
Março, 2015.
Março, 2015.
Estava mais uma vez naquela casa.
Podia considerar que era a terceira vez. Uma quando foi torturada, uma nas memórias de Draco Malfoy e uma agora. Ao lado do marido e dos filhos.
- Não gosto desse lugar. Me trás lembranças horríveis. - Ron passou a mão pelo seu braço, onde ainda era possível ver leves marcas da faca que Bellatrix Lestrange usou para marcar “sangue ruim” há quase 20 anos atrás.
Hugo riu, enquanto Rose arrumava nervosamente o próprio vestido. Hermione colocou as mãos nos ombros da filha, tentando acalmá-la. Nenhum dos dois sabia os detalhes do que os pais tinham passado durante a guerra e o casal preferia que continuasse assim.
- Rose, fique calma. Draco Malfoy não é tão ruim quanto parece. Se Scorpius gosta de você, o pai vai gostar tanto quanto.
- Meu medo não é o Sr. Malfoy! É o papai! - respondeu, de forma rebelde. Sabia que Rose era idêntica a ela quando tinha 16 anos.
A fala de Rose Weasley foi o bastante para iniciar uma discussão com o pai. As vozes estavam começando a se alterar quando a grande porta da frente foi aberta por uma das empregadas dos Malfoy.
Uma bruxa, o que deixou Hermione extremamente feliz, ao ver que a casa não tinha mais Elfos Domésticos.
Olhou para o garoto loiro de olhos azuis vibrantes que esperava nervosamente por eles no pé da escada. Scorpius era quase igual a Draco com 16 anos. Tinha muitas das feições de Astoria Greengrass-Malfoy, sua falecida mãe.
Scorpius abriu um sorriso enorme. Algo que Hermione nunca tinha visto Draco Malfoy fazer. Ele olhou para sua filha com carinho, cumprimentando a garota com um beijo nas mãos enquanto Ronald e Hugo faziam barulhos de desaprovação.
O garoto, que era melhor amigo de Albus Severus Potter, já os conhecia. Não como namorado de Rose, é claro.
- Sr. e Sra. Weasley, bem vindos à Mansão Malfoy! - disse, de forma encantadora. Ron fez menção de corrigi-lo, informando que não era a primeira vez deles ali, mas com um olhar Hermione o calou. - Meu pai está terminando alguns assuntos no escritório e já vai se juntar a nós.
Olhou pelo ambiente, enquanto Scorpius oferecia uma bebida ao marido. Sabia que Ronald odiava o fato de sua filhinha estar namorando o Malfoy, mas já estava superando aquilo.
A lareira, emoldurada em dourado, continuava ali. A foto do casamento de Lucius e Narcisa também. Ao lado, podia ver o casamento de Draco e Astoria. O nascimento de Scorpius. O garoto andando de vassoura com o pai. Uma foto em memória de Astoria. E, bem no canto, uma foto de Scorpius Malfoy abraçado com Rose Weasley no Natal na casa dos pais de Ronald.
Scorpius sabia o que estava fazendo. Tinha sintonizado a enorme TV trouxa da sala em um canal de esportes bruxo, que noticiava mais uma vez a perda da taça pelos Chudley Cannons. Foi o bastante para ele, Ron e Hugo começarem a conversar calorosamente sobre o tópico.
- Quem diria, Granger. - ouviu a familiar voz arrastada de Malfoy chegar na sala. Não falava com o homem há, pelo menos, 10 anos. Se cumprimentavam cordialmente no ministério, assim como na estação 9 ¾, mas nunca pararam para conversar. - Eu, um Malfoy, consogro da Ministra da Magia.
Pesou as palavras. Há vinte anos atrás, seu nome Granger era dito com nojo, enquanto Malfoy com orgulho. Hoje, Draco usava o próprio nome com receio.
- Você sabe que eu uso o sobrenome de Ron, Draco. - respondeu, olhando para o homem.
- Fala sério, Granger. Quantos Weasley’s têm por aí? Oitenta?
Riu, como se estivessem de volta nos corredores de Hogwarts, provocando um ao outro. Antes de tudo aquilo acontecer. Quando ainda tinham o acordo.
- Acha que vai dar certo? - perguntou Hermione, vendo Rose interferir na discussão entre o marido e o genro. - Ele é você todinho, Draco. E ela é exatamente como eu, com o agravante da personalidade explosiva de Ronald!
Ele sorriu fraco. Olhou para os adolescentes, como se pensasse em tudo que poderia ter acontecido caso fossem eles ali.
- Claro que vai. - concluiu. - Se não fosse… Pela guerra, pelo meu pai, pelos seus amigos… Eles não tem nada contra eles. Até o pobretão gosta do meu garoto.
Ela sorriu de volta. Draco amava o filho. Mais do que tudo. Não interferiria no relacionamento dele.
- Ele é parecido comigo fisicamente. Mas tudo de bom que tem nele veio de Astoria. Ela encorajou ele a falar com a sua filha, antes de…
Não precisou completar. Sabia que Astoria tinha falecido há menos de um ano. Não era fácil.
Ouviu a empregada entrar na sala, anunciando que o jantar estava pronto. Hermione percebeu que teria de intervir na discussão entre as crianças e seu marido.
- O destino é realmente surpreendente. Nunca imaginei que meu filho seria melhor amigo de um Potter.
- Nem que se apaixonaria por uma Granger. - riu, completando.
- Acho que isso era inevitável. - respondeu, sem pensar. - Você mesma disse, ela é igualzinha a você.
Sentiu o coração pular algumas batidas. Nunca tinham falado sobre tudo o que aconteceu entre os seus 15 e 18 anos. Nunca.
Se encararam por alguns segundos. Ron e Hugo finalmente tinham desistido de brigar com Scorpius e estavam vindo na direção deles.
- Ele sabe? - questionou. - Ronald. Sabe que fui seu primeiro beijo?
- Não.
Draco Malfoy sorriu. Como se voltasse a ter quinze anos. Ele abriu a porta que levava à sala de jantar, deixando os adolescentes e o marido de Hermione Granger entrarem antes dela. Segurou a porta, de forma educada, enquanto a Ministra da Magia passava.
Hermione olhou para trás, rindo sorrateiramente enquanto dizia:
- E ele odeia Vitor até hoje.