
Capitulo 2 - Pão Demais da Conta
As sextas a tarde é quando a cafeteria tem o maior número de clientes. Remus corre entre o salão e o balcão diversas vezes, ignorando seu joelho e tentando se transformar em dois. Ele deveria usar aquela contenção mais vezes, mas Remus só se lembra do problema quando ele esta martelando firmemente em sua cabeça. Então ele precisa de um passatempo: Seu passatempo preferido é imaginar a vida de seus clientes. Tem o cara que sempre vai sexta com uma blusa social e um short de ciclista, Remus imagina que ele passa a semana toda sozinho em casa fazendo home office e, às sextas, ele decide ver pessoas, por isso a blusa social. Mas sua real paixão é o ciclismo e ele tenta encaixar isso em qualquer lugar na sua vida, então ele vem de bicicleta e, por isso, o short. Levando em conta sua bunda bem definida que Remus obviamente não repara toda semana.
Também tem o casal, Remus acha que eles passaram por uma crise no casamento e sua terapeuta indicou fazerem atividades juntos, criarem costumes e se aproveitarem da companhia um do outro. E toda sexta eles estão aqui. Ela deve ter um pouco mais de 30 anos, mas ele já deve ter seus 43. Hoje ele está mais estressado que o normal, e ela está quieta. Eles devem ter brigado porque ele se recusou a lavar a louça e ela jogou na cara dele que ele a traiu. O casamento já esta arruinado, mas ele se recusa a dividir tudo com ela e ela, por sua vez, se recusa a ser uma mulher divorciada. Ela é católica, sempre esta com um aqueles cordões de católicos com uma cruz. Remus acha triste que ela se prenda a um homem que não a ama mais apenas por pressão religiosa, mas ele não pode fazer nada a respeito disso.
O celular de Remus começou a vibrar continuamente no bolso de seu avental, mas tinha chegado o pai solo com suas duas crianças que sempre pediam chocolate quente e pão de queijo. Independente do clima. A ideia de Remus para eles é que a mãe queria conhecer o mundo, mas engravidou cedo e teve que se contentar com a pacata cidadezinha. Mas ela se ressentiu e, um dia, saiu sem deixar nada mais que uma carta. E agora o pai, um empresário bem sucedido (ele estava sempre de roupa social), fazia seu melhor para cuidar das crianças e mantê-las financeiramente. Mesmo que isso lhe cause olheiras e nenhuma vida social.
— CAPPUCCINO DA PANDORA? — Remus gritou procurando Pandora com os olhos. Eles estudaram juntos no fundamental, ela era realmente alguém que chamava atenção por onde passava. E linda, mesmo que algumas pessoas achassem ela um pouco exagerada. Remus adorava como ela expressava sua personalidade com roupas. Hoje ela vestia um saião que a mãe de Remus fez para ela, era branco e cheio de renda, babados e coisas assim. A parte de cima era uma blusa verde musgo justa nos seios dela, o que Remus precisou desviar o olhar, e mangas muito fofas que o lembravam fadas.
Enquanto ele esperava que ela aparecesse, já que estava na parte externa da cafeteria, ele resolveu conferir quem estava mandando mensagem.
Oito notificações de Black.
Aparentemente sua dupla tinha um espaço na agenda para conversar sobre o trabalho apenas às sextas. Durante toda a semana ele ignorou Remus na faculdade, mas achou interessante resolver sobre o projeto agora. Remus tinha respondido sua mensagem assim que entrou no ônibus para casa, mas Black o ignorou. Até agora.
Remus guardou o celular de novo.
****
Eram pouco mais das 8 da noite quando Remus conseguiu limpar todo o salão, fazer a lista do que tinha acabado no dia e conferir o caixa. O caminho para casa era curto, mas Remus sentia seu joelho furando ele de dentro para fora durante todo o tempo. Talvez realmente tivesse sido útil aquela fisioterapia que ele pulou, mas realmente não havia o que ser feito. Não mais.
— Boa noite, mãe. — É a primeira coisa que Remus fala em voz alta desde às 7, quando se despediu do padeiro. Hope estava na cozinha testando uma receita nova de bolo de limão, pelo cheiro. Ela sorriu para ele, lembrando-o do motivo de tudo isso. Ele precisava ajudar sua mãe.
