Era um desses preguiçosos dias de verão quando Hermione se foi. A luz dançava através do vidro da janela, a mesma janela onde por horas ela se sentava sozinha, perdida em tantos mundos, tentando se encontrar e colocar em ordem o que estava em desordem dentro de si mesma.
Lembro do beijo, com aquele sabor do doce que minha mãe costumava fazer, aquele que grudava no céu da boca e demorava a sumir, um beijo repleto de saudade.
Como eu gostaria de ter roubado o fim para que ficássemos jovens para sempre com ela aqui. Segurei a mão dela até quando pude, o medo do futuro me fez agarrar cada segundo. Sua calma permitia a ela fazer o mesmo por mim. Ela foi sem alarde, não houve fanfarra, a luz continuou a brilhar e seus livros ainda na estante, o gorro azul, tricotado, na poltrona.
Tínhamos mudado demais, perdido demais. Não sabíamos ainda que duas metades vazias só podem formar um todo vazio e então descobrimos e não havia mais o que fazer.
Quando o mundo disse que eu não podia, ela me fez tentar; quando o mundo disse que eu não conseguia, ela me ajudou a mudar. Ela acreditava que eu poderia ser mais do que aquele garoto mesquinho e ciumento de anos atrás, que eu poderia ser melhor, e eu mudei, não pelo mundo, nem mesmo por mim , mudei por ela, porque ela acreditava em mim, mudei pelos motivos errados. Crescemos muito mas também rápido... rápido demais. Hogwarts só uma lembrança distante, quanto mais nos afastávamos, mais eu via que aquele espaço não bastava para ela, para mim. Meu egoísmo não era tão grande a ponto de não ver que quanto mais tentávamos, mais nos machucávamos.
Estava na hora de deixar meu orgulho de lado e aceitar. Ela estava cansada de correr e eu de fugir. Estávamos fadados mesmo antes de começarmos. Ao seu modo deixou claro antes de ir que, se pudesse, se não tivesse machucado tanto, teria ficado.