Fantasmas

Harry Potter - J. K. Rowling
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Fantasmas
Summary
Em "Fantasmas", o destino tece uma trama intricada que une Narcisa e Lucius Malfoy em uma jornada de redenção, perdão e amor incondicional.Após uma década de separação, Narcisa e Lucius Malfoy são obrigados a se reunir em razão da morte trágica de seu filho Draco, renegado herdeiro da família, e de sua nora Hermione, quem Lucius nunca aceitou.O reencontro traz à tona emoções enterradas e segredos guardados, pois ao escolher o filho sobre o próprio marido, Narcisa selou o divórcio não oficial com o marido.Agora, forçados a encarar a realidade que o filho um dia tão esperado faleceu precocemente Lucius e Narcisa confrontam não apenas suas diferenças passadas, mas também os fantasmas do presente. Enquanto lutam para reconciliar o passado e enfrentar os desafios do presente, descobrem que o amor que um dia compartilham ainda queima tão forte quanto antes.Entre as tensões familiares e as memórias de um passado doloroso, Narcisa e Lucius encontram uma segunda chance para reconstruir sua família dilacerada. Afinal “En esta casa no existen fantasmas, Son puros recuerdos de tiempos ajenos”
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Capítulo III

En esta casa no existen fantasmas

Son puros recuerdos

De tiempos ajenos

De buenos momentos

 

 

Estava imerso em meus pensamentos no escritório da mansão, revisando alguns documentos importantes do Ministério, quando um elfo doméstico surgiu no cômodo.

_Mestre, a senhora Andrômeda Tonks está aqui. –A pequena criatura informou com uma expressão que denotava certo espanto.

Ergui a sobrancelha diante da surpresa, pois não via Andrômeda desde nossos tempos em Hogwarts, por isso me vi repetindo:

_Andrômeda? Você tem certeza?

O elfo assentiu, antes de se retirar do escritório, permitindo que eu decidisse como proceder, pois não tenho assuntos para tratar com ela.

No entanto, é sem dúvidas, intrigante que a irmã de minha esposa, pois mesmo que Narcisa insista em viver longe de mim, ainda somos casados perante a sociedade bruxa.

Acredito que teorizar as razões que trazem minha cunhada até a mansão é irrelevante quando posso descobrir por mim mesmo. Afinal, não há sentido em prolongar o mistério.

Por isso, levanto-me de minha confortável poltrona, ajusto a postura e sigo em direção à entrada, ansioso para descobrir o motivo da visita da Black renegada.

Desci as escadas com uma curiosidade latente, ansioso para descobrir o que traz a reclusa Andrômeda até minha casa. Quando alcanço o hall de entrada e meus olhos encontram seus olhos castanhos, uma anomalia na família Black, não pude deixar de notar como o tempo havia deixado sua marca nela, mas também como a beleza característica das mulheres de sua família ainda brilhava em seus traços.

Andrômeda ainda mantinha uma figura imponente, sua postura ereta e seu olhar firme revelavam que minha presença não a intimidava. Seus cabelos castanhos tinha os cachos em ordem e linhas de sabedoria adornavam seu rosto, mas havia uma serenidade em seus olhos que era inegavelmente bela.

Dito isso, é impossível não notar a semelhança entre Andrômeda e minha Narcisa, embora de maneira diferente. Enquanto Narcisa era como uma obra de arte refinada, exalando elegância e sofisticação, Andrômeda possuía uma aura mais austera, uma beleza marcada pela resiliência e pela determinação e longe da beleza selvagem que um dia Belatrix foi.

_O que você está fazendo aqui? –Perguntei com a voz carregada de desdém, pois quaisquer reminiscências dos meus laços com os Black foram cortadas no dia em que Narcisa me deixou.

Noto ela respirar fundo antes de responder:

_Preciso falar com você sobre Draco.

Tão inusitada quanto a visita da filha desgarrada de Cygnus Black, o assunto da conversa não deixa de me surpreender, abalando assim minha máscara de indiferença mesmo que por poucos segundos.

_Ele está morto. –Disse Andrômeda, sua voz tremendo ligeiramente, para minha surpresa absoluta –Houve um acidente, enquanto ele e Hermione trabalhavam... nenhum dos dois sobreviveu.

Ainda me lembro do dia em que Draco escolheu aquela sangue-ruim ao invés de nossa família, assim como me lembro do dia que eu o deserdei e Narcisa me deixou sem pensar duas vezes.

Não posso dizer que me arrependo do que fiz, então tudo o que fiz teria sido em vão, mas saber que Draco, meu único filho, uma parte tanto minha quanto de Narcisa, havia morrido me fez faltar o ar.

