Wild Blood

Harry Potter - J. K. Rowling
M/M
G
Wild Blood
Summary
Sirius Black sabia que deveria parar. Seu dever como auror e a guerra ao redor exigiam isso. Mas como abandonar Severus Snape, seu maior vício e sua mais perigosa obsessão?Cada encontro era uma ruína anunciada, um jogo perigoso onde ambos saíam marcados pelo desejo, pela raiva e pelo inevitável fim que se aproximava.
Note
Diferente de outras fics minhas, essa não tem nada de saudável. Eu me inspirei e até adicionei alguns trechos do livro 'O morro dos ventos uivantes', então literalmente não tem nada saudável e bonito aqui. Leiam por conta de vocês 🫶Sem revisão. Boa leitura!

**

 

Sirius não acreditava que estava fazendo aquilo, principalmente pelas costas de seus amigos, era quase que uma traição.

Mas ele simplesmente não sabia como parar, talvez tudo tenha começado ainda no primeiro ano, aquela obsessão por Severus, talvez tenha começado quando ele ofendeu a casa que o outro disse que queria ficar e tenha visto aqueles lindos olhos escuros brilharem de raiva e teimosia.

Ou talvez tenha sido durante o quinto ano, quando ele viu aqueles olhos pretos arregalados de curiosidade e êxtase ao ver pela primeira vez um lobisomem pessoalmente, Sirius se lembrava que três dias antes ele ouviu o sonserino dizer que gostaria de ver uma transformação de um lobisomem. Ele estaria amaldiçoado se negasse algo tão simples assim pra sua pequena pérola negra.

O grifinório sempre se lembraria de como o outro sempre parecia disposto a morrer e a matar apenas pra ter conhecimento. 'Conhecido é poder Black. Ninguém nunca pode tirar isso de você, a única que pode fazer isso é a morte', Severus o disse uma vez enquanto estava sentado completamente nu naquela cama transfigurada em uma sala qualquer de Hogwarts.

Quem sabe se não foi no sexto ano, o ano em que ele viu o sonserino seminu pela primeira vez. As pernas pálidas e magras do outro nunca abandonaram os seus sonhos, naquela época ele teve a impressão de que elas eram tão macias e ficariam tão lindas envolta de sua cintura. Ele teve a confirmação anos depois.

Talvez possa ter começado no sétimo ano, quando no meio de uma briga física entre os dois Severus cuspiu em seu rosto, saliva mistura com sangue, aquilo havia sido nojento, mas Sirius não pensou nisso quando beijou o outro de forma violenta e desesperada logo depois.

Eles tiveram sorte de não ter ninguém por perto naquela época e nem em todos os outros encontros noturnos que eles tiveram ao longo de seu último ano em Hogwarts.

As vezes ele só achava que aquele era o seu maior sintoma da famosa loucura Black, ele tinha a oportunidade de escolher qualquer pessoa, mas ele escolheu Severus e o aceitou sendo um criminoso. No final ele não era muito diferente de sua família.

A verdade é que ele não sabia quando começou e nem quando terminaria.

— Hoje os seus pensamentos estão mais barulhentos do que o normal Sirius. — A voz de Severus o tirou de seus pensamentos.

Eles estavam em mais um encontro em uma decadente pensão na Londres trouxa. Mesmo que o corpo magro de Severus sem roupa estivesse o abraçando, ele ainda sentia frio.

— Isso tem que acabar. — Ele respondeu se levantando e começando a vestir seu uniforme de auror.

Ele tinha que ser maduro e responsável, mas, por Merlin, eles estavam em guerra e lá estava ele transando com um comensal da morte, com o homem que ele deveria matar.

— Você sempre diz isso, mas sempre volta pra mim. — Severus se sentou na cama enquanto ria de Sirius.

Ele sentiu ainda mais raiva por aquilo ser verdade, ele sempre voltava, igual um cachorrinho sem orgulho e amor próprio.

— Vamos acabar sendo presos ou mortos.

— Apenas se um de nós dois falar sobre isso, eu não vou falar. Você vai?

Severus se levantou e parou a sua frente, sem nenhuma vergonha por estar com o corpo descoberto, talvez eles já estivessem mais do que acostumados com aquilo. Mais do que seria saudável e seguro.

— Não.

Snape riu ainda mais dele.

— Bom garoto. — Severus deu alguns tapinhas no topo de sua cabeça, Sirus o puxou ainda pra perto. Ele nunca resistiria aquela boca rosada de lábios finos.

Ele mal percebeu quando passou a puxar os cabelos escuros de Severus, o trazendo pra perto, como se aquilo fosse possível. Snape era sempre tão flexível quando estavam sozinhos. Os cabelos do outro ainda tinha um leve aspecto de oleoso, mas estava melhor do que jamais foi, talvez seja resultado dos produtos que Sirius trouxe pro outro a meses atrás.

— Seus cabelos estão maiores. — Ele conseguiu dizer assim que se separou do outro, sua voz saiu rouca.

