
A sala estava iluminada apenas pela luz suave das velas, criando um ambiente íntimo e sereno. O crepitar das chamas ecoava pela penumbra, lançando sombras dançantes nas paredes de pedra da velha mansão Black. Harry estava deitado sobre o cobertor macio, o corpo relaxado, porém expectante, seus olhos vendados com um tecido de seda preto que Regulus cuidadosamente havia amarrado minutos antes.
A venda sobre seus olhos lhe trazia uma mistura de calma e ansiedade, pois, sem visão, os outros sentidos eram aguçados. Ele podia ouvir o som das respirações suaves de Regulus, sentir o calor reconfortante da lareira, e, mais importante, o toque leve dos dedos de Regulus percorrendo suas mãos amarradas acima da cabeça. Era um toque cuidadoso, repleto de carinho.
- Você está bem, Harry? - A voz de Regulus cortou o silêncio, suave e firme, cheia de autoridade, mas com uma ternura que só Harry conhecia.
- Estou... bem. - Respondeu Harry, tentando manter a calma. Ele sabia que estava em boas mãos, sempre soubera. Regulus era meticuloso, o tipo de pessoa que se certificava de que cada detalhe estava perfeito antes de qualquer passo ser dado.
- Lembre-se, a palavra de segurança, se algo estiver demais.
Harry assentiu, embora Regulus não pudesse ver, mas a confiança era palpável no ar.
- Artemis.
Regulus sorriu levemente, uma expressão que Harry, mesmo sem ver, sabia que estava lá. Havia algo no modo como Regulus cuidava de cada momento, de cada pequeno gesto. Ele era paciente, um cuidador nascido, e Harry, por mais nervoso que pudesse estar, sabia que podia confiar completamente em seu parceiro.
As velas estavam ali, dispostas em um círculo ao redor da cama. Regulus aproximou-se, inclinando-se sobre Harry e sussurrando em seu ouvido.
- Lembre-se, não farei nada sem seu consentimento. O poder é seu, Harry, você só me empresta por um tempo.
Essas palavras sempre tinham um efeito calmante sobre Harry. Ele sabia que Regulus controlava, mas o verdadeiro controle, a verdadeira confiança, estava em suas próprias mãos. Regulus pingou a primeira gota de cera quente no ombro de Harry, e este ofegou suavemente, o calor da cera contrastando com a temperatura ambiente. Não doía, ao contrário, era uma sensação estranhamente reconfortante, uma mistura de calor e peso que fazia Harry sentir-se vivo, presente no momento.
- Você está seguro. - Sussurrou Regulus, enquanto continuava com delicadeza. Cada gota de cera era seguida por palavras de afeto, elogios e reafirmações. - Você é forte, Harry. Tão forte. E tão corajoso...
Harry relaxava mais a cada elogio. Regulus sempre soubera como tranquilizá-lo, como dissolver qualquer medo ou dúvida. A cada toque, a cada palavra, Harry se sentia mais seguro, mais amado.
Quando a cera pingava sobre seu peito, ele quase suspirava de alívio. Regulus estava ali, tão presente, tão consciente de cada reação de Harry. Era como se eles estivessem em uma dança sincronizada, onde Regulus guiava com cuidado, mas sempre atento aos limites, sempre pronto para parar se necessário.
O tempo parecia fluir devagar, cada segundo contado com o ritmo constante de suas respirações combinadas. Quando Regulus sentiu que era o momento certo, ele colocou a vela de lado e começou a remover lentamente a venda de Harry. O toque de seus dedos era leve e gentil, e a venda saiu, revelando a suave luz das velas ao redor.
Os olhos de Harry encontraram os de Regulus, e ele viu apenas carinho ali. Nenhuma pressão, nenhum julgamento, apenas aceitação. Regulus inclinou-se e beijou a testa de Harry, como uma promessa silenciosa de que ele estava seguro.
- Eu vou cuidar de você. - Murmurou Regulus enquanto pegava um pano úmido e começava a limpar a cera que havia endurecido sobre a pele de Harry. Era um processo lento, quase ritualístico, mas cada movimento era um lembrete do cuidado que existia entre eles.
Após limpar toda a cera, Regulus trouxe um copo de água e uma pequena bandeja de frutas.
- Aqui, coma um pouco. - Disse ele, colocando uma fatia de maçã nos lábios de Harry. - Você foi incrível.
Harry sorriu levemente, mordendo a fruta e sentindo o frescor espalhar-se por sua boca. Era um gesto pequeno, mas tão cheio de significado. Regulus sempre sabia o que Harry precisava, antes mesmo que ele pedisse. E, mesmo em momentos de intensa intimidade e vulnerabilidade, Regulus sempre priorizava o conforto e bem-estar de Harry.
