
Na madrugada de 21 de outubro de 1962 a Inglaterra parou com a infeliz tragédia que afetou a família Black; Orion e Walburga Black estavam voltando de um baile de gala quando foram perseguidos por paparazzis, seu motorista, Monstro, tentou fazer uma curva para tentar despista-los, mas infelizmente acabou derrapando e capotando com o carro. O patriarca da família acabou morrendo na hora junto com seu motorista, sua esposa, no entanto, foi encaminhada para o hospital em uma ambulância, mas não resistiu. O casal deixa seus dois filhos, Sirius Black de cinco anos, e seu filho de dois meses com nome ainda desconhecido.
Alphard Black ficou com a guarda das crianças, sua irmã não confiava em ninguém mais para cuidar de seus filhos. A questão era como ele contaria ao seu sobrinho que seus pais não voltariam para casa, Sirius ainda era apenas uma criança e logo perderia um pouco de sua inocência com o peso da tristeza que cairia sobre ele. E Regulus? Ele era apenas um bebê, nunca conheceria o toque de sua mãe ou se lembraria de sua voz, o máximo que ele teria de seus pais seria uma foto. Alphard não conseguia lidar com a dor em seu coração.
Ele olhou seus sobrinhos dormindo um ao lado do outro na grande cama de sua irmã e se perguntou se ela quem havia os colocado para dormir, se sim, então como ele lidaria com o fato de que Sirius dormiu com a esperança de que sua mãe voltaria para casa para acorda-lo? Ele acabaria com aquela esperança. Não. Ele deixaria seu sobrinho com seus últimos momentos sem saber o que é a dor de perder os pais.
No momento, ele tomaria um gole de whisky e lamentaria sua irmã mais nova antes de ter que guardar suas emoções para cuidar de seus sobrinhos.
“Eu quero que aqueles malditos paparazzis percam tudo.” Cygnus murmurou baixinho com os olhos vidrados. Sua gravata estava desamarrada e seu cabelo bagunçado como se ele tivesse passado a mão desesperadamente, com a situação atual, isso provavelmente aconteceu.
“No momento tô mais focado em descobrir como contar ao filho dela que ele nunca mais verá sua mãe.” Isso chamou a atenção de Cygnus e ele o encarou sem expressão por um momento antes de suspirar. Por um momento Alphard pensou em suas sobrinhas, ele esperava que elas nunca tivessem que passar por algo assim. “E você não deveria estar com sua esposa e filhas? Soube que Narcisa está doente.”
Cygnus soltou uma risada sem humor e voltou a olhar para a parede como se fosse a coisa mais interessante do mundo. “Era apenas um resfriado, ela esta melhor agora.” Narcisa sempre ficava doente, assim como Regulus. Alphard se perguntava se era uma coisa de irmãos mais novos da família Black, eles eram tão frágeis, Apenas dois meses de diferença, Narcisa com quatro, e no entanto, um deles já enfrentava a morte dos pais. Algo tão pesado para uma criança carregar, mesmo que ainda não tivesse noção disso.
Alphard se lembrava do dia em que Regulus nasceu, ninguém esperava, foi tão cedo. Ele nasceu antes da hora e veio muito pequeno, Walburga passou semanas dormindo ao lado dele com medo de que se ela piscasse, ele simplesmente parasse de respirar. Todos na família temeram por um momento que ele não aguentasse, e que se isso acontecesse, Walburga finalmente perderia a cabeça. Alphard achava que não era um medo sem sentido, não depois de tantos bebês natimortos e abortos. Regulus foi simplesmente o único fio de esperança da sanidade de Walburga.
Um choro de bebê o tirou de seus devaneios e ele se levantou rapidamente esperando que isso não acordasse Sirius, mas é claro que isso era esperar demais, já que um irmão mais velho sempre sentirá quando seu irmão mais novo estiver sofrendo. Sirius já estava segurando o bebê perto de seu peito enquanto passava suavemente as mãos em suas costas.
“Está tudo bem?” Ele sorriu suavemente esquecendo por um momento o motivo de estar lá. Sirius olhou para cima assustado e franziu a testa confuso.
“Ele só está com fome. Ele irá se acalmar quando mamãe alimentá-lo.” Oh. Certo. Alphard sentiu seu sorriso falhar e seus olhos queimarem. “Onde ela está? Ela disse que já estaria aqui essa hora.” Ele perguntou sem olhar, seu olhar totalmente focado no bebê que não gritava mais, mas simplesmente balbuciava suavemente com as mãozinhas puxando o cabelo de seu irmão.
“Vamos deixar Regulus com tio Cygnus, sim? e depois vamos conversar. Tem algo que quero contar à você.” Sirius inclinou a cabeça em confusão, mas eventualmente acenou em confirmação. Alphard pegou o bebê Regulus nos braços cuidadosamente e estendeu a mão para Sirius acompanhá-lo.
Regulus balbuciou alegremente quando foi colocado nos braços de Cygnus, ele aparentemente adorava brincar com sua gravata e estrangular seu tio. Cygnus quase pareceu esquecer por um momento quando foi saudado por seu sobrinho mais novo, mas um olhar para Alphard e tudo voltou à tona. Ele olhou para Sirius que olhava para tudo com uma expressão confusa e acenou para Alphard como uma confirmação silenciosa de que cuidaria de Regulus.
