
10. O mapa do Maroto
10. O mapa do Maroto
O sol brilhava no céu azul, criando uma luz suave que banhava tudo ao seu redor em tons dourados. Teddy estava correndo pelo gramado verdejante, rindo e brincando, enquanto Remus observava com um sorriso amoroso no rosto. o som das ondas e o calor do sol o envolvendo
Sirius se via ao lado deles, participando das brincadeiras, sentindo-se parte de uma família verdadeira e feliz. Ele ouvia o som das risadas de Teddy ecoando pelo ar, enchendo seu coração de alegria e calor. Cada momento parecia perfeito, cada gesto de amor e carinho era como um bálsamo para sua alma ferida.
Enquanto o sonho avançava, Sirius via Teddy crescendo diante de seus olhos, tornando-se um jovem forte e corajoso. Remus estava ao lado dele, orientando-o e apoiando-o em cada passo do caminho. Eles compartilhavam momentos preciosos juntos, desde pequenos gestos de ternura até grandes aventuras pelo mundo mágico.
No entanto, à medida que o sonho se aproximava do fim, Sirius começou a sentir uma sensação de angústia se infiltrando em seu coração. Ele viu Teddy e Remus se afastando dele lentamente, seus sorrisos desaparecendo no horizonte distante. Uma escuridão começou a se espalhar pelo céu, obscurecendo a luz do sol e envolvendo tudo em sombras sombrias.
Sirius tentou alcançá-los, estendendo a mão na esperança de detê-los. Mas era tarde demais. Teddy e Remus desapareceram na escuridão, deixando Sirius sozinho no vazio silencioso. Ele gritou seus nomes, mas suas vozes se perderam no vazio, ecoando sem resposta.
Foi então que Sirius acordou, com o coração disparado e lágrimas escorrendo pelo rosto. Ele olhou ao redor da cabana, tentando recuperar o fôlego e entender o que havia acontecido. Foi então que ele viu Bichento, o gato que o estava fazendo companhia a alguns dias, deitado ao pé da cama, observando-o com seus olhos brilhantes. Ele se viu de volta à realidade sombria de sua cabana na floresta, com apenas Bichento ao seu lado, observando-o com curiosidade. O sonho havia mexido profundamente com ele, trazendo à tona emoções dolorosas e lembranças de um passado que ele desejava desesperadamente esquecer.
-eu tenho que encontrar esse rato logo, ele tem que pagar-
Madame Pomfrey insistiu em manter Harry na ala hospitalar pelo resto do fim de semana. Ele não discutiu, sabia que era inútil, mas também não conseguiu evitar o desânimo que o acompanhava.
Ainda assim, recusou-se a deixar que jogassem fora os estilhaços de sua Nimbus 2000. Sabia que não havia conserto, que era uma ideia tola, mas segurava os pedaços da vassoura como se fossem parte de algo maior, algo que ele não queria perder. Era mais do que madeira quebrada e cerdas despedaçadas. Era como perder um amigo, um pedaço de sua própria identidade.
Ao longo do fim de semana, uma procissão de amigos passou por seu leito, cada um tentando animá-lo à sua maneira. Fred e Jorge apareceram primeiro, com histórias exageradas sobre lances épicos de quadribol e ideias absurdas para vingança contra os dementadores.
Hagrid lhe mandou um buquê de flores com lagartinhas, que pareciam repolhos amarelos, e Gina Weasley, corando furiosamente, apareceu com um cartão de votos de saúde, feito por ela mesma, que cantava com voz esganiçada a não ser que Harry o guardasse fechado embaixo da fruteira.
O time da Grifinória tornou a visitar o companheiro no domingo de manhã, desta vez em companhia de Olivio, que declarou a Harry (numa voz de além-túmulo) que não o responsabilizava pela derrota.
Rony e Draco vieram logo depois — Rony reclamando sobre o comportamento de Percy e Draco insistindo para que Harry não se preocupasse com a vassoura e focasse na recuperação. Rony e Draco só deixavam a cabeceira de Harry à noite. Até Teddy passou por lá, trazendo consigo Castor, que mudou de cor várias vezes enquanto se acomodava no travesseiro de Harry.
