
A Mansão Malfoy se erguia à frente de Harry Potter como uma sombra de tempos passados, envolta em um silêncio que parecia sufocante. As memórias do que havia acontecido dentro daquelas paredes ainda ecoavam em sua mente — a captura, a tortura de Hermione, e o medo constante de não conseguir escapar. Mas agora, as circunstâncias eram diferentes. Ele não estava ali como prisioneiro, mas por vontade própria. E ele vinha com um propósito.
Em sua mão, a varinha de Draco Malfoy descansava, intacta e imponente. Harry havia decidido que era hora de devolver a varinha ao seu legítimo dono. Draco havia trocado de lado no último momento, e mesmo que as ações dele e de sua mãe, Narcissa, não fossem movidas por altruísmo, eles salvaram a vida de Harry. Sem Narcissa mentindo para Voldemort sobre a sobrevivência dele, a guerra poderia ter tido um desfecho muito diferente.
Harry respirou fundo, aproximando-se da porta da mansão. Um elfo doméstico apareceu ao seu lado, silencioso e subserviente, conduzindo-o para dentro sem dizer uma palavra. O ar no interior da casa era denso, como se carregasse anos de segredos e conspirações, e Harry sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto caminhava pelos corredores de mármore.
Quando finalmente foi levado ao grande salão, onde Narcissa Malfoy o esperava, Harry ficou impressionado com a calma que ela exalava. A mulher estava sentada em uma poltrona de couro escuro, a postura impecável e os olhos de gelo fixos nele. Ela usava um vestido de seda preta que contrastava com seus cabelos loiros platinados, agora presos em um elegante coque. Seus lábios estavam levemente curvados em um sorriso enigmático.
— Senhor Potter — A voz dela era baixa, mas cheia de controle. — Que surpresa vê-lo aqui.
Harry parou a alguns metros de distância, sentindo-se um tanto deslocado naquele ambiente frio e luxuoso. Ele ergueu a mão com a varinha de Draco, mantendo sua postura firme.
— Eu vim devolver isto — Disse, sem rodeios. — A varinha de Draco. E também… agradecer.
Narcissa inclinou levemente a cabeça, os olhos brilhando com um interesse que ele não conseguia decifrar completamente.
— Agradecer? — Ela repetiu, como se saboreasse a palavra. — Agradecer por quê, exatamente?
Harry hesitou por um segundo. Havia algo na maneira como Narcissa o olhava que o fazia sentir-se desconfortável, como se ela estivesse desnudando seus pensamentos, tentando enxergar além de suas palavras. Mas ele já havia tomado sua decisão de vir, e não recuaria agora.
— Se não fosse por você — Ele começou, a voz mais firme agora —, eu não estaria aqui. Você salvou minha vida mentindo para Voldemort.
Narcissa não se mexeu, mas algo em seu olhar mudou, um leve brilho de satisfação surgindo em suas íris azuis.
— Eu fiz o que achei necessário para proteger meu filho. — Ela respondeu, a voz suave, mas sem emoção. — E se isso resultou em sua sobrevivência, então foi apenas uma coincidência.
Harry balançou a cabeça, não totalmente convencido pelas palavras dela, mas sabendo que não adiantaria discutir o assunto. Ele estendeu a varinha de Draco em sua direção.
— De qualquer forma, eu vim trazer isso de volta. Acho que Draco gostaria de tê-la de novo.
Narcissa olhou para a varinha por um momento antes de se levantar graciosamente. Quando ela se aproximou, Harry sentiu o leve aroma de flores exóticas que parecia emanar dela. Ela pegou a varinha das mãos de Harry com delicadeza, mas seus dedos demoraram-se um pouco mais do que o necessário ao tocar os dele. Foi um toque quase imperceptível, mas Harry sentiu a pele formigar onde as mãos dela haviam encostado.
— Muito gentil da sua parte. — Ela disse, sorrindo levemente. — Draco estará grato.
Harry assentiu, sentindo uma estranha tensão no ar. Ele estava prestes a se despedir, mas antes que pudesse abrir a boca, Narcissa deu um passo à frente, seus olhos agora fixos nos dele com uma intensidade perturbadora.
— No entanto, Harry — Ela usou seu primeiro nome pela primeira vez, o que o fez sentir um estranho calafrio —, não acho que devo receber apenas sua gratidão. Há algo mais em jogo aqui.
Harry franziu o cenho, confuso.
— O que você quer dizer?
Narcissa deu um pequeno sorriso, frio e calculado, mas não totalmente desprovido de charme. Ela começou a circular ao redor de Harry, como uma predadora avaliando sua presa.