Aos poucos, eles se acomodaram na cama, Harry aninhado contra o peito de Regulus, sentindo o calor do corpo dele e a batida constante do coração.
Obrigado. - Murmurou Harry, sua voz baixa, mas cheia de emoção.
- Você é incrível. - Repetiu Regulus, beijando o topo da cabeça de Harry. - Eu estou aqui, sempre. E você... você é tudo o que eu preciso.
Eles ficaram em silêncio por um tempo, apenas abraçados, desfrutando da quietude e da conexão profunda que compartilhavam. Regulus, o eterno cuidador, e Harry, que finalmente havia encontrado alguém em quem podia confiar completamente, alguém que compreendia sua necessidade de segurança e afeto, mas que também sabia respeitar seus limites.
Ali, na segurança da cama, envolto pelo calor das velas ainda acesas e pelo cuidado de Regulus, Harry adormeceu lentamente. Ele sabia, em cada fibra de seu ser, que estava seguro. Seguro e amado.
Com Harry deitado praticamente em cima dele, Regulus continuava com seus toques suaves e meticulosos que transmitiam carinho e segurança.
- Como se sente, querido? - Regulus perguntou com a voz baixa, quase sussurrando, seus olhos fixos nele.
Harry respirou fundo, seus músculos relaxados enquanto absorvia o cuidado de Regulus.
- Eu... estou bem. - Ele respondeu, pegando um pedaço de fruta e sentindo a doçura na boca. - Foi... diferente, mas de um jeito bom. Eu confio em você.
Essas palavras pareceram iluminar o rosto de Regulus por um breve momento. Ele estendeu a mão, acariciando levemente o braço de Harry.
- Isso é tudo que importa, que você se sinta seguro e confortável comigo. - Respondeu Regulus, sua voz ainda suave, mas carregada de sinceridade.
Regulus se inclinou um pouco para mais perto, o calor entre eles palpável, mas agora sem pressa ou intensidade.
- Eu sei que tem muitas coisas na sua mente, Harry. Quero que saiba que não precisa carregar tudo sozinho.
Harry olhou para Regulus, sentindo o peso dessas palavras. A carga que ele sempre sentiu—de salvar o mundo, de proteger os outros—sempre parecia algo que ninguém mais poderia compreender totalmente. Mas ali, naquela cama, envolvido pela segurança oferecida por Regulus, ele sentiu uma abertura, um espaço onde ele poderia soltar um pouco dessa pressão.
- É difícil, às vezes. Carregar tantas expectativas... ter que ser forte o tempo todo. - Harry confessou, sua voz suave, quase um sussurro. Ele desviou o olhar, os dedos brincando nervosamente com o lençol.
Regulus tocou o queixo de Harry com delicadeza, guiando seu olhar de volta para o dele.
- Não precisa ser forte o tempo todo, não comigo. Aqui, você pode ser quem você é, sem máscaras, sem precisar lutar constantemente.
Harry respirou fundo, sentindo um aperto se soltar em seu peito. A vulnerabilidade do momento o fazia perceber que, ao lado de Regulus, ele poderia encontrar um tipo diferente de força—uma força que vinha da confiança e do apoio mútuo.
- Eu confio em você, Regulus. - Harry repetiu, dessa vez com mais firmeza, suas palavras carregando o peso de tudo o que ele havia sentido naquela noite. Ele se permitiu relaxar completamente, encostando a cabeça no ombro de Regulus, que o envolveu com um braço forte e protetor.
Eles ficaram ali, em silêncio por um momento, o conforto do toque e da presença um do outro sendo suficiente.
- Há algo que você queria dizer... ou perguntar? Algo que precisa tirar do peito? - Regulus quebrou o silêncio com uma voz tranquila.
Harry hesitou por um instante, mas havia uma tranquilidade no momento, uma sensação de que ele estava finalmente em um lugar onde poderia falar sem medo de julgamento ou expectativa.
- Eu nunca tive isso antes. - Ele começou, sua voz suave, mas cheia de emoção. - Esse tipo de cuidado, de confiança. Sempre foi eu contra o mundo, sabe?
Regulus assentiu, sua expressão compreensiva.
- Eu entendo. E quero que saiba que não precisa ser assim mais. Eu estou aqui, e sempre estarei.
Harry se sentiu envolvido pela sinceridade de Regulus. A mão dele deslizou pelos cabelos de Harry, um toque de pura ternura.
- Você merece isso, Harry. Todos merecem se sentir cuidados, respeitados... seguros.
Harry fechou os olhos por um momento, absorvendo essas palavras.
- É bom... é bom saber que não estou sozinho.
Regulus sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno.
- Nunca mais estará.