Apesar das distrações, a perda da vassoura era um peso constante nos pensamentos de Harry, um lembrete silencioso e incômodo do que acontecera. Mas pior do que isso era a sensação esmagadora que os dementadores haviam trazido consigo—o frio cortante, a paralisia aterradora e, acima de tudo, o grito distante e desesperado que ecoava cada vez que eles se aproximavam.
Ele não conseguia tirar isso da cabeça.
Não contara a ninguém sobre o Sinistro. Nem a Rony, que certamente entraria em pânico e confirmaria seus piores medos, muito menos a Hermione, que provavelmente descartaria tudo como superstição e coincidência. Mas Harry não estava convencido. A criatura já aparecera duas vezes. Na primeira, quase fora atropelado pelo Nôitibus Andante. Na segunda, despencara de uma altura perigosa durante o jogo de quadribol. Poderia ser acaso... ou um aviso.
Será que aquilo significava que seu destino estava selado? Que passaria o resto da vida olhando por cima do ombro, esperando pelo momento em que a fera viria buscá-lo?
E havia os dementadores. Pensar neles fazia seu estômago revirar. Todos falavam sobre o quão assustadores eram, mas ninguém mais parecia desmaiar diante deles. Ninguém mais ouvia vozes do passado, ecos de uma tragédia que ele não lembrava ter vivido, mas que o assombrava mesmo assim.
Agora, ele sabia exatamente a quem pertencia aquela voz.
Passara noites em claro na ala hospitalar ouvindo-a repetidas vezes, mesmo quando fechava os olhos. O luar projetava sombras no teto, mas nada afastava o som da súplica desesperada de sua mãe. Quando os dementores se aproximavam, ele revivia os últimos momentos dela—o pedido implorando que Voldemort o poupasse, a risada fria e cruel do bruxo antes do feitiço final.
Quando finalmente conseguia dormir, seu sono era instável e perturbador. Sonhava com mãos pegajosas tentando agarrá-lo, sussurros ecoando ao seu redor, sombras que nunca se dissipavam.
E sempre que acordava, a voz de sua mãe ainda ressoava em sua mente.
Foi um alívio voltar à rotina agitada da escola na segunda-feira. Depois de um fim de semana arrastado, Harry sentiu-se grato pela movimentação nos corredores, pelas conversas apressadas entre os alunos e até mesmo pela pilha de deveres acumulados. Qualquer coisa era melhor do que ficar remoendo os acontecimentos dos últimos dias.
Mas, como sempre, a tranquilidade não duraria muito.
Pansy Parkinson estava radiante com a derrota da Grifinória no Quadribol. Passou o café da manhã inteiro fazendo imitações exageradas de Harry caindo da vassoura, rindo alto sempre que alguém da Sonserina incentivava a cena.
Draco, sentado ao lado de Harry, por melhor que estivesse seu bom humor naquele dia graças a retirada das bandagem, revirava os olhos a cada comentário dela.
— Pansy, já deu — ele disse, sem paciência.
— Ah, qual é, Draco — ela retrucou, sorrindo de lado. — Você sabe que é engraçado.
Draco lançou-lhe um olhar frio.
— Não, não é.
Pansy bufou, mas ainda assim continuou rindo para os outros alunos da mesa.
Na aula de Poções, a provocação ficou ainda pior. Parkinson começou a encenar ataques de dementadores no meio da masmorra, estremecendo dramaticamente e suspirando com teatralidade.
— Socorro, me protejam! — ela exclamava, fingindo-se fraca. — Acho que vou desmaiar!
Draco cruzou os braços e olhou diretamente para ela.
— Você devia se preocupar menos com Harry e mais com o que está no seu caldeirão, Pansy. Sua poção já está arruinada.
Ela revirou os olhos, mas parou com as imitações.
Harry lançou um olhar rápido para Draco, e o loiro apenas deu de ombros, como se dissesse não vou deixar que mexam com você.
Rony, no entanto, ainda estava irritado. Com um movimento rápido, pegou um enorme e gosmento coração de crocodilo do frasco mais próximo e o arremessou com força na direção de Pansy.
O impacto foi certeiro.
O líquido escuro espirrou nas vestes da garota, que soltou um grito de indignação. A sala inteira prendeu a respiração.
