpo relaxar em meus braços. O beijo, inicialmente hesitante, tornou-se mais profundo, como se ambos estivéssemos tentando compensar os anos de distância e mágoas.
Quando nos separamos, nossos olhos se encontraram novamente, agora cheios de uma nova compreensão e um sentimento de renovação. Eu acariciei seu rosto com carinho, os olhos brilhando com emoções que eu não conseguia esconder.
Enquanto fitava fixamente seus olhos azuis, me vi confessando:
_Narcisa... Se eu soubesse o que sei hoje, jamais teria tomado aquelas decisões impensadas em relação a Draco.
Notei que ela estava prestes a dizer algo, mas pressionei meu polegar em seus lábios enquanto dizia:
_Eu sinto falta dele, minha flor. Cada vez que olho para você, para os nossos netos... Draco está sempre presente em meus pensamentos.
Minhas palavras ecoaram no silêncio da sala, carregadas de arrependimento e dor.
Ela colocou gentilmente a mão sobre aquela que eu mantinha em seu rosto, um gesto de conforto e solidariedade.
_Eu sei, Lucius. –Respondeu ela suavemente para minha surpresa, sua voz suave e reconfortante –Nós todos sentimos sua falta.
Fitando seus olhos, vi gratidão e tristeza se entrelaçando em seu olhar.
_Obrigado, Narcisa. –Sussurrei com a voz embargada pela emoção –Por estar aqui, por ser a força que precisamos.
Ela apertou minha mão com ternura, um gesto de apoio silencioso em meio às palavras não ditas e então me surpreendeu ao me abraçar.
Em seu abraço silencioso, encontrei consolo, compartilhando o peso de nossas lamentações e arrependimentos com a única pessoa no mundo que podia me compreender, minha esposa, minha amiga, minha outra metade, enfim minha Narcisa.