Toad

Harry Potter - J. K. Rowling
M/M
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Toad
Summary
Não é Ron Weasley quem entra no compartimento, mas Lucian Avery.

O Expresso de Hogwarts serpenteava pela paisagem, afastando-se da civilização e adentrando o mundo mágico que Harry mal começara a conhecer. Sentado sozinho em um compartimento, ele observava as colinas distantes, sentindo-se um estranho em sua própria pele. Desde que descobrira que era um bruxo, tudo havia mudado tão depressa. Os Dursley sempre o trataram com desprezo, como se ele não merecesse nada além da mais fria indiferença. Agora, ele estava indo para uma escola onde, aparentemente, todos já sabiam quem ele era, exceto ele mesmo.

Enquanto tentava processar o que estava por vir, a porta do compartimento deslizou suavemente, e Harry se virou para encontrar um garoto alto e esguio. Ele tinha cabelos loiros escuros e olhos cinzentos que o observavam com uma mistura de curiosidade e... algo mais. Seu sorriso era quase sedutor, de uma calma que fez Harry se sentir imediatamente pequeno e inseguro.

— A cabine está ocupada? — Perguntou o garoto com uma voz suave, porém marcante, enquanto seus olhos percorrendo Harry de cima a baixo.

— Não — Respondeu Harry rapidamente. — Pode sentar.

O garoto entrou sem cerimônia, acomodando-se com a confiança de quem sabia que o mundo o observava. Ele tirou uma pequena caixa do bolso, de onde surgiu um sapo de aparência peculiar, com olhos brilhantes e pele escura e lustrosa. Harry não pôde evitar se fixar no animal, que parecia observar a sala com uma inteligência incomum.

— Este é Timbro, meu sapo — Disse o garoto, quase em tom casual, mas com um toque de vaidade. — Ele é um pouco raro. Da nossa família por gerações.

Harry piscou, meio desconcertado. Ele nunca tivera nada que fosse “da família por gerações” e, de repente, sentiu-se ainda mais distante do mundo que aquele garoto claramente parecia dominar.

— Eu sou Lucian Avery, aliás — continuou o garoto, oferecendo um sorriso que parecia conter segundas intenções. — E você, claro, deve ser... Harry Potter.

Harry sentiu um leve desconforto ao ouvir seu nome nos lábios de Lucian. Era como se o garoto já soubesse tudo sobre ele antes mesmo de ter trocado uma única palavra. Ainda assim, algo naquele olhar parecia convidá-lo a confiar, a se abrir.

— Como você sabe quem eu sou? — Harry perguntou, tentando soar casual, mas sua voz entregava a incerteza que ele sentia.

Lucian inclinou-se para frente, os olhos brilhando levemente.

— Quem não sabe? — Ele sorriu de canto, quase como se estivesse provocando Harry. — O menino que sobreviveu... Aquele que derrotou o Lorde das Trevas antes mesmo de saber segurar uma varinha. É natural que você seja... famoso. — As palavras “menino que sobreviveu” foram ditas com uma leveza que fez Harry se sentir estranhamente exposto.

— Famoso... — Harry murmurou, desviando o olhar para a janela. Ele não sabia se gostava dessa ideia. Famoso por algo que mal entendia. Famoso por uma tragédia.

Lucian, no entanto, parecia notar o desconforto e, com uma habilidade impressionante, ajustou sua postura e seu tom, suavizando a intensidade.

— Não se preocupe, Harry — Disse ele, com um tom quase reconfortante. — Eu entendo o que você está passando. O peso das expectativas pode ser esmagador... Mas eu acho que, com as pessoas certas ao seu lado, você pode fazer algo incrível em Hogwarts. Algo que realmente... honre o nome Potter.

As palavras eram ditas com uma doçura disfarçada. Havia uma camada sedutora no modo como Lucian falava, como se ele estivesse oferecendo não apenas compreensão, mas também uma promessa de poder, de pertencimento.

Harry, carente de afeto e reconhecimento, sentiu uma estranha necessidade de acreditar nele. Desde que chegara ao mundo dos bruxos, ele se sentia perdido, sem saber em quem confiar. E agora, aqui estava alguém que o tratava como algo mais do que uma curiosidade. Lucian não o via apenas como o “menino que sobreviveu” — ou, pelo menos, era o que Harry queria acreditar.