Então, como se tivesse aparecido do nada, Snape avançou pela sala.
— Cinquenta pontos a menos para a Grifinória — ele anunciou friamente, enquanto Pansy tentava limpar a sujeira de suas vestes.
Rony ficou vermelho de raiva, mas não protestou.
Depois do almoço, enquanto seguiam para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, Rony ainda resmungava.
— Se Snape der aula de Defesa de novo, eu juro que me mando.
Hermione lançou-lhe um olhar de advertência, mas antes que pudesse responder, Harry espiou pela porta da sala.
Ele soltou um suspiro de alívio.
— Tudo certo.
Lupin estava de volta.
O Prof. Lupin voltará ao trabalho. Sem dúvida tinha a aparência de quem estivera doente. Suas vestes velhas estavam mais frouxas e havia olheiras escuras sob seus olhos, ainda assim, ele sorriu para os garotos que ocupavam seus lugares na classe e, em seguida, desataram a se queixar do comportamento de Snape na ausência de Lupin.
- Não é justo, ele estava só substituindo o senhor, por que passou dever de casa?
-Não sabemos nada de lobisomens...
-... dois rolos de pergaminho!
- Vocês disseram ao Prof. Snape que ainda não estudamos lobisomens? -perguntou Lupin, franzindo ligeiramente a testa. A balbúrdia tornou a encher a sala.
-Dissemos, mas ele respondeu que estávamos muito atrasados...
- ele não quis ouvir...
-... dois rolos de pergaminho
O Prof Lupin sorriu ao ver a expressão indignada nos rostos dos alunos.
- Não se preocupem. Vou falar com o Prof. Snape. Não precisam fazer o que fez muitos alunos comemorarem em alívio
Tiveram uma aula muito gostosa. O Prof. Lupin trouxera uma casa vidro contendo um hinkypunk, uma criaturinha de uma perna só, que parecia feita de fiapos de fumaça, a aparência frágil e inofensiva.
- O hinkypunk atrai os viajantes para os brejos - informou o professor enquanto os garotos faziam anotações. - Vocês repararam na lanterna que ele traz pendurada na mão? Ele salta para a frente... a pessoa acompanha a luz… então…- A criatura fez um horrível barulho de sucção contra o vidro da caixa.
Quando a sineta tocou, todos guardaram o material e se dirigiram para a porta, Harry entre eles, mas...
- Espere um instante, Harry - chamou Lupin.- Gostaria de dar uma palavrinha com você.
Harry deu meia-volta e observou o professor cobrir a caixa do hinkypunk com um pano.
- Teddy me contou do que houve no jogo - disse Lupin, virando-se para sua escrivaninha e começando a guardar os livros na maleta - eu sinto muito pelo acidente com a sua vassoura. Há alguma possibilidade de consertá-la?
- Não - respondeu Harry - A árvore arrebentou-a em mil pedacinhos - Lupin suspirou.
- Plantaram o Salgueiro Lutador no ano em que cheguei em Hogwarts. Os alunos costumavam brincar de tentar se aproximar do tronco e tocar a árvore com a mão. No fim, um garoto chamado Davi Gudgeon quase perdeu um olho e fomos proibidos de chegar perto do salgueiro. Uma vassoura não teria a menor chance.
- O senhor soube dos dementadores também? -perguntou Harry com dificuldade.
Lupin lançou um olhar rápido a Harry.
- Soube. Acho que nenhum de nós tinha visto o Prof. Dumbledore tão aborrecido. Há algum tempo, eles estão ficando inquietos... furiosos com a recusa do diretor de deixar que entrem na propriedade... Suponho que tenham sido eles a razão da sua queda.
-Foram - Harry hesitou e, então, a pergunta que queria fazer escapou de sua boca antes que pudesse contê-la. - Por quê? Por que eles me afetam desse jeito? Será que sou apenas...?
- Não tem nada a ver com fraqueza - respondeu o professor depressa, como se tivesse lido o pensamento de Harry. Os dementadores afetam você pior do que os outros porque existem horrores no seu passado que não existem no dos outros.
Um raio de sol de inverno entrou na sala, iluminando os cabelos grisalhos de Lupin e os traços do seu rosto jovem.