— Você gosta? — Severus o empurrou levemente em direção a cama, sem se importa com os protestos falsos de Sirius. — Eu deixei crescer por sua causa, você adora os puxar quando me toma por trás.

Seu pau pulsou dentro da cueca. Pela segunda vez naquela semana ele chegaria atrasado no trabalho.

Eles estavam ficando confiantes demais.

**

— O que você tem Pads? — James o perguntou logo após o puxar de lado.

Eles estavam na nova casa de James e Lily, seu amigo finalmente se casou com a garota por quem sempre foi apaixonado, ou pelo menos era isso que James sempre disse.

— Como assim? Eu estou bem. — Sirius franziu as sobrancelhas pro amigo.

— Não, não está. Você não está no seu normal a anos, mas agora está ainda pior.

— Do que você está falando?

Black estava genuinamente confuso, ele não mudou nada em relação aos seus amigos. Ao fundo ele podia ouvir uma leve conversa entre Marlene, Remus e Lily.

— A partir do nosso sétimo ano você ficou mais distante, se tornou quase que outra pessoa. Eu nunca comentei porque pensei que fosse devido aos problemas da sua família. — Sirius sentiu seus ombros ficarem tensos enquanto respirava fundo. — Eu pensei que você fosse melhorar com o tempo, mas você está pior.

— Eu estou exatamente do mesmo jeito que sempre fui.

— Não está, você... ser auror era o nosso sonho, mas agora você mal parece ligar pra isso. Moody está a meio passo de te suspender.

— Então é disso que se trata? — Sua paciência já estava acabando, ele pensou que jantaria rapidamente com os seus amigos e então ele teria o restante da noite livre. Livre pro seu Sev. — Meus atrasos? Eu tenho uma vida fora do departamento.

— Eu sei disso, eu também tenho uma vida fora do Ministério. — James deu um pequeno passo pra longe dele enquanto o olhava confuso. — Eu não consigo entender Sirius. É algum problema com sua família? Você conheceu alguém recentemente?

— Não pras duas perguntas. — Foi a única resposta que ele deu, o que não era completamente mentira.

Ele não tem ouvido falar da família Black a meses e Sev não é alguém que ele conheceu recentemente.

— Marlene ainda parece interessada em você...

— Não estou interessado nela. — Ele era apenas de Severus, assim como o outro homem era apenas dele.

Ele trabalhou duro nos últimos anos pra permanecer daquela forma. Ele nunca se esqueceria da última expressão daquele homem que ousou acreditar que teria chance com Severus.

— Sirius. — James parecia cansado. — Eu não con-

— Eu estou bem Prongs, relaxe. — Sirius forçou um sorriso. Tudo o que ele não precisava era de um de seus amigos em seu pé. — Se acontecer algo ou se eu precisar de ajuda, eu virei até você.

— Você jura?

— Eu juro. Agora pare de bobagem e vamos voltar antes que a nova senhora Potter venha até aqui pra arrastar nós dois pelas orelhas.

Isso fez James sorrir um pouquinho e esquecer dele. Seu amigo era tão ingênuo.

Sirius nunca falou do seu amor em palavras, mas se os olhos falassem, o idiota mais completo poderia ter adivinhado que ele estava apaixonado por Severus.

E ele realmente deveria terminar com Severus, pro bem dos dois, mas aquilo era simplesmente impossível.

**

Dentro e fora. Dentro. Fora.

Severus era sempre tão apertado, mesmo que eles tenham feito sexo a menos de dois dias.

— Mais rápido. — Sev gemeu enquanto empinava ainda mais aquela bundinha pra Sirius. O auror puxou com força os cabelos pretos do outro enquanto investia ainda mais rápido e forte.

Snape passou a segurar a grade da cama assim que o ritmo mudou.

— Porra. — Sirius xingou baixinho, ele nunca se cansaria daquela visão.

Quando eles enfim vieram, ambos estavam suados e ofegantes.

— Você está melhorando mais a cada dia. — Sev disse com um sorriso brincalhão no rosto vermelho enquanto se virava pra olhar pra Sirius. Ambos deitados de frente um pro outro.

— Idiota. Eu que deveria falar isso. — Black levou a mão até o rosto magro de Severus, tirando alguns cabelos da pele grudenta do outro.

Sev usava o colar que Sirius o seu ainda no quinto em Hogwarts, o pocionista nunca o tirou. Quando Sirius viu aquele colar em um cofre da família, ele se lembrou de Severus, ele pensou que ficaria lindo na pele pálida do outro e ele estava certo. O colar, uma fina corrente com uma pequena pedra de ródio retangular no meio de duas pérolas negras se destacava no peito pálido de seu... Severus. Ele nem mesmo sabia o que eles eram, nunca se preocuparam em dar nome aquilo que eles tinham.

Quando ele deu aquele presente a Sev eles não estavam juntos, então ele teve que se passar por um admirador secreto e surpreendente o outro aceitou, Sirius se sentiu orgulhoso de si mesmo quando viu Snape andar pelo castelo com o colar pra todos verem.

Meses mais tarde, quando já estavam juntos, Sirius confessou que foi um presente dele, Severus disse que já sabia.