— Que casa você acha que vai cair? — Lucian perguntou, aparentemente interessado, embora seus olhos já parecessem conhecer a resposta.

Harry deu de ombros. Ele mal sabia o que esperar das casas de Hogwarts, muito menos para qual deveria ir.

— Não sei... Estou esperando para ver. — Era a única resposta honesta que conseguia dar.

Lucian ergueu uma sobrancelha, seus lábios curvando-se em um sorriso que parecia saber algo que Harry não sabia.

— Não se preocupe com isso. Eu aposto que você será colocado em uma casa à altura do seu poder... E quem sabe, possamos estar na mesma? — As palavras, ditas de forma suave, tinham uma camada de sedução, uma promessa velada de que, juntos, poderiam fazer grandes coisas.

— Sonserina, você quer dizer? — Harry perguntou, com a voz ligeiramente vacilante. Ele já ouvira falar dessa casa, e, pelo que Hagrid havia dito, era a casa dos bruxos das trevas.

Lucian riu, mas não foi uma risada calorosa. Foi mais como uma provocação.

— Sonserina tem má fama, sim, mas você vai perceber que é onde os bruxos realmente poderosos prosperam. Veja meu pai, por exemplo. Ele sempre disse que a verdadeira grandeza vem de saber onde está o verdadeiro poder... e como controlá-lo.

As palavras de Lucian, mais uma vez, soavam como uma tentação. Harry sentiu uma estranha mistura de curiosidade e desconfiança, mas havia algo inegavelmente atraente naquele discurso. Poder... algo que ele nunca havia experimentado, não em sua vida com os Dursley. Ele sempre fora o garoto frágil, o “diferente”, o excluído. E agora, Lucian parecia estar oferecendo uma oportunidade de reverter isso.

— Você tem uma chance única, Harry — Lucian continuou, seu olhar prendendo o de Harry. — Uma oportunidade de ser mais do que qualquer um jamais esperou de você. Seu nome, sua história... com o apoio certo, você pode ser mais do que apenas o garoto que sobreviveu. Pode ser o bruxo que constrói um novo legado.

As palavras penetraram profundamente em Harry, que sentiu o coração bater mais rápido. Ele sempre sonhara em pertencer a algo maior, em ser alguém importante. E Lucian parecia entender isso, parecia ver além da superfície.

Mas, ao mesmo tempo, havia uma frieza nas palavras de Lucian, um certo cálculo que Harry não conseguia ignorar completamente. Como se Lucian soubesse exatamente o que estava fazendo — plantando sementes de dúvida e ambição dentro dele.

— E você? — Harry perguntou, tentando recuperar o controle da conversa. — Por que você quer isso?

Lucian sorriu novamente, mas dessa vez havia algo sombrio por trás de seus olhos.

— O nome Avery já foi sinônimo de poder e influência no mundo bruxo. — Sua voz agora era mais baixa, mais íntima. — Mas minha família caiu em desgraça após os eventos com o Lorde das Trevas. Agora, é nossa oportunidade de recuperar o que é nosso por direito. Com a aliança certa, podemos ser invencíveis.

Harry piscou, tentando processar o que estava sendo dito. Lucian não estava apenas interessado nele... estava interessado no que ele representava. Seu nome, sua história, seu poder — tudo isso era parte de algo maior, um plano que Harry mal compreendia.

— O que você está dizendo? — Harry perguntou, a voz tremendo levemente.

Lucian se inclinou mais uma vez, sua voz quase um sussurro.

— Estou dizendo, Harry, que com as pessoas certas ao seu lado... você pode ser imparável. Podemos ser imparáveis. E eu... — Ele sorriu de forma perigosa, os olhos fixos em Harry. — ...posso ser a pessoa certa para você.

Harry sentiu o ar sair de seus pulmões. As palavras de Lucian ecoavam em sua mente, misturando-se com suas próprias inseguranças e desejos. Ele nunca fora desejado ou admirado, nunca tivera alguém olhando para ele dessa forma. E agora, aqui estava Lucian Avery, oferecendo-lhe algo que ele sempre quis: pertencimento, poder... e, talvez, afeto.

Mas uma parte dele sabia que havia mais por trás daquele charme. Lucian o via como um meio para um fim