-Os dementadores estão entre as criaturas mais malignas que vagam pela Terra. Infestam os lugares mais escuros e imundos, se comprazem com a decomposição e o desespero, esgotam a paz, a esperança e a felicidade do ar à sua volta. Até os trouxas sentem a presença deles, embora não possam vê-los. Chegue muito perto de um dementador e todo bom sentimento, toda lembrança feliz serão sugados de você. Se puder, o dementador se alimentará de você o tempo suficiente para transformá-lo em um semelhante... desalmado e mau. Não deixará nada em você, exceto as piores experiências de sua vida. E o pior que aconteceu com você, Harry, é suficiente para fazer qualquer um cair da vassoura. Você não tem do que se envergonhar.
- Quando eles chegam perto de mim... Harry fixou o olhar na mesa de Lupin, sentindo um nó na garganta, ouço Voldemort assassinando minha mãe.
Lupin fez um movimento repentino com o braço como se fosse segurar o ombro de Harry, mas pensou melhor. Houve um momento de silêncio de depois..
-Por que é que eles tinham que ir ao jogo? exclamou o garoto amargurado
- Estão ficando famintos - disse Lupin tranquilamente, fechando a maleta com um estalo. - Dumbledore não permite que eles entrem na escola, então o suprimento de gente com que contavam secou... Acho que eles não conseguiram resistir à multidão em torno do campo de quadribol. Toda a excitação... as emoções exacerbadas... é a ideia que fazem de um banquete.
-Azkaban deve ser horrível - murmurou Harry. Lupin concordou, sério.
-A fortaleza foi construída em uma ilhota, bem longe da costa, mas não precisam de paredes nem de água para manter os prisioneiros confinados, não quando eles já estão presos dentro da própria cabeça, incapazes de um único pensamento agradável. A maioria enlouquece em poucas semanas.
-Mas Sirius Black escapou - comentou Harry lentamente - Fugiu…
A maleta de Lupin escorregou da escrivaninha, ele teve que se abaixar depressa para apanha-lá no ar.
-É - disse se ajeitando - Black deve ter encontrado alguma maneira de combatê-los. Eu não teria acreditado que isso fosse possível…Dizem que os dementadores esgotam os poderes de um bruxo que conviver um tempo demasiado longo com eles…
-O Senhor fez aquele dementador no trem recuar-disse Harry de repente
-Há certas defesas que se pode usar - disse Lupin - Mas no trem havia apenas um dementador. Quanto maior o número, mais difícil resistir a eles.
-Que defesas? - perguntou Harry em seguida - O senhor pode me ensinar?
-Não tenho a pretensão de ser um especialista no combate a dementadores, Harry muito ao contrário
-Mas se os dementadores forem a outro jogo de quadribol, preciso saber lutar contra eles.
Lupin avaliou o rosto decidido de Harry, hesitou, depois disse:
-Bem… está bem. Vou tentar ajudar mas receio que você terá de esperar até o próximo trimestre Tenho muito que fazer antes das férias. Escolhi uma hora muito inconveniente para adoecer. Vocês crianças ainda vão ser minha morte.
Com a promessa de receber aulas anti-dementadores de Lupin, o pensamento de que talvez não precisasse mais ouvir a morte da mãe, e o fato de que Corvinal esmagará Lufa-Lufa na partida de quadribol no final de novembro o ânimo de Harry deu uma guinada definitiva para cima. Afinal, Grifinória ainda não foi eliminada da competição, embora o time não pudesse se dar ao luxo de perder mais uma partida. Olívio tornou a ficar possuído por uma energia obsessiva, e treinou com o time com mais empenho que nunca, na chuvinha gélida e nevoenta que persistiu até dezembro. Harry não viu nem sinal de dementador nos terrenos da escola. A fúria de Dumbledore parecia ter
funcionado para mantê-los em seus postos nas entradas.
