O céu sobre o campo de quadribol de Hogwarts era de um azul límpido, o tipo de clima perfeito para um jogo intenso. As arquibancadas vibravam com a excitação de estudantes de todas as casas, seus gritos de incentivo enchendo o ar. Gryffindor contra Slytherin. Sempre uma rivalidade intensa. E, naquele dia, a tensão parecia especialmente forte.
Harry Potter estava no vestiário da grifinória, ajustando os óculos de quadribol enquanto escutava as instruções de Wood. O capitão da equipe estava fervoroso como sempre, gesticulando amplamente enquanto detalhava cada movimento estratégico que esperava que a equipe seguisse.
— Vamos esmagá-los! — Gritou Wood, os olhos brilhando com uma mistura de entusiasmo e desafio. — Higgs pode ser um bom apanhador, mas Harry, você é melhor. Vamos pegar o pomo antes dele, e o jogo é nosso!
Harry assentiu, mas sua mente já estava no ar, no campo, antecipando o momento em que cruzaria com Terence Higgs, o apanhador da Sonserina. Nos últimos meses, algo peculiar havia surgido entre eles. O tipo de rivalidade que ia além do comum. Toda vez que se viam, fosse nos corredores de Hogwarts ou durante os jogos de quadribol, havia uma tensão no ar, como eletricidade antes de uma tempestade. Harry não conseguia explicar, mas sentia aquela faísca toda vez que cruzava os olhos com Terence, e isso o confundia.
Higgs era diferente dos outros jogadores da Sonserina. Ele não era agressivo como Draco Malfoy ou desrespeitoso como a dupla Montague e Warrington. Ele jogava com calma e astúcia, sempre calculando seus movimentos, e seu sorriso sempre parecia esconder algo mais. Algo que deixava Harry intrigado.
Quando finalmente subiram para o campo, montados em suas vassouras, Harry avistou Higgs já pairando no ar, observando-o com um olhar intenso. Aquele sorriso enigmático novamente.
“Concentre-se no pomo”, Harry disse a si mesmo, mas era difícil não notar como os olhos de Higgs o seguiam, um brilho desafiador neles. E algo mais... algo que fazia o estômago de Harry dar voltas.
Madame Hooch soprou o apito, e o jogo começou com um estrondo. As goles voaram pelo campo, com os artilheiros de ambas as equipes lutando ferozmente por cada oportunidade de marcar. A multidão aplaudia cada lance com entusiasmo, e o jogo estava tão acirrado quanto qualquer outro entre aquelas duas casas.
No entanto, a verdadeira batalha acontecia acima de todos. Harry e Terence se estudavam de longe, ambos aguardando o menor vislumbre do pomo de ouro. Mas não era apenas uma questão de quem veria o pomo primeiro. Cada vez que se cruzavam no campo, havia uma troca sutil de olhares. Uma faísca que os dois reconheciam, mas nenhum admitiria.
Em um ponto do jogo, quando Harry se lançou em uma manobra evasiva para evitar um balaço que vinha em sua direção, ele passou tão perto de Higgs que seus ombros quase se tocaram. Harry sentiu o olhar de Higgs queimando sobre ele, um olhar que durou mais do que o necessário.
— Cuidado aí, Potter, ou vai acabar no chão! — Provocou Higgs, sua voz baixa, mas carregada de um tom sugestivo.
Harry estreitou os olhos, mantendo a seriedade enquanto acelerava na direção oposta. Sentia as bochechas queimando, mas não sabia dizer se era por causa da velocidade da vassoura ou pelas palavras de Higgs. Algo naquele tom mexia com ele de um jeito inesperado.
O jogo continuava frenético, com a sonserina marcando dois gols seguidos, o que deixou Wood gritando com os artilheiros da grifinória para reagirem. Mas a mente de Harry estava parcialmente desconcentrada. A presença de Higgs o afetava mais do que ele gostaria de admitir. E isso o irritava.
Vendo a oportunidade de provocar, Higgs novamente se aproximou, fazendo uma curva fechada na direção de Harry, como se quisesse mostrar o controle absoluto que tinha sobre sua vassoura.
— Está distraído, Potter? — Perguntou Higgs, sorrindo de canto. — Ou você sempre joga assim?
Harry o encarou, o coração acelerado, mas não pelo desafio.
— Eu estou bem — Respondeu, firme, tentando se concentrar no pomo, que ainda não havia aparecido.
— Claro que está. — Higgs lançou-lhe um olhar que parecia sondar Harry mais do que o próprio campo. — Talvez esteja esperando a coisa certa para correr atrás...