— A guerra acabou, é verdade — Ela começou, a voz baixa e sedutora. — Mas as consequências, as repercussões... elas ainda reverberam por todo o nosso mundo. A Casa Malfoy, por exemplo, foi arrastada pela lama. Meu marido está em Azkaban, e Draco... bem, Draco precisa de tempo para se recuperar. Nós perdemos muito, e agora eu sou a única que pode garantir o futuro da nossa família.
Harry ficou em silêncio, acompanhando o movimento dela com os olhos. Algo no tom de Narcissa o fez sentir-se desconfortável, mas ao mesmo tempo intrigado. Ela não era uma mulher que expressava emoções facilmente, mas suas palavras estavam carregadas de uma determinação feroz.
— O que isso tem a ver comigo? — Harry perguntou, ainda sem entender completamente onde ela queria chegar.
Narcissa parou em frente a ele novamente, a apenas alguns passos de distância. Seus olhos estavam fixos nele, brilhando com uma mistura de ambição e desejo reprimido.
— Você é o Salvador do Mundo Bruxo, Harry. — Ela disse suavemente. — A pessoa que derrotou o Lorde das Trevas, aquele em quem todos confiam. Seu nome carrega mais peso do que qualquer outro no mundo. Você é uma figura poderosa... e poder é o que rege este mundo.
Harry sentiu o peso das palavras dela e começou a entender o que ela estava insinuando, mas a clareza ainda estava fora de seu alcance.
— E o que isso tem a ver com você, Narcissa? — Ele perguntou, tentando manter a calma.
Ela sorriu, desta vez um pouco mais calorosa, mas ainda havia um gelo oculto por trás daquele gesto.
— Simplesmente tudo. — Respondeu ela. — A união de nossas famílias, Harry, seria um passo crucial para restaurar o nome Malfoy, e talvez até mesmo reacender a glória dos Black. Com Lucius fora do caminho, sou eu quem controla o futuro de nossa linhagem. Mas com você ao meu lado... nossa influência seria imensurável.
Harry deu um passo para trás, a revelação caindo sobre ele como uma avalanche. Ele não esperava aquilo, não esperava ser parte de um plano tão calculado e ambicioso. O rosto de Narcissa, porém, não mostrava arrependimento, apenas determinação.
— Você quer... se casar comigo? — Harry balbuciou, ainda incrédulo.
— Seria uma aliança perfeita — Ela respondeu, inclinando a cabeça levemente, os olhos avaliando cada reação dele. — Você teria acesso à antiga nobreza e à fortuna dos Malfoy e dos Black. Eu... garantiria a continuidade dessas casas. Juntos, poderíamos moldar o futuro do mundo bruxo.
Harry piscou, tentando processar a magnitude do que ela estava propondo. Havia uma parte de si que estava indignada com o quão friamente ela planejava usar a sua posição, mas outra parte, a que estava cansada da constante guerra e dos fardos, viu a lógica nas palavras dela.
Narcissa percebeu a hesitação e deu mais um passo em direção a ele, sua voz agora baixa e persuasiva.
— Você poderia ter uma família, Harry. Não apenas herdeiros para o nome Potter, mas algo maior. Você seria o homem que ajudou a restaurar a ordem. Pense nisso.
Harry ficou em silêncio por um longo momento, sentindo o peso da oferta de Narcissa sobre seus ombros. Ele, que havia carregado o fardo da guerra, o destino do mundo bruxo e a responsabilidade pela sobrevivência de tantos, agora enfrentava uma escolha que, pela primeira vez, não envolvia salvar vidas ou lutar contra o mal. Narcissa oferecia algo completamente diferente, algo que ele não havia permitido a si mesmo sonhar: paz.
"Você poderia ter uma família", ela dissera, e as palavras ecoavam em sua mente, atravessando suas defesas. Uma família. Ele nunca teve uma de verdade, não depois que seus pais morreram. Hogwarts tinha sido seu lar, sim, e os Weasleys haviam lhe dado um vislumbre de amor familiar, mas sempre havia a guerra. Sempre havia Voldemort. Sempre havia mais lutas para enfrentar. Agora, com a batalha terminada, o que restava para ele?
Ele olhou para Narcissa, seus olhos traçando os contornos de seu rosto aristocrático. A beleza fria, o controle absoluto que ela exalava... não havia nada nela que sugerisse a ternura ou o carinho de uma esposa amorosa. Mas, ao mesmo tempo, havia algo irresistível em sua oferta. Ela o queria ao seu lado, não por quem ele era como pessoa, mas pelo poder que ele representava. E, de certa forma, isso era libertador. Narcissa não tinha expectativas sentimentais, não o via como um salvador ou herói trágico. Ela o via como um homem que poderia ajudá-la a alcançar seus próprios objetivos.