Duas semanas antes do fim do trimestre, o céu clareou de repente até atingir um branco leitoso e ofuscante, e os terrenos enlameados da escola amanheceram, certo dia, cobertos de cintilante geada. No interior do castelo, havia um rebuliço de Natal no ar. Flitwick, o professor de Feitiços, já enfeitara sua sala de aula com luzes pisca-piscas que, quando foram ver, eram fadinhas voadoras de verdade. Os alunos estavam satisfeitos discutindo planos para as férias de Natal. Tanto Rony quanto Draco haviam decidido permanecer em Hogwarts e, embora Rony dissesse que era porque não ia conseguir aturar Percy duas semanas, e Draco insistisse que precisava consultar a biblioteca, Harry não se deixou enganar; sabia que era para lhe fazerem companhia e se sentiu muito
grato. Para alegria de todos, exceto Harry, houve mais uma visita a Hogsmeade no último fim de semana do trimestre.
A neve começara a cair lentamente sobre Hogwarts, cobrindo os terrenos com um fino manto branco. Do lado de dentro do castelo, o clima era mais quente, mas o silêncio dos corredores fazia tudo parecer ainda mais frio.
Harry andava sozinho pelos corredores do terceiro andar, as mãos enterradas nos bolsos do casaco. Era um dos poucos alunos que não tinham ido a Hogsmeade naquela manhã, e, para ser sincero, ele nem estava tão incomodado com isso—ou, pelo menos, era o que tentava convencer a si mesmo.
Ele suspirou, preparando-se para voltar à Torre da Grifinoria, quando uma voz familiar o chamou, baixa e furtiva:
— Psiu… Harry!
Ele virou-se rapidamente e encontrou dois rostos conhecidos espiando-o por trás de uma estátua desgastada de uma bruxa corcunda.
— O que vocês estão fazendo aqui? — sussurrou, franzindo a testa. — Vocês não deviam estar em Hogsmeade?
— Viemos salvar seu dia — um deles respondeu com um sorriso travesso. — Venha cá…
Harry hesitou, mas acabou seguindo-os para uma sala vazia próxima dali. Assim que a porta se fechou, um deles puxou um pedaço de pergaminho velho e muito gasto de dentro da capa e o colocou sobre uma das carteiras.
— Presente de Natal adiantado para você.
Harry lançou um olhar desconfiado para o pergaminho. Não havia nada escrito ali, apenas um pedaço de papel envelhecido.
— E o que é isso? — perguntou, cruzando os braços.
— Ah, Harry… — O garoto colocou uma mão dramática sobre o peito. — Isso aqui, meu caro, é o segredo do nosso sucesso.
— Sucesso?
— Nosso mapa.
O outro puxou a varinha e tocou o pergaminho, murmurando:
— “Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom.”
No mesmo instante, linhas finas de tinta começaram a se espalhar pelo pergaminho, desenhando o que parecia ser um mapa extremamente detalhado do castelo de Hogwarts. Harry se aproximou, arregalando os olhos ao ver pequenos pontos de tinta se movendo pelos corredores, cada um identificado com um nome.
— É um mapa? — murmurou, fascinado.
— O mapa. — O sorriso do garoto ficou ainda maior. — Mostra o castelo inteiro. Cada passagem secreta, cada pessoa andando pelos corredores…
Harry acompanhou com o dedo algumas das passagens desenhadas ali. Algumas ele já conhecia, mas outras pareciam levar para lugares que ele nunca tinha imaginado.
— Isso é… incrível.
— Sim, e agora é seu.
Harry ergueu os olhos, desconfiado.
— Por quê?
— Porque você precisa mais do que nós. E porque já sabemos de cor.
Ele hesitou, ainda tentando entender se aquilo era um tipo de pegadinha, mas no fundo, algo dentro dele dizia que aquele pergaminho poderia ser mais útil do que imaginava.
— E como eu apago?
— Simples. — Um deles tocou o pergaminho novamente e murmurou:
— “Malfeito feito.”
Na mesma hora, as linhas desapareceram, voltando a ser apenas um pedaço de pergaminho velho.
— E agora, jovem Harry — disse um dos garotos, imitando um tom professoral —, vá e não se meta em encrenca… ou pelo menos, não nos envolva nela.
Eles riram e saíram, deixando Harry sozinho com o mapa. Ele o segurou por um momento, indeciso, antes de finalmente dobrá-lo e guardá-lo no bolso interno da capa.
Algo lhe dizia que aquilo seria útil muito em breve.
