Segredos Entrelaçados

Harry Potter - J. K. Rowling Criminal Minds (US TV)
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Segredos Entrelaçados
Summary
Após semanas de tensão, Emily Prentiss dá um ultimato a Spencer Reid: uma última chance para ouvir sua história antes de decidir se eles ainda podem ser amigos.
Note
Esta é uma obra de ficção criada para fins de entretenimento. Os personagens de Criminal Minds pertencem a Jeff Davis e à CBS. Os personagens de Harry Potter pertencem a J.K. Rowling e à Warner Bros. Não tenho qualquer afiliação com as propriedades originais e não lucro com esta história.

O estacionamento da BAU estava silencioso àquela hora, as luzes dos postes criando sombras longas que se estendiam pelo asfalto frio. Emily Prentiss estava encostada em seu carro, os braços cruzados contra o peito, o rosto marcado por um cansaço que ia além das noites mal dormidas. Ela observava enquanto Spencer Reid se aproximava, os passos hesitantes, mas rápidos, como se ele quisesse sair daquele lugar antes que ela pudesse dizer qualquer coisa.

— Spencer — chamou ela, a voz firme, mas com um traço de vulnerabilidade que era difícil de ignorar.

Ele parou no meio do caminho, mas não se virou.

— O que foi, Emily? — perguntou, a voz fria, carregada de mágoa.

Ela respirou fundo, buscando as palavras certas.

— Nós precisamos conversar. Eu sei que você não quer, mas não podemos continuar assim.

Ele finalmente se virou, e o olhar que lançou a ela foi como uma faca afiada.

— Conversar sobre o quê? Sobre como você mentiu para todos nós? Sobre como você me fez acreditar que estava morta? Eu confiei em você, Emily. Todos nós confiamos.

A dor na voz dele foi como um soco no estômago. Emily desviou o olhar por um momento, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam cair. Ela sabia que ele estava ferido, mas ouvir isso em palavras era muito mais difícil do que imaginara.

— Eu sei que você está com raiva. Você tem todo o direito de estar — disse ela, a voz quase um sussurro. — Mas eu nunca menti para você porque quis.

Ele bufou, cruzando os braços.

— Não é o que parece.

Emily deu um passo à frente, como se a proximidade pudesse quebrar o muro entre eles.

— Spencer, escuta. Se você ainda estiver disposto, eu quero te contar tudo. Não apenas o que aconteceu com Doyle, mas tudo. Coisas que nem o Hotch sabe.

Ele ergueu uma sobrancelha, claramente cético.

— Por que eu?

— Porque você merece saber. Porque, de todas as pessoas, você foi quem mais sofreu com isso, e eu não posso deixar você continuar pensando que foi algo pessoal.

Spencer apertou os lábios, o olhar oscilando entre o chão e o rosto dela. Ele parecia estar lutando consigo mesmo, tentando decidir se valia a pena ouvir o que ela tinha a dizer. A curiosidade natural dele estava presente, mas era abafada pela raiva e pela sensação de traição.

— E se eu disser não? — perguntou ele, finalmente.

— Então eu aceito isso — respondeu ela, com mais firmeza do que sentia. — Mas eu preciso tentar. Não posso continuar assim, vendo você me olhar como se eu fosse uma estranha.

Ele não respondeu de imediato. Em vez disso, olhou para o horizonte, os ombros tensos e o rosto parcialmente sombreado pela luz do poste. Finalmente, ele soltou um suspiro pesado, como se estivesse cansado de lutar consigo mesmo.

— Tudo bem. Mas só porque eu quero entender como você achou que tudo isso era uma boa ideia.

Emily deixou escapar um suspiro de alívio, um peso saindo de seus ombros.

— Obrigada, Spencer.

— Não faça disso algo maior do que é — disse ele, já se virando para ir até seu carro. — Não significa que estou pronto para perdoar você.

Ela assentiu, mesmo sabendo que ele não podia ver.

— Eu sei.

O caminho até a casa de Emily foi silencioso. Spencer seguiu o carro dela pelas ruas de Washington, D.C., as luzes da cidade piscando ao longe. Enquanto dirigia, ele pensava nas palavras dela, no tom de voz que parecia tão... desesperado. Ele ainda estava furioso, mas a curiosidade começava a dominar. O que Emily poderia contar que justificasse tudo?

Emily, por outro lado, segurava o volante com força, os nós dos dedos brancos. Seu coração estava pesado, e a ideia de abrir completamente sua vida para Spencer era assustadora. Mas ela sabia que precisava disso. Não apenas para ele, mas para si mesma.

Quando chegaram, Emily estacionou na entrada de uma casa que parecia comum à primeira vista, mas com detalhes que Spencer notou de imediato: câmeras de segurança posicionadas estrategicamente, um pequeno portão com fechadura eletrônica, janelas reforçadas. Ela estava preparada para qualquer coisa, e isso apenas aumentava as perguntas na mente dele.