Uma coisa era ele ter escolhido contrariar minha opinião e se rebelar por uma década, outra era saber que ele jamais cruzaria aquela porta me pedindo desculpas. Porque o que me ajudou a enfrentar a solidão nesse mausoléu foi a certeza que um dia meu filho passaria por aquela porta e, eu tinha certeza que Narcisa o seguiria.

No entanto, esse era um desdobramento pelo qual não esperava, por isso assenti, tentando manter a compostura, e disse na tentativa de que minha voz não falhasse:

_Obrigado por me informar. Agora, se me der licença...

_As crianças estão com Narcisa.

_Crianças? –Indaguei novamente surpreso.

_Rose tem oito anos, e Scorpius três. –Respondeu Andrômeda, com os olhos fixos no meu e então se virou para partir.

No entanto, eu não poderia deixá-la ir embora sem antes saber:

_Narcisa... como está ela?

Instantaneamente me fitou e eu podia ver em seus olhos cor de mel que ela julgava se eu era digno de tal informação e isso fez meu sangue ferver.

_Ela está devastada. –Respondeu sem me surpreender pelo fato dela ter mantido sua sinceridade característica da juventude – Ela e os netos precisam de você.

_Eles não precisam de mim, Draco e Narcisa deixaram isso bem claro anos atrás. –Declarei sem emoção. 

_Isso não importa. –Retrucou Andrômeda, sua voz tingida de indignação –Narcisa está sofrendo, e os netos precisam do avô deles. É hora de você agir como um homem de verdade, Lucius. Deixe de lado suas diferenças e esteja lá por sua família quando eles mais precisarem.

Inacreditavelmente, Andrômeda me deixou sem palavras e eu não tive argumentos para retrucá-la, mas isso não impediu que meu olhar cruzasse o seu em um confronto silencioso de vontades.

_Adeus, Lucius. –Ela disse quebrando o silêncio que se instaurou e partiu, deixando-me sozinho com meus pensamentos tumultuados.

Sem forças para respondê-la, observei a mulher que assustadoramente me fazia recordar a infame Bellatrix Lestrage, ao menos até que me vi mergulhando em lembranças dos primeiros anos com Narcisa, quando o amor florescia entre nós, antes das divergências políticas e das escolhas que os separaram. Recordei-me da alegria que Draco trouxe para suas vidas, do orgulho que sentia por seu filho, mesmo que as circunstâncias os afastassem.

É então que sinto algo molhar minha face e ao levar a mão ao rosto percebo que estou chorando. Quem poderia dizer que o frio Lucius Malfoy fosse capaz de sofrer pelas escolhas que fez e as consequências que agora enfrenta.

Engolindo em seco, dirijo-me até a janela e observo o jardim que um dia foi tão glorioso e hoje se encontra em ruínas, nem mesmo os pavões se dignificaram a permanecer após a ausência da senhora e do herdeiro desta propriedade. 

Isso me fez pensar cada vez mais em Draco, que eu insisti em ignorar a existência nos últimos anos a ponto de não saber que ele tinha tido seus próprios filhos. Crianças mestiças, mas que ainda assim carregam sangue Malfoy, o único sangue Malfoy remanescente nesse mundo esquecido pelos deuses.

Definitivamente eu preciso fazer algo, apenas tenho que descobrir o que.

E foi com esse pensamento me atormentando por dias, que acabei parado diante de uma modesta casa no interior da França, inevitavelmente eu bufei em descrença. Afinal como Draco pode ter trocado uma residência imponente e luxuosa por esse lugar simples e humilde, completamente sem graça e de péssimo gosto arquitetônico?

Balancei a cabeça na tentativa de me livrar de tal pensamento, e isso me fez perceber que o sol começava a se pôr sobre este pitoresco local, fazendo com que eu me questionasse se deveria entrar ou esperar outra oportunidade para encontrar Narcisa e os filhos de Draco.

_Madame Malfoy e as crianças saíram para passear há algumas horas. –Fui surpreendido por uma voz baixa e logo me vi encarando uma senhora de cabelos grisalhos enrolados em um coque, cujo rosto se mantinha uma expressão sombria –É tão triste o que aconteceu com os pais dessas pobres crianças.

Assenti distraidamente, pois as palavras desta desconhecida me fizeram perceber que eu poderia pensar o que quisesse das escolhas de Draco, mas eu não o encontraria no interior daquela residência para criticá-lo ou aconselhá-lo, encontraria apenas a bruxa que já foi tudo para mim e duas crianças que provavelmente nem sabiam sobre mim.