— Ah não, eu posso não ter sido tão ativo quanto você durante Hogwarts, mas eu tive minha cota de conquistas.

Severus o estava provando, ele não deveria se irritar com outro, ele sabia disso. Porém ele ainda se irritou.

— Por que você sempre tem que dizer essas merdas? — Sirius usou a mão que estava nos cabelos do outro pra apertar os cabelos de Severus. O maldito estava rindo dele.

— Ah Merlin, você fica tão sexy quando está com raiva. Eu simplesmente não resisto. — Severus subiu em cima de seu colo sem se importar com Sirius o fazendo sentir dor, na verdade o pequeno masoquista gostava da dor.

— Você é doente. — Sirius acusou puxando Severus pra um beijo acalorado.

— Nós dois somos amor.

**

A dor em sua bochecha direita irradiava por todo o seu rosto havia tempo que ele e Severus não brigavam daquela forma.

— Seu maldito bastardo. — Snape disse o olhando com raiva, seu rosto estava completamente vermelho de raiva e de sangue.

Tudo começou porque ele teve que matar Rosier, o merda de um comensal da morte e amigo de Severus.

— Você queria que eu fizesse o que?! — Sirius perguntou em quase um grito, eles estavam no meio de uma floresta qualquer. — Era ele ou James, e eu sempre escolherei James.

— Por causa do energúmeno do Potter? Francamente Black, pensei que você já teria deixado essa fase de cachorrinho domesticado pra trás. — Severus iria continuar falando, mas Sirius o interrompeu se lançando contra o outro.

Seu olho esquerdo não estava abrindo, Severus o cortou, ele apenas não sabia se o corte era em volta de seu olho ou em cima dele. O desgraçado pode ter o cegado.

— Eu não sei do que você tanto reclama, já se esqueceu que um dos seus amiguinhos matou Marlene? — Sirius acusou.

— E daí? Quem se importa? — Severus o deu um soco na lateral de seu abdômen, Sirius podia chorar de dor naquele momento, mas ainda assim ele manteve as mãos contra o pescoço pálido de Severus. — Você está triste porque a sua pequena puta está morta?

Severus nunca o deixou esquecer de que ele namorou Marlene ainda durante Hogwarts. Aquele foi um tópico de várias discussões, Severus era incapaz de aceitar que Sirius fosse amigo de uma ex namorada.

— Não é nada disso seu idiota. Mas ela era uma boa pessoa, melhor do que você jamais vai conseguir ser.

Severus gargalhou.

— E ainda assim você me escolheu em vez dela, ainda assim foi a mim que você arrastou pra essa floresta enquanto assistia ela morrer.

Sirius apertou ainda mais o pescoço do outro, vendo Severus engasgar em busca de ar.

Aquela era uma situação que ele se culparia pelo resto de sua vida.

Os aurores tinham recebido uma denúncia sobre um possível encontro entre alguns comensais, ele, James e Marlene foram alguns dos oficiais escalados pra ir. Ele apenas não esperava ver Severus ali, o pocionista não havia dito nada a ele.

O conflito fugiu do controle, logo após atingir Rosier com um feitiço, ele viu Sev e Marlene duelando, ele viu outro auror e outros dois comensais se juntarem à aquela luta. Ele ainda estava trêmulo por ver um auror tentar atingir Severus por trás quando outro comensal lançou a maldição da morte em Marlene, ele poderia salvar um deles, ele poderia lançar um feitiço que afastaria Severus ou Marlene da mira de uma varinha. E ele escolheu Severus, o maldito ingrato psicopata.

— S-Sirius. E-eu não cons- — A voz fraca de Severus o fez acordar e ele tirou rapidamente às mãos do pescoço do outro. Sua respiração estava pesada.

Severus tossiu e parecia meio pálido.

— Não fique se achando por causa disso. — Sirius se sentia esgotado. — Eu te salvei apenas porque você deve morrer pelas minhas próprias mãos.

— Não se eu te matar primeiro. — A voz de Severus estava rouca e baixa.

Ambos ficaram sentados no chão cheio de folhas lado a lado. Nenhum deles queria ir embora.

— Seremos a morte um do outro. — Sirius estava cansado.

**

Seu nariz estava sangrando, James o bateu assim que abriu a porta de sua casa e viu Sirius encharcado da água da chuva. Seu melhor amigo foi o único dos aurores que viu o que Sirius fez.

— Prong-

— Não me chame assim seu traidor. — James o empurrou pra longe da entrada da casa, fechando a porta atrás dele. — Snape? Por ele?

— Eu posso explicar. — Ele tentou, Black não queria perder James, ele não podia perder mais um irmão.

— Explicar?! Explicar Sirius? Não tem nada pra explicar. — James estava com os olhos vermelhos e inchados. — Era ele? Todo esse tempo, era ele?

— James...

— Me responda.

— Sim. — Ele sussurrou.

James ficou agitado, gesticulando com as mãos enquanto passava a andar de um lado pro outro enquanto ria igual maluco.