Ela esperou que ele saísse do carro antes de abrir a porta da frente. O interior da casa de Emily era surpreendentemente acolhedor, uma mistura de funcionalidade e charme pessoal. As paredes exibiam uma combinação de fotografias emolduradas e quadros abstratos. Havia uma prateleira cheia de livros, muitos deles com títulos que Spencer reconhecia como clássicos, mas outros, de capas desgastadas e escritas em línguas que ele não conseguia identificar, captaram sua atenção.

Spencer olhou ao redor, notando cada detalhe. Ele tentava ler a casa como faria com uma cena de crime, em busca de pistas que explicassem a vida de Emily fora da BAU. Mas tudo parecia... comum demais, e isso apenas aumentava sua inquietação.

Emily observava sua reação. Sabia que ele estava tentando conectar os pontos, mas que faltavam peças demais para formar uma imagem clara. Ela o guiou até a sala de estar, onde uma lareira acesa lançava uma luz suave pelo ambiente.

— Você tem bom gosto para decoração — comentou ele, o tom levemente ácido, como se quisesse quebrar o silêncio.

Emily sorriu de canto, sentindo o peso de sua ansiedade.

— Não sou a única que mora aqui, Spencer. O que você está vendo é um pouco de mim... e um pouco do meu marido.

Ele parou de observar a estante e a encarou, a surpresa passando por seu rosto.

— Marido?

Antes que ela pudesse responder, uma voz masculina ecoou do corredor.

— Em, está tudo bem?

Spencer virou-se na direção da voz, e um homem entrou na sala. Ele tinha um porte confiante, olhos verdes brilhantes e uma cicatriz em forma de raio na testa. Havia algo nele que parecia... diferente. Como se ele carregasse um peso invisível, semelhante ao de Emily, mas ainda mais antigo e denso.

O homem caminhou até eles com passos firmes, estendendo a mão para Spencer.

— Harry Potter. Você deve ser o Spencer.

Spencer apertou a mão dele, sentindo a força contida no aperto. Ele piscou, tentando associar o nome ao rosto. Havia algo vagamente familiar ali, mas ele não sabia exatamente o quê.

— Sim. Reid. Doutor Spencer Reid.

Harry deu um leve sorriso.

— Sim, o doutor. Emily fala muito de você.

Spencer olhou para Emily, buscando algum sinal que explicasse quem era esse homem e por que ela nunca o havia mencionado. Mas antes que ele pudesse formular outra pergunta, Harry gesticulou para o sofá.

— Por que não sentamos? Parece que essa conversa vai ser longa.

Emily sentou-se ao lado de Harry, enquanto Spencer escolheu uma poltrona em frente a eles. Havia um silêncio momentâneo, enquanto Emily reunia coragem para começar.

— Spencer — começou ela, com a voz firme, mas carregada de emoção. — O que eu vou te contar agora é algo que ninguém mais, além do Hotch, sabe parcialmente. Mas mesmo ele não conhece toda a história.

Spencer inclinou-se para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, o olhar fixo nela.

— Estou ouvindo.

Emily respirou fundo, sentindo o peso da confissão que estava prestes a fazer.

— Tudo começou muitos anos atrás, antes mesmo de eu entrar na BAU. Eu conheci Harry em uma missão que envolvia pessoas perigosas... tanto no mundo dele quanto no meu.

Spencer franziu a testa, confuso.

— No mundo dele?

Harry decidiu intervir, a voz calma, mas carregada de autoridade.

— Spencer, o que Emily está tentando dizer é que eu não sou exatamente... comum. Sou mágico. Literalmente.

A declaração pairou no ar, e Spencer o encarou como se estivesse ouvindo algo completamente absurdo. Ele abriu a boca para responder, mas nada saiu.

Harry pegou uma varinha que estava em seu bolso, e com um leve movimento, fez uma pequena bola de luz flutuar pelo ambiente antes de apagá-la.

— É um pouco difícil de acreditar, eu sei. Mas é a verdade.

Spencer esfregou o rosto com as mãos, tentando processar o que acabara de ver. Parte de sua mente dizia que era algum tipo de truque, mas outra parte, a que acreditava em ciência e evidências, sabia que havia testemunhado algo real.

— Isso... é magia? — perguntou ele, finalmente.

Emily assentiu, sua expressão grave.

— E por causa disso, Harry e eu nos tornamos alvos de pessoas perigosas.

Emily começou a contar a história, desde a missão que a levou a conhecer Harry, até os anos que passaram tentando proteger suas famílias. Ela explicou como sua conexão com o mundo mágico a colocou no radar de organizações que não hesitariam em machucar qualquer um associado a eles, incluindo a equipe da BAU.

Spencer ouviu em silêncio, absorvendo cada detalhe. À medida que Emily falava, ele percebeu a dor que ela carregava, o peso das decisões que tomou. Ele sentia a mágoa sendo lentamente substituída por algo mais profundo: compreensão.

Harry a apoiava em cada momento, complementando partes da história e explicando detalhes sobre o mundo mágico que Emily não entendia completamente. Quando eles mencionaram que tinham filhos, Spencer piscou, surpreso.