A ideia de ser desejado por sua posição e não por quem ele era de fato — algo que sempre temera — agora parecia reconfortante. Porque, se ele fosse honesto consigo mesmo, estava cansado de ser o herói. Estava exausto de sempre fazer a coisa certa, de carregar o mundo nas costas. Narcissa não esperava isso dele. Ela esperava apenas que ele fosse poderoso ao seu lado. E, de repente, isso parecia mais atraente do que ele jamais imaginara.
Ele deu um passo à frente, mais próximo dela, seu olhar sério, mas seu coração começando a aceitar o que antes parecia impensável.
— E se eu aceitar, Narcissa? — Perguntou, sua voz mais baixa do que pretendia. — O que acontece então?
Narcissa o observou com cuidado, seus lábios se curvando em um sorriso suave, mas predatório. Havia uma satisfação inegável em seu olhar, mas também algo mais — uma faísca de interesse genuíno que ela mesma talvez não tivesse previsto. Ela havia planejado essa aliança como uma estratégia, uma jogada para restaurar sua família e garantir o futuro dos Malfoy e dos Black. Mas ao olhar para Harry agora, percebendo a hesitação em seus olhos e a maneira como ele estava cedendo, ela se deu conta de que ele poderia ser mais do que apenas uma peça em seu jogo. Ele poderia ser... interessante.
— Se você aceitar — Disse ela, aproximando-se ainda mais, os dedos roçando levemente a manga do casaco dele —, você terá tudo o que sempre desejou. Paz. Respeito. Uma casa onde você será o mestre. E, mais do que isso, terá alguém ao seu lado que compreende o poder e a responsabilidade de moldar o mundo ao seu redor. Eu não sou uma mulher que espera que os outros cuidem de mim, Harry. Eu cuido de mim mesma... e dos meus. E se você for um de nós, cuidarei de você também.
Ela se inclinou para ele, sua proximidade quase sufocante. O cheiro suave e delicado de seu perfume envolveu Harry, e ele sentiu o calor dela se aproximar, a pressão do controle e do poder que ela exercia se infiltrando em cada parte de seu ser. Narcissa não era alguém que cedia. Ela tomava. Ela moldava o que queria ao seu redor, e Harry se viu envolvido nessa teia.
— Você terá o que deseja, Harry. — Murmurou ela, seus lábios agora próximos do ouvido dele. — E tudo o que eu peço em troca... é que você permita que eu lhe mostre o que podemos conquistar juntos.
Harry sabia que havia uma escolha a ser feita ali, e, pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu que não precisava carregar a culpa ou a responsabilidade por essa decisão. Ele podia, finalmente, ser egoísta. Aceitar o que estava sendo oferecido, sem questionar as consequências, sem se preocupar com as repercussões morais. E, em algum lugar profundo de si, ele percebeu que queria o que Narcissa prometia.
Ele virou o rosto para encarar Narcissa, seus olhos buscando os dela. O que ele viu não era uma mulher vulnerável ou apaixonada, mas sim alguém que sabia o que queria — e sabia como conseguir. Harry não a amava, e sabia que nunca a amaria no sentido convencional, mas isso não importava. Talvez o que ela oferecia fosse tudo o que ele precisava naquele momento.
— Eu aceito. — Ele disse, sua voz firme, mas baixa.
Narcissa sorriu, dessa vez com algo mais próximo de triunfo do que ele já havia visto antes. Ela levantou a mão e passou os dedos pelo rosto de Harry, um gesto suave, mas que continha toda a força do controle que ela exercia.
— Muito bem, Harry. — Sussurrou ela, a satisfação em sua voz clara. — A partir de agora, você é meu.
Ela se inclinou e, antes que Harry pudesse reagir, seus lábios encontraram os dele em um beijo firme, porém controlado. Não era um gesto de afeto; era um selo, uma marca de possessão. Harry sentiu o toque frio, mas, ao mesmo tempo, algo dentro de si cedeu. Ele não resistiu. Ao contrário, ele aceitou, cedendo à força de Narcissa, permitindo-se ser "domado" por ela.
Quando Narcissa finalmente se afastou, seus olhos brilharam com um misto de desejo e vitória.
— Agora — Disse ela, sua voz baixa, mas cheia de comando —, vamos começar a moldar nosso futuro juntos, não é?
Harry assentiu, sentindo-se estranho e, ao mesmo tempo, liberado de algo que o havia aprisionado por tanto tempo. A ideia de ser "domado" por Narcissa, de se submeter a ela, não o assustava como deveria. Pelo contrário, parecia... certo. E, pela primeira vez em muito tempo, Harry se permitiu apenas ser. Não o herói, não o salvador — mas alguém que encontrara uma nova maneira de existir.
Ele não precisava mais ser forte para o mundo. Narcissa o queria de outra forma, e ele estava pronto para se entregar a essa nova vida, de uma maneira que jamais imaginou.