— Merda, mas que porra seu desgraçado. — Sirius não tentou se defender nenhum pouco do ataque de James, por mais que ele já estivesse dolorido por sua briga com Sev. — Morta, Sirius. Marlene está morta e você tem grande parcela de culpa nisso.

— Me desculpe.

— Isso não vai trazer ela de volta. — James gritou bem na sua cara, ambos estavam com a respiração pesada. Sirius mal conseguia olhar o amigo nos olhos. — Olha pra mim Sirius.

James segurou o seu rosto fortemente entre as mãos.

— T-talvez ele tenha lançado um feitiço em você... É, é isso. Um feitiço, você está enfeitiçado, não é? — James parecia desesperado. — Não tem como você estar com Snape, juntos dessa maneira. Certo? Por favor Pads.

— James... — Black não sabia como se defender e ele nem tinha como se defender. — E-estamos juntos há anos.

A visão dos olhos castanhos claros de seu irmão repletos de decepção e tristeza nunca se apagaria de sua mente. Mais um fardo pra ele carregar.

Potter se distanciou dele como se ele tivesse alguma doença contagiosa, aquilo doeu.

— Saia daqui e não volte mais.

— Prongs, por favor.

— Você vai deixá-lo e ajudar a prendê-lo? — Potter perguntou e Sirius não teve coragem de responder, aquilo nunca aconteceria. James acenou com a cabeça entendo bem o que a sua falta de resposta significava. — Você sempre será um Black, não é? Mesmo que fuja, você ainda é um Black.

— Não é tão simples assim James. Eu não queria que fosse ele, eu juro, mas el-

— Vai embora Black. — Aquilo doeu mais que qualquer soco que James o deu. — E-eu não falei sobre isso com ninguém, mas as pessoas vão saber disso mais cedo ou mais tarde, e não será bonito.

Sirius tentou se aproximar do amigo, Potter se afastou ainda mais.

— Por que Sirius? Por que logo ele? — James perguntou, sua voz estava falha e trêmula.

Black parou e tentou pensar no porquê, ele sempre se perguntou sobre aquilo. Do porque ser Snape e não qualquer outra pessoa, mas ele não tinha uma resposta que agradasse qualquer pessoa. Era Severus simplesmente porque tinha que ser ele.

— E-eu não sei. — Sirius se sentia perdido, sua vida estava desmoronando sob os seus pés e ele não podia fazer nada pra impedir. — Eu não sei do que as almas são feitas, mas é como se a alma dele e a minha fossem iguais.

**

 

— Você está feliz? — Ele perguntou pra Severus, eles tinham se encontrado mais uma vez. Mesmo que eles tenham dito que a última vez seria a mais de um mês atrás.

Sua vida estava uma bagunça, James não olhava na sua cara, Remus se distanciou de tudo e todos, Lily parecia perdida, seus colegas o olhava com desconfiança e Severus parecia contente.

— Muito. — Sev levou a colher de sopa calmante até a boca. As vezes eles se encontravam apenas pra se verem, sem ter a necessidade de transarem.

— Eu não entendo o porquê, não é como se sua vida estivesse melhor do que a minha.

Aquilo era verdade, ele se cansou de ver a quantidade de machucados que Severus estava tendo nos últimos dias. Seu ódio pelos comensais da morte continuava a crescer a cada vez que ele via a situação de Sev.

Severus olhou pra ele, ambos ficaram um tempo apenas se encarando.

— A guerra está acabando. — Severus comentou levemente. — O lorde das trevas não demorará a morrer.

— Como você consegue falar assim? Você não deveria estar triste pelo seu senhor ser derrotado? — Sirius já tinha se acostumado com o jeito estranho do outro.

— Por favor Sirius. — Snape revirou os olhos enquanto bufava. Sirius o deu um pequeno sorriso. — Eu não poderia me importar menos com aquele homem, eu já aprendi tudo que queria aprender com ele, então, ele já não tem mais serventia pra mim. E talvez possamos finalmente ir embora daqui. Da Inglaterra.

Não era a primeira vez que Severus expressava a vontade de ir embora, mas Sirius não conseguia, ele se recusava a aceitar que a vida que ele tanto gostava acabou.

Pra Severus tudo parecia mais fácil, ele não tinha ninguém que o fizesse querer ficar, o homem à sua frente sempre foi tão obcecado por conhecimentos que não surpreendeu o outro ter se tornado comensal da morte apenas pra ser aprendiz de um dos maiores bruxos que já existiu, mesmo esse bruxo sendo um criminoso de guerra. Então fazia sentido ele querer ir embora já que não tinha mais nada a ganhar.

— Você pode acabar morto por seus próprios colegas se eles ouvirem você falar assim. — Black ignorou a última frase de Severus, sobre ir embora. De novo.

Severus bufou mais forte enquanto praticamente jogava a colher no prato a sua frente, sorte que não havia sobrado comida nenhuma.

— Qual é o problema? Você vem fazendo comentários passivo agressivo, jogando indiretas e sendo simplesmente rude há semanas.

Sirius não acreditava no que estava ouvindo, ele tinha motivos pra estar agindo assim, principalmente quando o homem à sua frente tinha grande culpa em tudo que estava acontecendo em sua vida.