A magnitude de tal pensamento foi o suficiente para fazer com que eu recuasse, porém, ao me virar foi surpreendido por uma visão inesperada. Uma figura familiar surgiu ao virar da esquina, seus cabelos loiros reluzindo ao sol da tarde e pode ter se passado mais de uma década, mas eu reconheceria minha Narcisa em qualquer lugar. Ela estava acompanhada por uma menina, Rose, que segurava firmemente sua mão, e um garotinho, que parecia Draco, descansando em seus braços.

Fiquei momentaneamente paralisado, eu, que já vi de tudo nessa humilde existência, vi incapaz de processar a cena que se desenrolava diante de mim. Narcisa, minha Narcisa, estava ali, em um lugar que eu nunca imaginara que ela pudesse frequentar, cuidando de seus netos com uma ternura que me deixou sem fôlego.

Embora não pensasse direito, minhas pernas agiram por conta própria e me vi aproximando lentamente dela, nossos olhares se chocaram como ímãs.

_Narcisa... –A chamei em um tom de voz não mais alto que um múrmuro e com mais clamor do que qualquer prece.

Narcisa Malfoy, nascida Black, após todos esses anos encontrava-se bem a minha frente. Apesar dos anos que haviam passado, ela ainda era uma visão de beleza intocável. Seus cabelos dourados brilhavam sob a luz do sol, mas seus olhos azuis, uma vez tão radiantes, agora pareciam sombrios.

Com pesar eu a vi me encarar com uma mistura de surpresa e cautela, seus olhos azuis brilhando com uma luz que eu não via há anos, receio.

A intensidade de seu olhar me fez desviar os olhos para a menina que agarrava sua mão. Rose, a primogênita de Draco, tinha os cabelos castanhos, rebeldes e cheios de cachos, dançando ao vento à medida que ela se aproximava, um lembrete vívido da mãe dela, Hermione.

No entanto, seus olhos... seus olhos eram uma reminiscência direta dos olhos Malfoy, uma herança genética que conectava diretamente a pequena Rose à linhagem Malfoy, assim como Draco e a mim mesmo.

Apesar de meus enormes esforços para manter uma distância emocional, não pude deixar de sentir meu coração se aquecer ao observá-la. Rose é a mistura perfeita dos traços físicos de Narcisa e dos atributos genéticos dos Malfoy, uma harmonia única que me vi fascinado.

Por mais que tentasse resistir, me vi irresistivelmente atraído pela presença encantadora de Rose. Contudo, sei que preciso ser cauteloso, mas isso não impediu meus olhos de vagarem para o menino que Narcisa carregava em seus braços.

Cada gesto, cada expressão, cada traço do rosto de Scorpius me faz lembrar de forma vívida o filho que perdi no momento em que o pressionei a escolher a herança Malfoy.

Os cabelos loiros, os mesmos olhos acinzentados, o porte altivo e determinado... Scorpius era uma imagem espelhada de Draco em sua juventude. Cada vez que ele sorria contra Narcisa, cada vez que seus olhos brilhavam com entusiasmo, senti uma pontada de dor no coração.

Com um suspiro pesaroso, desvio o olhar de Scorpius, pois meu coração torna-se pesado com a constatação de minhas falhas e arrependimentos.

Enfim, Narcisa colocou fim a distância, ao menos física, que nos separava com seus olhos azuis carregados de uma mistura de surpresa e cautela e

_Lucius... –Ela disse e meu nome soou como a mais doce das melodias, mesmo que eu pudesse distinguir uma nota de desconfiança em seu tom –O que você está fazendo aqui?

Sua indagação me fez vacilar por um momento, fazendo com que meus olhos se encontraram com os dela em um momento de silêncio tenso. Lutei para encontrar as palavras certas, minha mente de repente tornou-se turva com a incerteza sobre como explicar minha presença ali.

_Eu... –Comecei e me repreendi mentalmente por minha voz soar tão incerta enquanto eu gaguejava –Eu estava apenas...

Hesitei, minha mente correndo para encontrar uma desculpa plausível. Mas as palavras pareciam me escapar, minha maldita língua tropeçando em sua própria confusão.

Ainda assim, fui capaz de notar que Narcisa me observava atentamente, seus olhos azuis penetrantes sondando os meus em busca de respostas.

Finalmente, desviei o olhar, pois sabia que não podia esconder a verdade de Narcisa, mas também não sabia como explicar o que me trouxe aqui além de sua irmã renegada.

_Eu não sei. –Confessei antes que pudesse pensar em palavras melhores –Eu só... queria ver você, Narcisa. Ver como você estava.

Narcisa observou-me em silêncio por um momento, uma mistura de emoções passando por seus olhos azuis.

_Venha. –Disse ela suavemente para minha surpresa, seu tom contendo uma nota de vulnerabilidade –Vamos conversar.

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