Quill

Harry Potter - J. K. Rowling
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Quill

A luz da tarde entrava fracamente pelas janelas da sala de Dolores Umbridge, tingindo tudo de um tom rosado. No entanto, o ambiente ali dentro era qualquer coisa menos acolhedor. Harry Potter estava sentado em uma pequena mesa no centro da sala, as mãos sobre um pedaço de pergaminho vazio, e sua expressão era de exaustão e apreensão.

Ele já sabia o que esperar. Era sua segunda detenção com Umbridge, e o terror daquela pena enfeitiçada ainda estava fresco em sua memória. A pena que não precisava de tinta, mas, em vez disso, usava seu próprio sangue como tal, escrevendo palavras na folha enquanto as gravava dolorosamente em sua pele. Ele tentava não pensar no primeiro dia, no corte se abrindo repetidamente em sua mão enquanto ele escrevia: "Não devo contar mentiras."

— Vamos, Potter — A voz açucarada e cruel de Umbridge cortou o silêncio. — Pegue a pena. Está esperando o quê?

Harry respirou fundo e olhou para a pena em sua mão, com as palavras de Sirius ainda ecoando em sua mente: "Ela está por trás de tudo isso, Harry. Cuidado." Mas, antes que pudesse hesitar mais, ele segurou a pena e começou a escrever.

"Não devo contar mentiras."

Ele aguardou a dor, o corte familiar surgindo em sua mão. No entanto, nada aconteceu. O pergaminho absorveu a frase escrita, mas a pele de sua mão permaneceu intacta, sem qualquer sinal de ferida. Harry piscou, confuso. Ele olhou para a pena em sua mão e, em seguida, para Umbridge, que observava atentamente, esperando pelo momento em que o corte aparecesse.

Mas a dor não veio. A pele de Harry permaneceu ilesa, e a raiva começou a brilhar nos olhos de Umbridge. Ela se levantou bruscamente de sua cadeira, o rosto corado de frustração, e deu um passo à frente.

— O que você fez, Potter? — Ela rosnou, com os olhos fixos na mão de Harry. — Está usando alguma magia para se proteger? Confesse!

Harry ficou imóvel, atônito. Ele não tinha feito nada, mas, ao mesmo tempo, algo claramente estava acontecendo.

— Eu não fiz nada — Disse ele, tentando manter a calma. — Eu só escrevi.

Umbridge estreitou os olhos, aproximando-se mais. Ela levantou a varinha com um movimento ameaçador, e Harry pôde ver a fúria no brilho de seus olhos. Ela estava prestes a lançar algum tipo de feitiço, algo para "corrigir" o que quer que fosse que estivesse impedindo a pena de funcionar.

Mas, antes que ela pudesse dizer uma palavra, a porta da sala se abriu com um estrondo, e uma figura alta e imponente entrou, a capa negra esvoaçando com o movimento. Um Protego brilhou instantaneamente entre Umbridge e Harry, interrompendo o feitiço que ela estava prestes a lançar.

— Chega, Dolores — Disse uma voz grave e fria.

Harry olhou para a figura em choque, mas sentiu um arrepio de familiaridade, algo que não conseguia identificar. O homem tinha cabelos escuros, olhos profundos e penetrantes, e havia um ar de autoridade ao redor dele, como se sua mera presença exigisse respeito.

— Quem é você?! — Exigiu Umbridge, a voz estridente subindo uma oitava. Ela segurava a varinha de forma ameaçadora, mas não ousava atacar imediatamente.

O homem ignorou Umbridge por um momento, seus olhos pousando em Harry, como se estivesse avaliando-o com cuidado.

— Você está bem, Harry? — Ele perguntou, a voz mais suave do que antes, quase... protetora.

Harry assentiu, sem conseguir desviar o olhar do homem. Quem era ele? E como sabia seu nome?

— Responda-me! — Gritou Umbridge novamente, furiosa. — Quem é você e o que está fazendo aqui?