A tarde de inverno avançava lentamente em Hogwarts, e a sala de Remus estava mergulhada em um silêncio confortável, apenas interrompido pelo som ocasional de penas riscando pergaminhos e do vento assobiando contra as janelas.
Remus estava na sala dos professores, ocupado corrigindo redações, e tinha deixado Teddy à vontade para explorar os livros e papéis que guardava em sua sala. Não era a primeira vez que o garoto ficava ali sozinho, mas algo naquela tarde parecia diferente.
Teddy estava determinado a encontrar uma edição antiga de Os Mistérios das Plantas Mágicas, que sabia estar escondida em algum lugar naquela desordem organizada. Remus sempre fora meticuloso com algumas coisas, mas bagunçado o suficiente com outras para que um livro pudesse simplesmente desaparecer no meio das prateleiras e gavetas abarrotadas.
Foi assim que ele encontrou o álbum.
O couro da capa estava desgastado, as bordas marcadas pelo tempo. Era um objeto antigo, bem cuidado, mas claramente revisitado mais vezes do que qualquer outro naquela sala. Teddy hesitou por um instante antes de abrir.
As primeiras fotos não eram muito surpreendentes. Ele reconheceu seu pai, muito mais jovem, ao lado de James Potter, Lily, Peter Pettigrew e Sirius Black. As imagens tremeluziam, os sorrisos e brincadeiras congelados no tempo. O grupo parecia próximo, inseparável.
Mas foi quando virou mais algumas páginas que algo inesperado apareceu.
Escondida entre duas folhas do álbum, havia uma carta dobrada. Teddy franziu a testa, pegando-a com cuidado. O papel estava amarelado pelo tempo, a tinta ligeiramente desbotada, mas ainda legível.
Ele desdobrou devagar, sentindo um nervosismo estranho crescer dentro de si.
A caligrafia era fluida, mas levemente apressada, como se as palavras tivessem sido escritas em um momento de urgência.
Ele começou a ler.
Moony,
Eu não sei o que vai acontecer amanhã. A guerra está nos devorando e, honestamente, estou com medo. Mas, se algo der errado, quero que você saiba que você foi o melhor de todos nós.
Obrigado por nunca desistir de mim, mesmo quando eu fui a pior versão de mim mesmo. Se eu sair dessa, prometo que vou compensar tudo. Se eu não sair... bem, você sabe o que eu sinto.
Eu só espero que, de alguma forma, você encontre felicidade.
Com amor,
Padfoot
O ar parecia mais pesado de repente.
Teddy sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele sabia que Padfoot era Sirius, e que Moony era o apelido que seus amigos usavam para Remus. Mas a carta…
A carta era diferente.
Havia algo nela que ia além de amizade, algo que Teddy não sabia como nomear.
Ele passou os dedos pelo papel com cuidado, como se tocá-lo com muita força pudesse apagar as palavras ali escritas. Olhou de volta para o álbum e, ao virar mais uma página, encontrou a foto.
Sirius e Remus, muito jovens, talvez no início dos vinte anos.
Sirius estava com sua jaqueta habitual, o sorriso cafajeste de sempre no rosto, os cabelos caindo em ondas ao redor do rosto. Remus estava ao lado dele, um meio sorriso contido, mas havia algo no jeito como Sirius o segurava, um braço jogado de forma casual—e ao mesmo tempo possessiva—sobre os ombros dele.
Teddy demorou um momento para perceber.
Os anéis.
Nos dedos de ambos, duas alianças idênticas brilhavam à luz da fotografia.
Ele piscou, sentindo o coração acelerar.
Isso… isso não fazia sentido.
A mão de Teddy tremeu levemente ao recolocar a carta no álbum e fechá-lo com um baque surdo. Sua mente fervilhava com perguntas, mas nenhuma resposta parecia ao alcance.
Sirius Black.
O melhor amigo do seu pai.
Ou… mais do que isso?
Teddy não sabia o que fazer com aquela informação.
Parte dele queria ignorar, fingir que nunca tinha visto aquilo. Mas a outra… a outra sentia que aquilo era grande demais para ser esquecido.
Seu pai nunca mencionava Sirius além do que era necessário. Sempre que falava sobre os Marotos, mantinha um tom neutro, uma barreira que Teddy agora percebia que nunca havia questionado antes.
