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Harry Potter - J. K. Rowling
Gen
G
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Summary
'Ele não sabia ao certo como havia chegado àquele ponto. Um feitiço de transfiguração mal lançado durante um duelo secreto com Draco Malfoy havia desencadeado a transformação acidental. Agora, preso em sua forma animaga — um pequeno gato negro de olhos esverdeados —, Harry perambulava pela noite, desesperado para encontrar ajuda, mas sem meios de se comunicar."

A lua cheia brilhava intensamente sobre o Lago Negro, espalhando um brilho prateado sobre as águas imóveis. A brisa da noite era fria, cortante, e as árvores da Floresta Proibida balançavam de forma quase ameaçadora, como se segredos antigos se escondessem em suas sombras. Harry Potter, agora no quinto ano em Hogwarts, nunca se sentira tão inquieto. Ele havia experimentado muitas coisas estranhas no mundo mágico, mas nada como aquilo que acabara de acontecer.

Ele não sabia ao certo como havia chegado àquele ponto. Um feitiço de transfiguração mal lançado durante um duelo secreto com Draco Malfoy havia desencadeado a transformação acidental. Agora, preso em sua forma animaga — um pequeno gato negro de olhos esverdeados —, Harry perambulava pela noite, desesperado para encontrar ajuda, mas sem meios de se comunicar.

Já fazia horas desde que ele se transformara, e a realidade de sua situação começava a pesar. Ele tentou lembrar todas as lições de transfiguração que aprendera com a Professora McGonagall, mas estava preso em sua forma, incapaz de realizar o contra-feitiço por conta própria.

Com seu corpo felino ágil e leve, ele se aventurou pelo castelo, procurando alguém — qualquer pessoa — que pudesse ajudá-lo. No entanto, a hora tardia e o medo de ser descoberto fora de sua sala comunal o deixaram hesitante em se aproximar de outros alunos ou professores.

Então, em um momento de desespero, ele decidiu ir para o Lago Negro. Talvez lá ele encontrasse um pouco de clareza, ou alguém que pudesse auxiliá-lo. E foi assim que ele acabou sendo encontrado por Avery Sr.

Naquela mesma noite, Edric Avery, um homem de postura imponente e elegância fria, andava lentamente pelas terras de Hogwarts, seus pensamentos sombrios vagando por assuntos que remontavam à sua juventude. Avery era um bruxo de sangue-puro, de uma linhagem antiga, um ex-Sonserino que mantinha laços com o mundo bruxo mais tradicional, e tinha uma visão de mundo bem definida: hierarquia, poder e lealdade às antigas tradições.

Com a guerra bruxa e a queda de Voldemort há poucos anos, Avery Sr. mantinha uma posição de neutralidade astuta, mas sempre de olho nas oportunidades que poderiam surgir. Ele estava em Hogwarts naquela noite a convite de Dumbledore, para discutir questões antigas relacionadas à história da escola. Não era um convite que ele pudesse recusar facilmente, mesmo que tivesse pouca simpatia pelo diretor.

Enquanto passeava pelo terreno escuro, os olhos de Avery captaram algo pequeno e escuro movendo-se rapidamente perto do Lago Negro. Um gato.

Ele franziu a testa.

Um gato não era uma visão comum naquelas áreas, especialmente um tão pequeno e aparentemente perdido. O animal parecia vagar sem rumo, claramente desorientado. Avery, movido por uma curiosidade incomum, se aproximou lentamente.

O gato o viu e congelou.

Avery parou a poucos metros de distância, observando o animal com interesse. Havia algo estranho naquele gato. Seus olhos verdes eram brilhantes e inteligentes demais para um simples felino.

- Você parece perdido, pequeno. - Murmurou Avery, sua voz baixa e quase melodiosa.

Harry, preso em sua forma animaga, olhou para o homem com desespero silencioso. Ele tentou correr, mas algo na presença de Avery o fez hesitar. Havia um magnetismo sombrio nele, algo que atraía a atenção de Harry, mesmo em seu estado atual.

Com cautela, Avery se ajoelhou, estendendo uma mão para o gato. Seus dedos longos e elegantes quase tocaram o pelo de Harry, mas ele não forçou o contato.

- Venha. - Ele sussurrou, e para a surpresa de Harry, seu corpo felino obedeceu.

 

Nas semanas que se seguiram, Harry foi levado para a residência dos Avery, um lugar sombrio e imponente nos arredores de Londres. O gato negro tornou-se um companheiro constante de Edric Avery, que não suspeitava da verdadeira identidade de seu novo amigo. Para Harry, o tempo passado com Avery foi uma experiência perturbadora. Ele via o homem por trás das aparências: frio, calculista, mas não desprovido de uma certa honra própria.

