
A floresta parecia mais densa a cada passo que Harry dava. As árvores formavam uma muralha de sombras, e o ar estava carregado de um frio penetrante, como se a própria natureza estivesse sufocada pela guerra que se desenrolava ao seu redor. Ele estava em missão, enviado por membros da Ordem da Fênix para patrulhar aquela região, onde uma concentração de Comensais da Morte fora detectada.
Desde a última grande batalha, Harry sentia-se inquieto. Algo dentro dele havia mudado, como se cada passo dado no campo de batalha o aproximasse um pouco mais do abismo. Ele se movia com uma urgência silenciosa, seus olhos varrendo a escuridão, atento a qualquer movimento, qualquer sinal de perigo. Mas o verdadeiro perigo não estava no campo de batalha — estava dentro dele.
Ele não admitiria para ninguém, nem para si mesmo, mas desde que enfrentara Evan Rosier pela primeira vez, algo dentro dele havia se partido. Rosier não era como os outros Comensais. Ele tinha uma intensidade sombria, uma crueldade calculada, mas com um charme que confundia Harry. Rosier era um homem que usava a escuridão como uma arma, mas havia algo mais profundo ali, algo que Harry, em sua confusão, não conseguia nomear.
O barulho de galhos quebrando o tirou de seus pensamentos, e sua varinha se ergueu instintivamente. Harry virou-se, os olhos varrendo a escuridão. O que ele encontrou, no entanto, não era surpresa. Ali, entre as árvores, estava Evan Rosier, meio escondido nas sombras, como se pertencesse à escuridão ao seu redor.
— Sempre tão alerta, Potter — Disse Rosier, saindo das sombras com um sorriso torto no rosto. Seu cabelo negro caía em ondas suaves ao redor do rosto pálido, e seus olhos estavam fixos em Harry com uma intensidade perturbadora. — Mas por quanto tempo vai conseguir manter isso?
Harry cerrou os dentes, sua varinha ainda levantada. Mas uma parte dele sabia que não podia atacá-lo, não ali, não agora. A última vez que estivera tão próximo de Rosier, o resultado não fora uma batalha, mas algo muito mais perigoso.
— O que você quer, Rosier? — Harry perguntou, tentando manter a voz firme. Ele se recusava a deixar que o outro visse qualquer fraqueza, qualquer hesitação.
Rosier caminhou lentamente em sua direção, os olhos brilhando com uma malícia contida.
— Talvez eu só quisesse ver o quão perto você está de finalmente quebrar. Afinal, todos nós temos um limite, até mesmo o grande Harry Potter.
Harry sentiu um nó se formar em seu estômago. As palavras de Rosier atingiam um ponto fraco que ele nunca admitiria. Nos últimos meses, a guerra havia sugado quase tudo dele. Suas noites eram atormentadas por pesadelos, flashes das batalhas, das mortes, das perdas. E havia aquela outra sensação, algo muito mais perturbador: a atração inegável que sentia por aquele homem.
— Eu não sou como você — Harry retrucou, a voz mais firme desta vez. Ele precisava acreditar naquelas palavras. — Nunca vou ser.
Rosier deu uma risada baixa, e o som ecoou entre as árvores, enviando arrepios pela espinha de Harry.
— Ah, Harry. Você ainda não entende, não é? — Ele parou a poucos centímetros de distância, tão perto que Harry podia sentir o calor de seu corpo, o cheiro de sua pele. — A guerra muda as pessoas. Ela te corrompe, te quebra. E quando isso acontecer, eu estarei aqui, esperando.
O rosto de Harry queimava de raiva — e de algo mais que ele não queria nomear. O cheiro da floresta, misturado ao de Rosier, era intoxicante. Seu corpo parecia preso entre o impulso de atacar e o desejo de tocar. Era insano, perturbador, e totalmente errado. Como ele poderia sentir aquilo por alguém como Rosier?
Mas ali estavam eles, presos naquele ciclo infernal de atração e ódio, de desejo e repulsa. A intensidade entre eles era quase palpável, como uma corrente elétrica correndo pelo ar.
— Eu sei o que você está tentando fazer, Rosier — Harry murmurou, a voz entrecortada pela respiração pesada. — Mas não vai funcionar.
— Não? — Rosier ergueu uma sobrancelha, inclinando-se ainda mais, até que seus lábios quase tocassem o ouvido de Harry. — Você está tão dividido quanto eu, Potter. Sente isso, não sente? A cada vez que nos encontramos, você se afasta um pouco mais da sua preciosa luz.
Harry fechou os olhos com força, tentando bloquear a sensação do corpo de Rosier tão próximo ao seu, o cheiro dele, a voz que parecia envolvê-lo. Mas era impossível. Ele não podia negar que sentia. Que o desejo por Rosier era uma ferida aberta dentro dele, pulsando com uma urgência que ele nunca esperara sentir.
— Isso é loucura — Harry murmurou, mais para si mesmo do que para Rosier.
— Não é loucura. — Rosier se afastou apenas o suficiente para olhar nos olhos de Harry. — É inevitável.
E antes que Harry pudesse protestar, antes que pudesse reunir forças para afastá-lo, os lábios de Rosier estavam sobre os seus. O beijo era feroz, selvagem, como a batalha que travavam há meses. Era uma colisão de ódio e desejo, de repulsa e necessidade. Harry deveria tê-lo empurrado, deveria ter lutado contra aquilo. Mas em vez disso, ele se entregou.
O beijo era como fogo correndo por suas veias. Cada toque, cada movimento parecia consumir um pedaço de sua alma. Rosier o puxou para mais perto, suas mãos segurando a nuca de Harry com uma urgência que refletia a intensidade do momento. O coração de Harry batia descompassado, sua mente um caos de sensações conflitantes.
Quando finalmente se separaram, ambos estavam ofegantes, seus rostos a centímetros de distância. Harry sentia o peito subir e descer rapidamente, o sangue correndo como um rio selvagem em suas veias. Ele olhou nos olhos de Rosier e viu algo que nunca esperara ver: vulnerabilidade. Era uma faísca, pequena, quase imperceptível, mas estava lá.
— Por que está fazendo isso? — Harry perguntou, sua voz rouca, carregada de confusão e uma dor que ele não compreendia completamente.
Rosier o olhou em silêncio por alguns momentos, e quando finalmente falou, sua voz era um sussurro.
— Porque, assim como você, estou cansado de lutar. E talvez... apenas talvez... no fim das contas, nós dois sejamos mais parecidos do que gostaríamos de admitir.
Harry sentiu uma onda de desespero percorrer seu corpo. Ele não queria acreditar naquilo. Não queria acreditar que ele, Harry Potter, o Escolhido, poderia estar tão corrompido, tão perto da escuridão. Mas, ao mesmo tempo, sabia que Rosier estava certo. Havia uma parte dele, uma parte profunda e reprimida, que desejava se perder, que ansiava por aquele caos, por aquela conexão sombria.
E essa parte o assustava mais do que qualquer batalha jamais poderia.