Finalmente, o homem voltou-se para ela, e havia um desprezo frio em seus olhos.

— Alphard Black — Ele disse com calma, como se o nome por si só fosse suficiente para explicar sua presença. — E estou aqui para proteger o garoto.

O nome ressoou na mente de Harry como um sino. Black. O mesmo sobrenome de Sirius. Mas quem era Alphard? Ele nunca tinha ouvido Sirius mencioná-lo.

— O quê? — Umbridge parecia ainda mais enfurecida agora. — Isso é um absurdo! Como ousa interromper minha detenção?! Eu sou a autoridade aqui!

Alphard deu um passo à frente, sem pressa, mas o suficiente para que Umbridge recuasse um pouco. Ele se inclinou ligeiramente, aproximando-se do rosto dela, o sorriso de desprezo crescendo em seus lábios.

— A única coisa absurda aqui é você acreditar que tem alguma autoridade sobre Harry Potter — Ele murmurou, a voz gélida. — Você não tem ideia de com quem está lidando.

Umbridge, com o rosto vermelho de raiva, ergueu a varinha para atacar, mas Alphard foi mais rápido. Com um movimento quase imperceptível, ele lançou um feitiço silencioso que arrancou a varinha das mãos dela e a fez recuar para a cadeira, imobilizada.

Harry ficou paralisado, o coração batendo acelerado. Ele nunca tinha visto alguém fazer isso com tanta facilidade, especialmente alguém como Umbridge, que parecia tão certa de seu poder dentro de Hogwarts.

Alphard voltou sua atenção para Harry, o olhar agora menos feroz, mas ainda intenso.

— Seu sangue, Harry — Ele disse, aproximando-se lentamente. — O sangue da sua mãe, é claro, oferece uma proteção poderosa. Mas há algo mais. O pouco sangue Black que você carrega... foi isso que a pena tentou derramar. E, junto ao seu núcleo mágico, isso te protegeu.

Harry franziu o cenho, confuso. Sangue Black? Ele sabia que a mãe de Sirius era um Black, e que ele, de certa forma, tinha uma ligação distante com a família, mas isso nunca tinha parecido importante.

— O que você quer dizer? — Perguntou Harry, a voz baixa, ainda tentando processar tudo.

— Eu sou Alphard, o irmão de Orion Black, seu tio-avô. — Ele fez uma pausa, observando a reação de Harry. — E, por mais que você esteja relutante em aceitar, você é parte desta família. E, sendo um Black, Harry, você precisa entender que há responsabilidades, heranças e... alianças. — Ele fez uma pausa, os olhos fixos em Harry. — Você ainda não é um Black de verdade, mas há maneiras de corrigir isso.

Harry piscou, confuso e um pouco assustado com o que Alphard estava insinuando.

— O que você quer dizer com 'corrigir isso'? — Perguntou Harry, o coração batendo mais rápido.

Alphard sorriu de leve, um sorriso que era ao mesmo tempo reconfortante e enigmático.

— Existem maneiras, Harry. Uma delas... é você se tornar um Black de verdade. Uma união formal. Um casamento. — Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nos de Harry. — E eu estou aqui para garantir que você tenha o tempo e a proteção necessários para entender o que isso significa.

Harry ficou sem palavras, o cérebro girando com as implicações do que Alphard acabara de dizer. Casamento? Com um Black? Ele sequer conseguia processar a ideia.

Antes que pudesse reagir, Umbridge, que ainda estava imobilizada, soltou um grito furioso.

— Vocês não podem fazer isso! Eu sou a autoridade! — Ela gritou, a voz cada vez mais estridente.

Alphard apenas a ignorou, lançando um último olhar de desprezo antes de virar-se para Harry.

— Venha, Harry — Disse ele, suavemente. — Já passei tempo demais longe da família. Vamos.

Sem outra palavra, Alphard fez um gesto suave com a mão, e Harry sentiu-se sendo puxado pela magia, o ambiente da sala de Umbridge desaparecendo enquanto eles se afastavam daquele pesadelo.