Mas agora ele tinha uma carta e uma foto que diziam muito mais do que qualquer resposta evasiva que já tinha recebido.
Respirando fundo, Teddy deslizou a foto e a carta de volta ao álbum e fechou os olhos por um instante, tentando organizar seus pensamentos.
Se tinha uma coisa que ele sabia, era que não poderia simplesmente fingir que não havia encontrado aquilo.
Ele precisava perguntar.
Mas primeiro, precisava decidir como.
A sala de Poções estava quente e abafada, com o som dos caldeirões borbulhando e estalando, criando um ambiente quase sufocante. O professor Snape, com seu olhar severo, caminhava lentamente entre as mesas, observando os alunos em silêncio. Teddy estava sentado sozinho no fundo da sala, mexendo distraidamente sua poção, mas sua mente estava muito longe dali. Ele não conseguia parar de pensar em Sirius e no que poderia fazer para ajudá-lo.
À sua frente, outros alunos discutiam a lição, mas Teddy mal conseguia ouvir. Seus pensamentos voltavam constantemente para as palavras de Sirius sobre Rabicho. Como ele poderia capturar o traidor sem levantar suspeitas? E o mais importante, como poderia fazer isso sem envolver ninguém que pudesse colocar Sirius em perigo?
Snape parou ao lado da mesa de Teddy, seus olhos afiados fixando-se na poção que borbulhava de maneira irregular.
— Senhor Lupin., — disse Snape, com sua voz arrastada e fria. — Parece que sua mente está em outro lugar. Sugiro que a recupere antes que sua poção vire uma catástrofe.
Teddy olhou para a poção, agora um verde acinzentado, longe da cor que deveria estar. Ele corou, tentando se concentrar de volta na aula.
— Desculpe, professor. Vou arrumar — murmurou rapidamente, mexendo a poção com mais cuidado.
Snape, sem perder o ar de superioridade, continuou a observá-lo por mais alguns segundos antes de seguir para a próxima mesa. Teddy soltou um suspiro de alívio, mas sua mente logo voltou a divagar.
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Assim que a aula terminou, Teddy estava pronto para sair o mais rápido possível. Ele jogou seus materiais de volta na mochila e saiu da sala, evitando os olhares dos colegas. No corredor, sua cabeça ainda girava cheia de pensamentos, mas eles não estavam focados no que acontecera na aula.
O som dos passos ecoava pelos corredores de pedra de Hogwarts enquanto Teddy tentava manter o ritmo acelerado. O silêncio pesado da aula de Poções ainda parecia ecoar em sua mente, mas ele não conseguia focar no que fora ensinado. Sua mochila pendia de um ombro, o tecido gasto de tanto uso. Ele desviava dos alunos que se espalhavam pelo corredor, tentando não fazer contato visual com ninguém.
A imagem do chalé na França piscava em sua mente, um refúgio distante. Ele quase podia sentir o cheiro do mar e ouvir o ranger das velhas janelas quando o vento batia forte. Era sempre assim que ele se acalmava, voltando para as lembranças da infância. Ele e Remus sentados no sofá pequeno e desgastado, chocolate quente em mãos, enquanto o pai falava com aquele tom calmo e firme sobre tempos passados. Era um conforto que Hogwarts, com toda a sua grandiosidade, não conseguia reproduzir.
Mas agora, Teddy tinha que lidar com mais do que provas e quadribol. Ele estava sufocado pelas responsabilidades, pelo peso de algo que ninguém sabia — algo que ele mantinha trancado dentro de si. Mesmo com Remus por perto, a presença do pai não era suficiente para aliviar a pressão.
Ele entrou na Sala Comunal da Lufa-Lufa, um espaço acolhedor, cheio de almofadas e tapetes que abafavam o som de qualquer conversa alta. Mas ele não ficou ali por muito tempo. Subiu direto para o dormitório, largando a mochila ao lado da cama. Castor, seu camaleão azul, espiava de dentro de uma pequena caixa de vidro no canto do quarto, observando Teddy com olhos que se moviam independentes.
— Você tem sorte, sabia? — Teddy disse com um meio sorriso, se aproximando. — Sua maior preocupação é mudar de cor e encontrar o canto mais quente.