— O que está errado comigo? É mais fácil se você me perguntar o que está certo comigo ultimamente. — Sirius falou em um tom alto demais atraindo atenção de algumas pessoas ao seu redor, o que fez ele abaixar a voz. — Minha vida está praticamente arruinada enquanto você parece estar na sua melhor fase. Você nem mesmo se preocup-

Black calou a boca antes que pudesse falar demais, ele não precisava que Severus percebesse que ele precisava e queria um pouco mais de atenção.

— Eu não me preocupo? — Sev perguntou baixinho, seus olhos estavam duros, sua boca entortou levemente pra esquerda, como sempre fazia quando ele estava com raiva. — Eu não me preocupo? A minha vida parece estar na melhor fase? É sério isso Sirius? Tudo o que venho fazendo é me preocupar com você.

— Não parece. Eu acabei de ser praticamente expulso da Ordem e estou quase perdendo o meu emprego e você parece feliz.

— Você é cego, tão cego que eu poderia realmente ter cortado o seu olho fora na nossa última briga e ele nem faria falta. — Sev disse enquanto levava a mão direita até o colar que Sirius o deu. — Eu venho tentando te animar a semanas, eu estou tentando ficar ao seu lado, mesmo com isso custando minha vida. Ou você acha que eu ganhei todos aqueles machucados por que o Lorde me aprecia demais?

Sirius franziu as sobrancelhas, Severus sempre dizia que se machuca em missões. Desde o dia do último confronto contra os comensais que ele participou, muitos bruxos das trevas foram presos ou mortos, o que resultou em mais trabalho pro pocionista.

— Do que você está falando?

— Você deveria parar de olhar apenas pra sua bunda puro sangue e passar a olhar ao redor. — Severus se levantou, levantando uma mão na direção de Sirius e apontando pra todo o seu corpo. — Não me procure até que você esteja menos... assim.

Snape nem o deu tempo de responder, ele pegou rapidamente seu casaco e saiu do restaurante sem olhar pra trás, deixando Sirius com um gosto ruim na boca. Que merda foi aquela que acabou de acontecer?

**

Sirius entendeu. Ele foi idiota com Severus.

Mas ninguém poderia o culpar, ele estava exausto, desesperado e sozinho, pelo menos ele achou que estivesse sozinho. Igual ao seu bicho papão. Porém ele tinha Severus, ele sempre o teve.

Ele percebeu o que definitivamente não via, Severus estava cuidando dele todo esse tempo.

Ele mora sozinho em um pequeno apartamento em Londres bruxa, Severus quase não ia até lá, mas nas últimas semanas ele virou um visitante ativo. O outro sempre ia e fica por um longo tempo, sempre levando comidas com a desculpa de que Sirius era um imbecil na cozinha, sempre com bolsinhas recheadas de poções pra emergência, ele passou pra uma companhia calada a falante, algo que não era o normal dele, e ele começou a ficar mais tempo com Sirius, ele era até mais carinhoso, sempre abraçando o auror por trás e o dando vários beijinhos ao longo de seu pescoço.

E foi com isso que ele chegou a conclusão que era estúpido. Ele não poderia brigar com Severus, não com ele.

Merlin, ele matou por aquele homem, ele perdeu tudo por ele. Ele estaria disposto a morrer por Severus.

Foi com isso em mente que ele se viu percorrendo o caminho até a casa de Severus, ela ficava em lugar decadente, com vários vizinhos esquisitos, mas surpreendentemente agradáveis, eles não se intrometeram na vida um do outro. Talvez porque todos ali deveria ter algo pra esconder.

Aquele lugar combinava com Sev.

— O que você está fazendo aqui? — Foi a primeira coisa que Severus o disse assim que abriu a porta e o viu. — Veio pra brigar ainda mais?

— E-eu vim pra me desculpar. — Ele realmente não era bom com desculpas. — Lamento pela forma com que eu tenho agido ultimamente.

— Lamenta mesmo ou só não quer ficar sozinho? — Apesar de Sev o estar olhando feio, ele ainda abriu mais a porta, um convite mudo pra Sirius entrar. Ele não precisou pensar duas vezes antes de entrar na casa, sendo seguido por Severus.

— Eu lamento de verdade. — Ele se sentou no sofá velho que havia na sala quase que abandonada sem convite. A sobrancelha esquerda de Sev tremeu, ele se segurou pra não rir. — Isso não tem nada a ver com não querer ficar só. Eu apenas não posso ficar sem você.

— Palavras bonitas não vai melhorar sua situação. — Mais palavras vazias, ambos já sabiam que Sev o perdoou antes mesmo de Sirius se desculpar.

— E o que eu posso fazer pra melhorar minha situação? Basta me dizer.

— Vamos embora daqui. — Severus disse imediatamente enquanto se sentava ao seu lado. Sirius suspirou, aquela conversa de novo? — Olha, eu sei que você ainda tem esperança de fazer as pazes com Potter, mas talvez seja bom ficar um tempo longe, até tudo se acalmar.