Alphard precisou de todas as suas forças para que sua expressão continuasse suave e não desmoronasse quando encarou seu sobrinho. Ele o observou se sentar na poltrona da varanda e olhar em volta como se estivesse procurando algo.
“Então, quando meus pais vão voltar? Reggie vai voltar a chorar logo.” Alphard percebeu que ele parecia nervoso, ele não gostava de pensar em seu irmãozinho com fome.
“Preciso conversar algo com você, pequeno.” Ele começou suavemente e se aproximou segurando as mãos de Sirius nas suas, era uma situação complicada, seu sobrinho apenas o encarou sem expressão e Alphard lutou para pensar em como dar uma notícia dessas sem traumatizar uma criança. “O que você acha de ficar um tempo comigo?”
Sirius franziu a testa e sorriu. “Não posso, tio. Eu preciso ficar com Reggie, ele ainda é muito pequeno. Tenho que cuidar dele e ele precisa ficar com a mamãe, então não posso ficar com você.” Ah, seu sobrinho era tão educado. Seu coração está doendo.
Ele observou o garotinho com um sorriso suave no rosto. “Seus pais não estarão aqui por um tempo, Sirius.” Isso fez o sorriso de seu sobrinho diminuir para um hesitante.
“Como assim? Eles disseram que estariam em casa logo.” Alphard engoliu em seco e sentiu seus olhos queimarem. “Eles precisam voltar. Reggie está com fome e eu não consigo alimentá-lo sozinho.”
“Eu quero que você saiba que seus pais amaram muito vocês dois, e eles não escolheram isso.” Sirius puxou as mãos de volta para si e desviou os olhos na direção de onde Regulus estava como se quisesse correr até ele. “Eles voltariam se pudessem, mas eles não podem mais. Você entende o que quero dizer, Sirius?”
Ele negou com a cabeça e parecia em conflito entre olhar para a porta da varanda e olhar para seus olhos. “Eles não abandonariam Reggie e eu.” Sua voz saiu tão baixa que se Alphard não estivesse prestando atenção, provavelmente perderia.
“Eles não abandonaram vocês, pequeno. As vezes alguns acidentes acontecem e impedem as pessoas que amamos de voltarem para casa.”
Sua voz falhou na última frase. Os olhos de Sirius ficaram marejados e desfocados rapidamente, mas ele parecia querer se manter firme.
“Isso quer dizer que não vou mais ver a mamãe e o papai?” A voz saiu tão fraca e quebrada que Alphard amaldiçoou qualquer força maior que existisse por fazer seu sobrinho sofrer dessa forma.
“Não, querido. Sinto muito.” Sirius soluçou baixinho apertando as mãos com força, Alphard as segurou tentando evitar que ele se machucasse.
Sirius ficou chorando por um tempo antes de respirar fundo, colocar um olhar determinado no rosto e ajustar as costas. O Black mais velho se sentiu confuso por um tempo antes de perceber que ele estava tentando ser forte.
“Reggie precisa de mim agora. Somos apenas nós dois.” Ele falou fortemente se levantando e respirando fundo algumas vezes.
“Vocês sempre me terão.” Alphard colocou a mão no ombro de seu sobrinho e tentou sorrir para ele, mas Sirius não desviou os olhos da porta na direção em que seu irmão estava balbuciando. Ele caminhou sem esperar mais nada e estendeu os bracinhos para segurar Regulus, Cygnus o encarou com as sobrancelhas franzidas e Alphard apenas deu de ombros para ele e quando observava Sirius se sentar no sofá segurando seu irmão.
“Somos apenas nós dois agora, Reggie.” Ele sussurrou suavemente no ouvido de seu irmão. O bebê sem entender nada apenas enfiou seus dedinhos nos olhos dele e riu. “Eu prometo que vou cuidar de você.” Ele encostou a testa na de Regulus e fechou os olhos. “Seremos nós dois sempre. Eu nunca vou te abandonar.”
Cygnus saiu da sala com a mão pressionando a boca fortemente se impedindo de soltar um soluço e Alphard se sentou de frente para seus sobrinhos enquanto lágrimas fortes caiam silenciosamente de seus olhos.
Os dois em seu próprio mundinho nem sequer prestaram atenção ao seu tio que estava em seu próprio mundo cheio de lembranças de uma época em que ele segurava uma pequena Walburga nos braços.
Anos mais tarde, quando o jornal publicasse mais uma notícia sobre a família Black, agora com o Black mais jovem e seu marido James Potter, deixando sua Filha Cassiopeia. Alphard se perguntaria se ele estava certo em pensar que essa família tem tradições com irmãos mais novos. Ele só podia esperar que fosse apenas uma coincidência infeliz, e se não fosse, ele estava feliz por Cassiopeia ter sido filha única. Agora ele tomaria um whisky com seu sobrinho mais velho enquanto esperava ele criar coragem para destruir a inocência de outra criança Black com a notícia de seus pais.