— Filhos? — perguntou ele, quebrando o silêncio.

Emily sorriu, mas era um sorriso melancólico.

— Sim. Teddy, nosso filho mais velho, é adotado. E também temos Lily, que está dormindo agora.

Harry acrescentou, com um toque de humor:

— São eles que nos lembram por que fazemos tudo isso.

Spencer ainda estava processando tudo o que ouvira quando Teddy entrou na sala. Ele era um adolescente com cabelos que mudavam de cor — algo que Spencer não conseguia explicar logicamente.

— Oi, mãe — disse Teddy, casualmente, antes de olhar para Spencer. — Quem é ele?

— Um amigo — respondeu Emily, tentando manter o tom leve.

Teddy deu de ombros e foi para a cozinha, deixando Spencer ainda mais intrigado. Ele olhou para Emily e Harry, os pensamentos girando em sua mente.

— Ainda não sei como me sinto sobre tudo isso — admitiu ele. — Mas... acho que entendo por que você fez o que fez.

Emily assentiu, aliviada.

— Isso é mais do que eu poderia pedir, Spencer.

Mas, mesmo enquanto a tensão diminuía, havia muito mais a ser explicado. 

— Você passou por tudo isso sozinha? — perguntou ele, a voz baixa, mas cheia de significado.

Emily hesitou por um momento antes de responder.

— Não foi fácil, Spencer. Havia dias em que eu sentia que tudo estava desmoronando. Mas eu tinha Harry... e os meninos. Eles me deram força para continuar.

Spencer assentiu, desviando o olhar para as chamas na lareira. Ele se lembrava de como Emily sempre parecia carregar o peso do mundo nos ombros, mas agora entendia que esse peso era maior do que ele jamais poderia imaginar.

— Ainda não é fácil, não é? — ele perguntou, olhando de volta para ela.

Harry respondeu antes que Emily pudesse dizer algo.

— Nunca é. Mas você aprende a lidar.

Spencer observou o homem por um momento, percebendo como ele parecia equilibrar força e vulnerabilidade de maneira quase instintiva. Não era difícil ver como ele e Emily se complementavam, cada um sustentando o outro quando necessário.

Emily se inclinou para frente, olhando diretamente para Spencer.

— Há algo que eu preciso dizer, Spencer. Algo que nunca tive a chance de explicar direito.

Spencer ergueu uma sobrancelha, esperando.

— Estou ouvindo.

— Eu nunca quis te excluir — disse ela, a voz embargada. — Nunca foi sobre você. Foi sobre manter você seguro, manter todos vocês seguros. Se eu pudesse ter feito isso de outra forma...

Ela fez uma pausa, buscando as palavras certas. Harry colocou a mão sobre a dela, oferecendo apoio silencioso.

— Eu sinto muito, Spencer — continuou Emily. — Por te magoar, por te fazer sentir que não confiava em você. Essa nunca foi a intenção.

Spencer ficou em silêncio por um longo momento. Então, finalmente, ele soltou um suspiro profundo, como se estivesse liberando um peso que carregava há semanas.

— Eu ainda estou magoado — admitiu ele. — Mas... acho que entendo agora.

Emily assentiu, o alívio visível em sua expressão. Ela sabia que ainda havia um caminho a percorrer, mas isso era um começo.

Harry se levantou e foi até a cozinha, deixando Emily e Spencer sozinhos na sala por um momento. O silêncio entre eles não era desconfortável, mas carregava a densidade de tudo o que ainda precisava ser dito.

— Você é mais forte do que eu pensava — comentou Spencer, quebrando o silêncio.

Emily ergueu uma sobrancelha, surpresa.

— Isso é um elogio?

Ele deu um leve sorriso, o primeiro que ela via em semanas.

— Acho que sim.

Harry retornou com três canecas de chá e colocou-as sobre a mesa de centro.

— Chá costuma ajudar nessas situações — disse ele, entregando uma a Spencer.

Spencer aceitou a caneca, observando o vapor subir. Ele deu um gole, tentando organizar seus pensamentos. Quando finalmente falou, sua voz estava mais firme.

— Você realmente confia nele, não é?

Emily olhou para Harry, que estava sentado ao lado dela, e sorriu.

— Com minha vida.

Harry inclinou a cabeça, um sorriso brincando em seus lábios.

— É bom saber.

Spencer observou a interação entre eles, percebendo a profundidade do vínculo que compartilhavam. Era algo que ele não podia negar ou contestar. Finalmente, ele colocou a caneca de volta na mesa e olhou para Emily.

— Então, o que acontece agora? — perguntou ele.

Emily e Harry trocaram um olhar antes que ela respondesse.

— Agora... nós seguimos em frente. E espero que possamos reconstruir o que foi quebrado.

Spencer assentiu lentamente, sentindo que, pela primeira vez em semanas, ele podia enxergar um caminho à frente. Havia muito trabalho a ser feito, mas pelo menos agora, ele sabia que não estava sozinho.