Castor piscou devagar, como se entendesse.
O dia seguinte amanheceu frio, com uma neblina densa cobrindo o terreno em torno do castelo. Durante o café da manhã, Teddy quase não tocou na comida. Sua mente vagava, alternando entre estratégias para resolver sua missão e a saudade que sentia de tempos mais simples.
Remus percebeu o comportamento do filho. Ele observava Teddy de longe, os olhos calmos, mas cheios de preocupação. Após o café, Remus o chamou para uma conversa em seu escritório.
Teddy entrou no pequeno espaço, sentindo o aroma familiar de chá e pergaminhos antigos. Remus estava de pé, mexendo em um bule de chá, mas virou-se quando ouviu o som da porta se fechando.
— Você parece distante, filhote. — A voz de Remus era tranquila, mas firme. — Quer me contar o que está acontecendo?
Teddy hesitou. Ele sabia que deveria contar algo ao pai, mas não conseguia revelar tudo.
— Só as aulas, pai. Tem sido muito... intenso.
Remus estreitou os olhos, estudando Teddy por um momento antes de puxar uma cadeira e sentar-se. Ele gesticulou para Teddy se juntar a ele no sofá, onde já estavam dispostas duas canecas de chocolate quente.
— Isso aqui não é só pelas aulas, Teddy. — Remus disse, passando uma das canecas para ele. — Eu conheço esse olhar. Você está carregando algo.
Teddy segurou a caneca entre as mãos, sentindo o calor se espalhar por seus dedos. Ele queria falar, queria soltar tudo de uma vez, mas as palavras pareciam presas na garganta.
Remus esperou. Ele sempre esperava.
O silêncio se arrastou por um longo momento antes de Teddy finalmente soltar um suspiro, baixando os olhos para a superfície do chocolate quente.
— Pai… o que você pode me contar sobre Sirius Black?
Remus piscou, a pergunta o pegando de surpresa. Não era algo que ele esperava ouvir assim, sem aviso, em uma manhã qualquer.
Ele colocou a caneca sobre a mesa e inclinou-se um pouco para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos.
— O que exatamente você quer saber?
Teddy hesitou. Não queria revelar que havia encontrado a carta e a foto… pelo menos, não ainda. Ele precisava entender primeiro.
— Bom… eu sei que ele era seu amigo, que foi preso por algo que não fez. Sei que era próximo dos Potters, que foi padrinho do Harry… — Teddy listou calmamente, observando a reação do pai. — Mas isso não é tudo, é?
Remus franziu ligeiramente o cenho, como se ponderasse suas palavras antes de falar.
— Não, não é tudo.
Teddy apertou os dedos ao redor da caneca.
— Então me conta.
Remus respirou fundo, e algo em sua expressão mudou. Não era um olhar triste, nem exatamente doloroso. Era… distante.
— Sirius era… intenso. — Ele começou, escolhendo as palavras com cuidado. — Ele tinha esse jeito de se jogar de cabeça nas coisas, como se não houvesse amanhã. Era teimoso, barulhento, completamente impossível de ignorar. E, ao mesmo tempo…
Ele parou por um segundo, como se estivesse de volta a outro tempo.
— Ele também sabia ser gentil. Mas só para quem realmente importava para ele.
Teddy observava cada expressão no rosto do pai, cada mínima mudança no tom de voz.
— Você sentiu falta dele? — perguntou baixinho.
Remus fechou os olhos por um breve momento antes de responder.
— Todos os dias.
O peso daquela resposta atingiu Teddy em cheio.
O silêncio voltou a se instalar, mas dessa vez estava carregado de algo diferente. Algo mais profundo.
Ele queria perguntar sobre a carta, sobre os anéis, sobre tudo que havia visto. Mas ao mesmo tempo, não sabia se estava pronto para as respostas.
Então, em vez disso, apenas murmurou:
— Ele parecia ser incrível.
Remus abriu um pequeno sorriso, um que não alcançou completamente os olhos.
— Ele era.
Teddy assentiu lentamente.
Havia mais para descobrir. Muito mais.
Mas agora, ele tinha certeza de que estava no caminho certo.