Avada Kedavra

Harry Potter - J. K. Rowling
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Avada Kedavra
Summary
Harry estava pronto para perder sua vida nessa guerra, se isso significasse a paz do mundo bruxo, mas a dor de perder um amor que ficou apenas no "e se..." era devastadora.

O céu estava coberto por uma nuvem densa e escura que obscurecia qualquer vestígio de luz natural. A guerra tinha chegado ao seu clímax, e as ruínas do castelo de Hogwarts testemunhavam o fim de uma era. As paredes esfaceladas, os corredores empoeirados e os gritos ao longe criavam uma sinfonia macabra que parecia predizer a inevitável queda de ambos os lados.

Harry estava de joelhos, o suor escorrendo por seu rosto sujo e seus olhos brilhando de cansaço e desespero. Suas mãos tremiam ao redor de sua varinha, mas ele não conseguia se concentrar. O campo de batalha tinha se tornado uma mistura de dor, perda e luto. Amigos mortos, inimigos caídos, e o medo constante de ser o próximo.

Ele já não sabia o que estava lutando. Era o destino ou o livre-arbítrio que o trouxera até ali? O peso do mundo nas costas estava esmagando sua alma, e, embora soubesse que tinha de continuar, algo dentro dele o fazia hesitar. Sua mente estava turva, envolta em memórias fragmentadas dos que perdera e dos momentos que o levaram até aquela batalha final.

Foi nesse momento de vulnerabilidade que Rabastan Lestrange apareceu. O Comensal da Morte avançou pelas sombras, sua capa preta esvoaçando ao vento cortante da noite. Seus olhos fixaram-se em Harry, intensos, cheios de algo que o jovem bruxo não conseguia decifrar de imediato. Harry levantou a varinha instintivamente, mas uma parte dele hesitou. O homem à sua frente não era como os outros.

- Potter. - Rabastan sussurrou, com um tom que era ao mesmo tempo um aviso e um pedido. O contraste entre sua voz suave e o caos ao redor era perturbador.

Harry o encarou, os lábios secos se entreabrindo enquanto tentava encontrar a voz. Mas o que poderia dizer? Rabastan era um inimigo, um Comensal da Morte devotado a Voldemort, mas havia algo mais, uma conexão estranha e inesperada que vinha crescendo ao longo do conflito. Um segredo não dito, que Harry mantinha como uma ferida guardada no fundo de seu coração.

- Por que está aqui? - Harry finalmente perguntou, sua voz áspera, cheia de desconfiança, mas também de algo mais profundo, algo que ele não estava preparado para admitir.

Rabastan deu mais um passo à frente, sua expressão era indecifrável, mas seus olhos traíam uma tempestade interna.

- Eu poderia lhe perguntar o mesmo, Potter. Por que ainda luta? Todos nós já estamos mortos, de uma forma ou de outra.

Essas palavras perfuraram Harry mais fundo do que qualquer feitiço poderia. Ele sabia que Rabastan estava certo. O campo de batalha ao redor era um cemitério vivo, e mesmo os que permaneciam de pé pareciam estar vivendo apenas com o combustível do ódio e da vingança. Ele sentiu as lágrimas se formarem, queimando atrás dos seus olhos, mas não as deixou cair.

- Você veio aqui para lutar? Para me matar? - Harry finalmente perguntou, segurando sua varinha com mais força, embora sua voz estivesse vacilante.

Rabastan sorriu tristemente, balançando a cabeça.

- Não, Harry... Eu não vim para isso. - Sua voz caiu para um sussurro, tão baixa que Harry teve que se inclinar levemente para ouvir. - Vim para dizer adeus.

Por um instante, o mundo parou. A guerra, os gritos distantes, o cheiro de fumaça e sangue, tudo desapareceu. A única coisa que existia era o espaço entre os dois homens. Rabastan à frente de Harry, a sombra de suas batalhas e de seus passados distintos pairando sobre eles como uma espada de Dâmocles.

Harry deu um passo à frente, o coração acelerado.

- Adeus? - Ele mal podia acreditar na palavra, na ideia. - Então é isso? Você vai simplesmente... ir embora?

Rabastan olhou para o céu, onde o Morteiro das Trevas pairava como uma marca da devastação.

- Você acha que há futuro para alguém como eu, Harry? Alguém como nós? Na guerra, somos inimigos. Mas o que somos quando a guerra acaba?

Harry ficou sem palavras. Ele sabia o que Rabastan estava perguntando, mas não sabia se tinha a resposta. A guerra os colocou em lados opostos, mas isso não impediu o crescimento daquela ligação perigosa, impossível. Ele sentiu seu peito apertar. Como poderia amar alguém como Rabastan? Alguém que escolheu o lado errado, que fez coisas terríveis?

Mas havia algo ali, algo inegável. E Harry, pela primeira vez, permitiu-se sentir. Ele abaixou a varinha, o vento frio cortando sua pele enquanto encarava o homem à sua frente.

- Não sei. - Ele sussurrou, sua voz carregada de uma verdade que ele não estava pronto para enfrentar. - Eu não sei, Rabastan.

Rabastan deu um último passo, até que estava a centímetros de Harry. Seus dedos roçaram levemente os de Harry, uma conexão tênue e frágil, como se ambos soubessem que esse era o último momento que teriam.

- Eu queria que fosse diferente. - Rabastan disse, a voz embargada, carregada de um pesar que Harry nunca havia imaginado que ele pudesse sentir. - Eu queria... que nós fôssemos diferentes.

Harry fechou os olhos, permitindo-se, por um breve instante, sentir o calor do toque de Rabastan, a proximidade de alguém que, de todas as maneiras possíveis, deveria ser seu inimigo. Mas o que a guerra não destruiu, o tempo e o destino também não puderam mudar.

Quando abriu os olhos, ele soube o que viria a seguir. Eles estavam em lados opostos. Não havia futuro para os dois.

"Avada Kedavra" era uma promessa quebrada, o destino final de uma história que nunca poderia ser. Rabastan deu um passo para trás, seus olhos encontrando os de Harry uma última vez.

O feitiço foi rápido, letal, e quando a luz verde preencheu o espaço entre eles, Harry soube que aquele adeus era definitivo.

O corpo de Rabastan caiu suavemente ao chão, e Harry ficou ali, imóvel, o peito vazio e dolorido. A guerra não tinha terminado, mas dentro de Harry, algo se partiu.

Ele caiu de joelhos ao lado de Rabastan, lágrimas finalmente escorrendo por seu rosto. O homem que ele odiava, que ele amava, que ele perdeu — tudo ao mesmo tempo. Ele se inclinou, encostando sua testa contra a de Rabastan, um último gesto de luto silencioso por tudo que não poderia ser.

A guerra continuava, mas para Harry, a batalha mais importante já havia terminado.