— Por que você quer tanto ir embora? — Black se aproximou do outro, passando um braço pela cintura fina de Severus. — Aconteceu alguma coisa?

Sev desviou o olhar, havia acontecido alguma coisa.

— Não é nada sério, mas isso pode ser bom pra nós dois.

— O que aconteceu? É algo relacionado com os seus machucados frequentes? E você nunca me disse o que a nossa relação tem a ver com eles.

Severus praticamente se deitou contra ele, deixando sua cabeça bem abaixo do queixo de Sirius, de forma automática ele passou a cheirar os cabelos do outro. Cheirava a flores do campo, aquele era um cheiro que ninguém correlacionaria com Severus Snape.

— Belatrix. — Sirius ficou tenso ao ouvir o nome de sua prima. Aquela mulher era doida. — Ela nunca confiou em mim e agora está pior do que antes, ela não perde oportunidade em sugerir que eu seja um traidor. Sinto que muitos já não confiam tanto em mim como costumavam fazer.

— Ela machucou você?

— Nada que eu não tenha devolvido dez vezes pior. — Severus suspirou se afastando dele brevemente, apenas pra poder olhar pro rosto de Sirius. — Eu estou com um mal pressentimento Sirius.

Black abraçou o outro, dando um leve beijo em sua testa. Aquela era a primeira vez que Severus demonstra preocupação real com tudo que eles estavam vivendo.

E isso deixou Sirius ainda mais paranoico.

— Talvez ir embora não seja tão ruim assim. — Severus relaxou contra ele.

— Obrigado Sirius. — Sev se apertou ainda mais contra ele.

**

— Precisamos sair da Inglaterra, Sirius — A voz de Severus estava tensa, mas firme. O silêncio da sala pesada com a tensão de uma decisão inevitável. — Você concordou com isso a mais de duas semanas atrás, mas não tem me ajudado com nada, nem parece realmente disposto a ir.

Sirius, recostado contra a cabeceira da cama, observava as sombras da fraca luz brincarem no rosto de Severus. A fumaça de um cigarro barato pairava no ar entre eles, deixando tudo ainda mais claustrofóbico.

Eles estavam na casa de Severus, em seu quarto, onde Sirius passou a conhecer milimetricamente nos últimos dias, especialmente depois que ele foi suspenso de seus deveres como auror.

Ao menos ele tinha que agradecer o fato de James ter realmente mantido sua boca fechada e não ter falado dele e de Severus pra ninguém, senão ele não seria suspenso, mas sim preso por traição. Ele sabia que os aurores estavam de olho nele a meses e só não o prenderam porque não tinham provas reais.

— E ir pra onde exatamente? — Sirius perguntou com desdém, embora soubesse que a única saída era fugir. Fugir antes que fossem tragados pela guerra. — Você realmente quer que abandonemos tudo?

Severus cruzou os braços, sua postura rígida, o olhar que lançou a Sirius queimava de frustração.

— Tudo, Sirius? O que exatamente estamos abandonando? Um país em ruínas? Um futuro que não existe mais pra nós? — Severus avançou um passo, e a sombra de seu corpo se alongou no chão. — O que resta aqui além de morte e mais guerra?

— E o que vamos fazer? Viver como fugitivos? Como -?

— Sobreviver. — Severus o interrompeu, sem hesitar. — Nós vamos sobreviver, porque é isso que nos resta. Se continuarmos aqui, será o fim. E você sabe disso tanto quanto eu.

Sirius apertou o punho, a frustração fervendo dentro dele, misturada com o medo. Medo de perder mais uma vez. De perder a si mesmo, de perder Severus. Ele virou o rosto, tentando afastar a ideia.

— Pra onde iríamos? — Sua voz saiu mais baixa, quase resignada. No final ele sempre fazia o que Severus queria, sempre.

— Há lugares... — Severus hesitou, mas o olhar não vacilou. — Lugares que não pertencem a esta guerra. Lugares onde ninguém se importaria com dois fugitivos como nós. Talvez possamos ir pra alguma América, acredito que possamos passar mais despercebidos em lugares assim, podemos nos mudar com frequência pra não sermos rastreados, só nos primeiros anos, é claro.

Sirius soltou uma risada amarga.

— Dois fugitivos? Um ex-comensal e um auror traidor? Isso soa como um plano brilhante.

Severus se aproximou, Black sentiu seus ombros caírem em derrota ao ver o olhar de desespero do outro, ele odiava aquele olhar em Sev.

— É a nossa única chance. Ficar aqui é aceitar a morte. Fugir é tentar viver.

O silêncio se arrastou por alguns instantes. Sirius ergueu os olhos pra Severus, e por um segundo, tudo que viu foi a mesma coisa que o consumia há meses, a certeza de que, por mais perigosa que fosse aquela situação em que eles mesmo se enfiaram, eles não sabiam mais como deixar o outro ir.

— Quando partimos? — Perguntou finalmente, sua voz rouca.

Severus deixou escapar um suspiro quase imperceptível.

— O mais rápido possível. Amanhã à noite.

