Lumus

Harry Potter - J. K. Rowling
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Lumus
Summary
"Marcus, percebendo sua hesitação, levantou a varinha novamente, sussurrando "Lumus". A luz brilhou com mais intensidade, iluminando o rosto de Harry.- Você disse que confia em mim, não disse?Harry assentiu, ainda inseguro, mas incapaz de recuar agora.- Sim."

A escuridão no dormitório da grifinória era espessa, quase palpável, quando Harry acordou repentinamente. Suas mãos ainda tremiam, e ele conseguia sentir o suor frio escorrendo pela nuca. O sonho — ou melhor, o pesadelo — não era incomum. As lembranças da infância na Rua dos Alfeneiros o assombravam. A solidão, o desprezo de seus tios e a negligência de uma vida sem amor pesavam sobre seus ombros, mesmo ali em Hogwarts, onde supostamente deveria estar a salvo.

- Lumus. - Sussurrou, levantando a varinha.

A luz suave da ponta da varinha iluminou o espaço ao redor, um círculo de claridade na escuridão opressiva. Harry olhou ao redor, observando seus colegas de quarto dormindo profundamente. Ron roncava em uma cama próxima, alheio ao turbilhão de emoções que corria pela mente de Harry.

Ele desejava, mais do que tudo, sentir-se protegido. Seguro. Seguro do mundo, da guerra, de seus parentes trouxas.

Desde que soubera que Sirius Black — o homem que supostamente o queria morto — havia escapado de Azkaban, o medo tornou-se seu companheiro constante. Sempre à espreita, sempre fazendo Harry sentir-se desamparado, vulnerável.

E era por isso que ele confiava tanto em Marcus Flint.

Flint, o capitão da equipe de Quadribol da Sonserina, já não era mais apenas o brutamontes que Harry associava a uma rivalidade esportiva. Nos últimos meses, Marcus havia se aproximado de uma maneira que Harry nunca esperaria. Parecia quase irônico, mas Marcus Flint, com sua mandíbula quadrada e seu olhar penetrante, se apresentara como uma espécie de mentor, um protetor. Ele aparecia sempre que Harry mais precisava, oferecendo uma solução, um consolo.

Naquele instante, envolto pela fraca luz do feitiço Lumus, Harry sentiu a angústia e o vazio crescerem mais uma vez. Ele sabia que não podia confiar em todos. Dumbledore parecia sempre distante, e mesmo Hagrid não podia estar sempre ao seu lado. Os Weasley faziam o que podiam, mas eles eram apenas uma família que o acolhia com bondade, não seus.

Harry era, essencialmente, sozinho.

Ele ouviu um som baixo vindo do corredor e, instintivamente, segurou sua varinha com mais força. O medo de que Sirius Black pudesse estar espreitando entre as sombras nunca estava longe de sua mente. Mas o som se repetiu, um leve estalar de botas no chão de pedra.

Com cautela, Harry se levantou e saiu do dormitório, seguindo a origem do ruído. Conforme descia os degraus, ainda iluminado pelo feitiço Lumus, viu uma figura familiar à sua espera no fundo do corredor.

- Flint? - Harry sussurrou. Não era a primeira vez que o sonserino aparecia na sala comunal da grifinória. Ele ainda não sabe como Flint consegue passar pelas proteções, mas ele era grato pela presença protetora.

Marcus Flint se destacava na penumbra. Mesmo de longe, sua presença era intimidante, mas havia uma suavidade calculada em sua postura. Ele sorriu, aquele sorriso raro que sempre parecia meio forçado, mas que Harry começava a associar a algum tipo de segurança.

- Potter. - Respondeu Marcus, aproximando-se lentamente. - Está tendo problemas para dormir de novo?

Harry assentiu, ainda um pouco inseguro. Havia algo em Flint que sempre o deixava em dúvida, mas, ao mesmo tempo, o atraía. A cada interação, Marcus conseguia enfraquecer a resistência de Harry, tornando-se um porto seguro em meio à tempestade de emoções e incertezas que ele enfrentava.

- Eu te disse que você não precisa se preocupar. - Continuou Flint, a voz baixa e suave. - Sirius Black pode estar à solta, mas ele não vai chegar perto de você. Não enquanto eu estiver por perto.

Harry olhou para ele, a luz de sua varinha ainda iluminando o rosto de Marcus. A luz parecia dançar em seus olhos, criando sombras que faziam seus traços parecerem tanto acolhedores quanto perigosos. Algo dentro de Harry desejava confiar completamente nele. E era essa necessidade de segurança que o tornava vulnerável.

Marcus se aproximou ainda mais, agora a poucos passos de distância. Ele parecia mais calmo do que o habitual, quase... protetor.

- Lumus. - Marcus disse com sua própria varinha, e uma luz forte se ergueu, fazendo a escuridão ao redor parecer ainda mais densa. - Às vezes, tudo o que precisamos é de um pouco de luz para nos guiar nas trevas.

Harry franziu o cenho, intrigado. Havia algo mais profundo no que Marcus estava dizendo, algo que ele não compreendia completamente. No entanto, ele assentiu, sentindo uma estranha sensação de alívio. Talvez Marcus tivesse razão. Talvez ele realmente estivesse ali para ajudá-lo.

- Você confia em mim, não confia, Potter?  - Perguntou Flint, sua voz baixa e sedutora.

Harry hesitou, mas então assentiu lentamente.

- Sim... confio.

Marcus sorriu, um brilho perigoso em seus olhos, como se o garoto tivesse acabado de dar a resposta que ele esperava ouvir há muito tempo.

- Ótimo. Porque, para manter você a salvo, existe algo que podemos fazer. Um contrato, uma aliança entre nós.

- Contrato? - Harry perguntou, confuso. Ele sabia que existiam contratos no mundo bruxo, mas nunca ouvira falar de algo que envolvesse proteção.

- É um antigo costume entre bruxos de sangue puro. - Disse Marcus, se aproximando ainda mais. - Um acordo para proteção mútua. E no seu caso, seria perfeito. Um vínculo entre nós. Eu cuidaria de você, e ninguém ousaria tocar em você. Nem Sirius Black, nem ninguém.

Harry sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Aquilo parecia uma solução ideal, mas havia algo que o fazia hesitar. No entanto, o medo de estar sozinho, de estar em perigo, era muito mais forte.

- Como funciona? - Ele perguntou, a voz trêmula.

Marcus deu mais um passo em sua direção, sua expressão agora firme.

- Apenas um simples juramento. Um acordo mágico. Mas você deve confiar em mim completamente, Harry. E uma vez que fizermos isso, estaremos ligados. Ninguém jamais poderá romper esse vínculo.

O coração de Harry acelerou. Ele sentia que estava à beira de algo grande, algo que poderia mudar tudo. Mas, ao mesmo tempo, uma pequena parte dele ainda estava em alerta, insegura sobre a verdadeira natureza daquela proposta.

Marcus, percebendo sua hesitação, levantou a varinha novamente, sussurrando "Lumus". A luz brilhou com mais intensidade, iluminando o rosto de Harry.

- Você disse que confia em mim, não disse?

Harry assentiu, ainda inseguro, mas incapaz de recuar agora.

- Sim.

- Então faça o juramento comigo. - Sussurrou Marcus, seus olhos fixos nos de Harry. - E eu vou te proteger... para sempre.