Avery tratava o gato com uma mistura curiosa de respeito e afeição. Ele falava com Harry como se ele fosse mais do que um simples animal, e o gato muitas vezes se encontrava deitado ao lado de Avery enquanto ele trabalhava em suas vastas coleções de pergaminhos antigos e livros de magia.

Harry, incapaz de falar, observava tudo com atenção. Ele percebia nuances no comportamento de Avery que poucos poderiam ver. O homem era solitário, um estrategista que guardava segredos profundos, mas havia algo mais... um desejo de conexão que Harry não esperava encontrar.

Em uma noite particularmente fria, Avery estava sentado em sua sala de estudos, a luz fraca das velas iluminando suas feições austeras. O gato, agora acostumado a sua nova vida temporária, se acomodou ao lado da poltrona do homem, seus olhos verdes brilhando à luz do fogo.

- Você me intriga, pequeno. - Disse Avery, olhando para o gato com um leve sorriso. - Há algo em você... uma inteligência. Não é comum.

Harry sentiu uma onda de frustração. Ele queria tanto falar, dizer a verdade, mas estava preso naquela forma. Por mais que tentasse, a magia que o transformara parecia ter enraizado profundamente, e ele não conseguia desfazê-la sozinho.

Avery olhou para o fogo por um longo tempo, e então, quase sem pensar, começou a falar.

- Minha família sempre foi... reservada. Fechada em suas próprias tradições. Eu fui criado para seguir um caminho, para manter as antigas alianças, para proteger o que é nosso. Mas, por mais que isso tenha moldado minha vida, há momentos em que eu me pergunto... se escolhi o caminho certo.

Harry ouvia atentamente, impressionado com a franqueza de Avery. Era raro ver alguém como ele — frio, calculista — mostrando sinais de dúvida. Havia uma vulnerabilidade sutil ali, algo que Harry nunca teria imaginado.

- Mas então, às vezes, algo... ou alguém... entra em sua vida e muda tudo. Mesmo que seja de forma sutil. Um simples encontro, uma presença inesperada, pode alterar o curso de nossas ações. - Avery olhou para o gato novamente, seus olhos sérios. - E eu me pergunto se você, pequeno, não é um desses sinais."

Harry estremeceu. A intensidade no olhar de Avery era quase sufocante. Havia uma conexão que ele não podia explicar, mas que se aprofundava a cada dia.

Foi naquela noite, enquanto Avery se preparava para dormir, que algo começou a mudar dentro de Harry. Ele sentiu uma onda de magia percorrer seu corpo, uma sensação familiar, mas ao mesmo tempo nova. O ar ao seu redor começou a vibrar com energia, e antes que pudesse compreender o que estava acontecendo, sua forma felina começou a se transformar.

Com um brilho súbito e intenso, Harry voltou a sua forma humana, caindo de joelhos no chão, ofegante.

Avery, que estava prestes a sair da sala, se virou abruptamente ao ouvir o som e ficou paralisado. Seus olhos se arregalaram ao ver o jovem Harry Potter ajoelhado no chão, ainda vestindo as roupas simples que usava antes de sua transformação.

- Potter? - Sussurrou Avery, incrédulo.

Harry, ainda atordoado pela mudança, ergueu os olhos para ele.

- Eu... sinto muito.

A sala ficou em silêncio por alguns instantes, enquanto Avery processava o que acabara de acontecer. Ele deu um passo à frente, seus olhos ainda fixos em Harry.

- Então... era você o tempo todo. - Murmurou Avery, sua voz sem emoção, mas com uma intensidade que fez Harry estremecer.

- Eu... eu fui transformado acidentalmente. - Explicou Harry, a voz hesitante. - Eu não conseguia voltar à minha forma humana. Eu estava... preso.

Avery permaneceu em silêncio, observando Harry com uma expressão indecifrável. Após um momento que pareceu uma eternidade, ele suspirou, relaxando a postura.

- Isso explica muitas coisas. - Disse ele suavemente, aproximando-se de Harry e parando a poucos metros de distância. - Mas agora que você está aqui... o que pretende fazer?

Harry não tinha uma resposta. Tudo o que ele sabia era que, apesar do medo que sentira ao ser levado para a casa de Avery, algo havia mudado. A maneira como Avery o tratara, mesmo sem saber quem ele realmente era, criara uma conexão entre eles. E agora, frente a frente com o homem, Harry não conseguia negar a atração silenciosa que se formara.

Ele ficou de pé, ainda um pouco incerto, mas encontrou o olhar de Avery.

- Eu... não sei. - Admitiu Harry. - Mas talvez eu devesse ficar.

Avery o encarou por mais alguns segundos, antes de dar um leve sorriso, algo quase imperceptível.

- Talvez devesse.