Sirius assentiu lentamente, sem desviar o olhar de Severus. Sabia que estavam à beira de algo sem retorno, e, de alguma forma, isso só o atraía mais.

Sev subiu em seu colo, ele sem roupas e o outro apenas enrolado em um roupão.

— Você não vai se arrepender Sirius. Eu prometo.

Black abraçou Severus com um braço enquanto sua mão esquerda trabalhava pra tirar aquele roupão do outro, Sev o ajudou nessa tarefa.

— Eu sei. Estaremos juntos no final.

Sev concordou com a cabeça antes de se levantar levemente sobre os joelhos e segurar firmemente o pênis de Sirius fazendo leves carícias, o suficiente pro ex auror suspirar de antecipação.

Antes que ele pudesse entender Sev o guiou pra dentro de sua bunda, Sirius ainda estava meio flácido. O pequeno bastardo fez de propósito, ele sabia que Black amava quando ficava ereto já dentro do outro, sentindo o seu calor e maciez.

Severus passou a se mexer. Sobe e desce, ritmo calmo e constante. Sirius viu vários pontos de luz.

**

O ar dentro da casa estava pesado. Sirius andava de um lado pra o outro, os ombros rígidos, os olhos sempre voltando pra a janela encoberta pelas cortinas. Algo estava errado. O tipo de errado que fazia os pelos da nuca se arrepiarem.

— Pare com isso. — Severus murmurou, dobrando uma última peça de roupa e a enfiando na bolsa. — Você está me deixando nervoso.

— E se já souberem? — Sirius ignorou o tom irritado de Severus. Caminhou até a janela, afastando levemente a cortina com a ponta dos dedos. Lá fora, a rua estava vazia, mas vazia demais. Nenhum som além do vento. Nenhuma silhueta sequer de um gato ou coruja.

Aquilo estava errado.

— Ninguém sabe. Fomos cuidadosos. — Severus fechou a bolsa e se virou pra ele. Mas antes que pudesse continuar, Sirius deu um passo pra trás, tenso. — Nunca passei o meu endereço pra ninguém e estamos no mundo trouxa.

— Há algo lá fora.

Severus estreitou os olhos e puxou a varinha no mesmo instante. O silêncio se tornou quase sufocante. Então, um estalo do lado de fora da casa.

Sirius teve meio segundo pra reagir antes que a porta explodisse pra dentro.

Feitiços cruzaram o ar como raios, colorindo a sala com lampejos violentos de luz. Sirius se jogou pra trás, puxando Severus consigo, enquanto a madeira lascada da porta caía ao redor deles.

— Snape! Black! — A voz firme e autoritária de um auror preencheu o espaço. — Rendam-se agora, e não precisaremos machucá-los.

Sirius mordeu fortemente seu lábio a ponto de sentir o gosto de seu próprio sangue, lançando um estupefaça em resposta. Um feitiço vermelho ricocheteou perto de seu rosto, e ele mal teve tempo de desviar antes que um segundo golpe rasgasse o ar.

Severus, ao seu lado, já se movia com precisão. Ele ergueu a varinha, e um feitiço sombrio sibilou de seus lábios. O auror mais próximo soltou um grito sufocado quando seu corpo foi jogado contra a parede com força suficiente pra rachar o reboco.

— Protego. — Sirius conjurou um escudo no último instante, desviando um feitiço que teria o atingido no peito. Outro auror avançou, e Sirius não hesitou antes de disparar um Expelliarmus que arrancou a varinha do inimigo, seguido de um soco direto em seu rosto.

Severus não recuou, com um único movimento fluido da varinha, conjurou uma fumaça densa e negra, obscurecendo a visão dos adversários.

— Pela janela. — Ele ordenou.

Sirius não discutiu. Saltou sobre um sofá tombado, arremessando um último feitiço antes de se lançar através do vidro com Severus logo atrás. O vidro se estilhaçou em mil pedaços quando os dois aterrissaram do lado de fora, rolando sobre a grama úmida.

— Temos que sair daqui, vem. — Severus ofegou, puxando Sirius pelo braço.

Mas antes que pudessem aparatar, outro feitiço explodiu ao lado deles, jogando poeira e terra pra todos os lados. Os aurores estavam se reagrupando.

— Estamos cercados. — Sirius rosnou, o coração martelando no peito. Inferno.

Severus cerrou os dentes.

— Então, vamos abrir caminho.

E sem hesitar, os dois se viraram pra lutar novamente.

A noite estava carregada de feitiços disparados de todos os lados, iluminando o escuro como relâmpagos incessantes. O som de magia colidindo contra pedra, madeira e carne ecoava ao redor deles, e Sirius sabia que não poderiam continuar lutando por muito mais tempo.

Sirius não queria acreditar que aquelas pessoas, os seus ex colegas se reuniram em um grande número como aquele apenas pra prender ele e Sev. Por sorte James não estava junto com eles, se estivesse tudo seria ainda pior.