Harry abriu a boca para responder, mas, naquele exato momento, avistou um brilho dourado perto da arquibancada da Lufa-Lufa. O pomo!
Num reflexo, Harry inclinou-se sobre a vassoura, disparando em direção ao pomo, mas ouviu o familiar zumbido da Nimbus de Higgs se aproximando. Higgs havia visto o pomo também. Agora, os dois estavam lado a lado, lutando não apenas contra o vento, mas contra a tensão palpável entre eles.
— Não vai ser tão fácil, Potter! — Gritou Higgs, a voz contendo tanto provocação quanto uma pitada de diversão.
Harry sentiu a adrenalina correr em suas veias. Ele empurrou sua Firebolt com toda a força, tentando ganhar distância, mas Higgs estava logo atrás, colado a ele, ambos competindo palmo a palmo. O pomo piscava à frente, ziguezagueando pelo campo, e os dois apanhadores estavam em uma perseguição implacável.
Em um momento de ousadia, Higgs puxou sua vassoura levemente para o lado, aproximando-se perigosamente de Harry. Eles estavam tão perto que Harry podia sentir o calor da presença dele, ouvir sua respiração irregular, mesmo em meio ao barulho da multidão.
— Talvez esteja gostando disso, Potter. — Murmurou Higgs. — Essa... corrida.
Harry não teve tempo de responder. Ele estava tão focado no pomo e na proximidade perturbadora de Higgs que quase se esqueceu de sua estratégia. Em um impulso de frustração, ele fez uma manobra arriscada, mergulhando abruptamente para baixo. Higgs hesitou por um segundo, e aquele segundo foi tudo o que Harry precisava. Ele acelerou para frente, ganhando vantagem.
Mas Higgs não desistiu. Ele logo estava novamente na cola de Harry, tão perto que suas vassouras quase se entrelaçavam. Harry olhou de relance para ele e viu o brilho de determinação nos olhos de Higgs, mas também algo mais. Aquele sorriso provocador ainda estava lá, mesmo em meio à intensidade da competição.
O pomo fez uma curva abrupta à esquerda, e Harry seguiu com rapidez, quase sendo jogado da vassoura pelo movimento súbito. Mas ele manteve o controle. Higgs estava logo atrás, e Harry podia sentir o olhar dele, como se estivessem ligados de alguma maneira estranha, mesmo em plena perseguição.
A tensão entre eles aumentava a cada segundo, tanto no jogo quanto nas provocações silenciosas que pareciam flutuar no ar. Era como se, em algum nível, a competição fosse apenas um pretexto para algo mais. Algo que nenhum dos dois estava pronto para reconhecer, mas que ambos sentiam.
Finalmente, o pomo fez uma queda vertiginosa em direção ao chão, e Harry, sem pensar duas vezes, mergulhou atrás dele. Higgs o seguiu imediatamente, e os dois agora estavam em uma queda livre, cada um estendendo a mão na tentativa de capturar o pomo primeiro.
Harry podia ouvir o coração batendo em seus ouvidos, o vento assobiando ao seu redor, mas também o som da risada de Higgs logo atrás. Era como se, apesar da rivalidade, Higgs estivesse se divertindo mais do que deveria.
Quando Harry finalmente estendeu a mão e fechou os dedos em torno do pomo, o som da multidão explodiu em aplausos. Ele desacelerou bruscamente, flutuando no ar com o pomo dourado brilhando em sua mão. Mas, antes que pudesse comemorar, Higgs parou ao seu lado, ainda sorrindo.
— Belo lance, Potter — Parabenizou Higgs, os olhos cinzentos brilhando com uma mistura de admiração e algo mais que Harry não conseguia identificar. — Mas não pense que acabou.
Harry, ainda ofegante, olhou para ele, sentindo a adrenalina diminuir, mas o coração ainda acelerado. Ele deveria estar comemorando a vitória, mas tudo o que conseguia pensar era no olhar de Higgs, no tom de sua voz, e naquela faísca que, por mais que tentasse ignorar, continuava lá.
— Nunca está acabado com você, não é? — Respondeu Harry, mais como um desafio do que uma pergunta.
Higgs deu de ombros, ainda com aquele sorriso de canto que fazia Harry sentir que algo muito maior estava acontecendo entre eles do que apenas uma partida de quadribol.
— Vamos ver, Potter — Respondeu Higgs, antes de dar uma última olhada e voar de volta para o time da Sonserina.
Harry ficou no ar por um momento, observando Higgs se afastar, a mente girando com mais do que apenas a vitória. Algo havia mudado naquele jogo, e ele sabia que essa rivalidade estava longe de terminar.