Severus estava ao seu lado, desviando feitiços por um triz e lançando contra-ataques poderosos. Sirius não conseguia evitar a sensação estranha que o atingia ao vê-lo lutar assim. Ele sempre soubera que Severus era perigoso, mas nunca o vira em batalha dessa forma, era como se a própria escuridão o guiasse. Era sexy.

— Sirius! — Severus gritou, o puxando pelo braço no último segundo.

Sirius cambaleou quando um feitiço rasgou o espaço onde estivera um segundo antes, explodindo o chão com um estrondo ensurdecedor. Terra e detritos voaram ao redor deles, a poeira tornando tudo indistinto. Ele tossiu, os olhos ardendo com a fumaça e o suor escorrendo pela testa.

— Preste atenção seu cachorro. Precisamos aparatar! — Severus gritou novamente, com a voz afiada.

Sirius assentiu, girando pra se defender de outro auror que se aproximava. Mas foi um segundo, apenas um segundo de distração.

O clarão verde veio do nada.

Severus se moveu rápido demais, o jogando pra fora do clarão verde no último instante, desviando o Avada Kedavra que foi atirado contra eles, ambos estavam no chão, ainda ofegantes eles se levantaram lançando várias maldições contra os aurores.

Mas Sirius não viu o outro feitiço vindo.

A dor o atingiu como um choque brutal, queimando através de sua costela e se espalhando como fogo líquido por seu corpo. Ele arfou, os joelhos cedendo, o mundo girando enquanto o chão se aproximava rápido demais.

— Sirius!

Severus estava sobre ele no instante seguinte, os olhos arregalados de pânico. Suas mãos deslizaram pra as laterais de Sirius, pressionando a ferida, mas o sangue escorria quente e incessante entre seus dedos.

— Porra... — Sirius tentou rir, mas a dor o fez engasgar. — I-isso dói pra caralho.

— Cala a boca. — Severus sibilou, a voz cheia de desespero. Sua pequena pérola parecia perdido. — Você vai ficar bem.

Sirius tentou falar algo, mas seu corpo já começava a ceder, sua visão ficando turva. Ele sentiu Severus apertá-lo mais forte, o puxando contra si enquanto os feitiços continuavam zunindo ao redor deles.

— Se segure em mim. Forte. — Severus ordenou, os dentes cerrados.

Sirius tentou levantar a mão, mas seus membros estavam pesados, dormentes. Ele sentiu Severus se mover, a varinha apertada em sua outra mão.

O som dos aurores se aproximando era ensurdecedor.

E então, em um último ato de desespero, Severus agarrou Sirius com força, girou no próprio eixo e aparatou.

**

O impacto do chão sob seus joelhos foi brutal, mas ele mal sentiu. Seu foco estava em Sirius.

O corpo dele caiu pesado contra a terra úmida, os olhos entreabertos, o peito subindo e descendo em arfar fraco. O sangue encharcava suas vestes, escorria entre os dedos de Severus, quente e implacável.

— Não... não, não, não — Severus murmurava, as mãos trêmulas pressionando a ferida, como se pudesse impedir o inevitável apenas com força de vontade. — Sirius? Sirius.

Mas ele estava pálido demais. Frio demais. A respiração cada vez mais curta.

— Você sempre foi tão teimoso — Severus sussurrou, sentindo a própria voz falhar. — Idiota, deveriamos ter ido embora há muito tempo...

Sirius esboçou um sorriso fraco, os lábios manchados de sangue.

— V-você deve ir... — ele arquejou, os olhos fixos nos de Severus — Eles d-dev...

A frase ficou inacabada.

Severus sentiu o corpo sob suas mãos se tornar mais pesado. O ar pareceu congelar.

O silêncio veio como uma sentença. O seu pior pesadelo.

Ele não se moveu. Não piscou. Apenas encarou o rosto de Sirius, os olhos ainda abertos, mas vazios.

O vento cortante da Floresta Proibida uivava entre as árvores, sacudindo os galhos e trazendo consigo a escuridão inevitável.

Severus passou a mão pelo rosto de Sirius, fechando os olhos com os dedos manchados de sangue. Os lindos olhos cinzas que ele tanto amava.

Seus pulmões ardiam, sua visão estava embasada, seus músculos trêmulos enquanto ele negava com a cabeça.

As malditas palavras de James Potter veio a sua mente, 'você o matará, mesmo que não seja você com a varinha em mãos, ainda assim será você o culpado por sua morte', aquela maldita carta que ele recebeu do outro, a maldita carta que ele nunca disse a Sirius que existiu. Aquela havia sido a última tentativa de Potter de o fazer se afastar de Sirius, 'se você o ama, o deixe ir', ele deveria ter deixado Sirius ir.

— Vão dizer que te matei, persegue-me então. — Severus se sentia louco enquanto embalava o corpo de Sirius contra o seu. — A vítima persegue seus matadores, creio eu. Sei que fantasmas têm vagado pela terra. Então, fique sempre comigo... encarna-te em qualquer forma, me torna louco. Só não quero que me deixe neste abismo, onde não posso te encontrar... não posso viver sem minha vida, não posso viver sem minha alma.

E então, pela primeira vez em anos, ele chorou.

 

FIM.

 

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