Remus ignorou a presença do pai, que estava sentado vendo basquete na TV e deu um beijo na cabeça de sua mãe.
Depois de um banho e um remédio para dor, ele finalmente estava pronto para dormir. Foi então que ele se lembrou das mensagens que tinha ignorado.
Black: Estava pensando em um App que facilitasse a vida de quem precisa de ajuda.
Um cara obeso que mora sozinho e caiu no banho, um adolescente que sofre homofobia e esta sozinho numa rua deserta.
Algo que ligasse para a polícia (ou bombeiros, ou samu), mas que tivesse gente disponível para só conversar.
E que tivesse contato de emergência personalizado também.
Ah, Boa tarde, Remus.
Pode dar ideias também, não sei se isso seria uma boa.
Poderíamos fazer um jogo que auxiliasse na alfabetização de crianças também.
Você decide quem sabe.
Remus não pode suprimir um suspiro derrotado ao ler aquelas mensagens. Ele estava exausto, seu joelho doía e suas costas também. Tinha trabalhado o dia todo, ele queria assistir alguma coisa e capotar em 2 minutos. Mas infelizmente não era assim que poderia ser o fim de sua sexta-feira.
Remus Lupin: boa noite, black
foi mal a demora, tava trabalhando
gostei da primeira ideia, a gente pode fazer uma interface facilitada com sinais, p quem não sabe ler
acho q consigo fazer uma logo fácil no canva… qual nome vc pensou?
acha q rola a gente ficar até umas 15h na PUC na segunda pra resolver isso? ai a gente divide o que cada um faz
Infelizmente o sono de Remus não o permitiu esperar até Black responder.
****
Nessa manhã de sábado, Remus cuida do salão enquanto sua mãe ajuda Newt, o padeiro, a deixar as massas, recheios e coberturas adiantadas para a próxima semana e seu pai foi para a feira repor o que precisava para a semana. Os clientes começaram a chegar em grupos a partir das 10. Lyall chegava depois das 11, mas Remus tinha uma desconfiança de que ele demorava mais que o necessário apenas para fugir do caos do horário de pico.
— Me vê a sugestão do chef, por favor. — O sorriso de Remus cresceu ao se deparar com sua melhor amiga. Lily Evans tinha feito duas tranças no cabelo e vestia suas roupas de esporte. Aos sábados ela dava aula de defesa pessoal para mulheres. Foi com ela que, aos 17 anos, Remus aprendeu a dar um soco direito. — E com adicional de doce de leite.
— Lily! Minha Nossa Senhora, quanto tempo! — eles sorriram e ela logo deu a volta no balcão para esperar seu pedido. Hoje o chef estava com uma massa fresquinha de pão de queijo, um bolo de paçoquinha e um café com leite para ela. E seu adicional de doce de leite.
— Você mal respondeu minhas mensagens essa semana, Rem. Senti sua falta. — Remus continuou atendendo seus outros clientes enquanto ela comia.
— Tenho uma nova dupla para o trabalho daquele professor gostoso que eu te falei. Ele é um filho da puta riquinho, mas mandou mensagem ontem querendo falar do trabalho. Depois de ter me ignorado na PUC a semana toda. — Uma pausa. — GUSTAVO! — Remus volta a olhar para Lily. — Da pra acreditar?! Não suporto esses metidos, sinceramente.
— Urgh, que babaca. Acha que ele vai fazer mesmo o trabalho ou deixar tudo na sua mão? — Lily dá uma mordida realmente grande no bolo, e fala logo em seguida, com a boca cheia: — Nossa, tia Hope realmente acertou nesse.
Remus faz cara de nojo para ela por ter falado com a boca cheia, mas rouba um pedaço do seu bolo e acena positivamente, realmente estava uma delícia. Gustavo apareceu para pegar sua bebida e sua mini pizza de banana com doce de leite. O homem pisca um segundo antes de virar, fazendo Remus corar e olhar de boca aberta para Lily, que tinha parado de mastigar para observar a cena. Eles caíram na gargalhada juntos assim que o homem saiu pela porta lateral.
— Sabe, acho que você poderia voltar a pegar umas pessoas… Já faz um tempo que Marlene foi embora e você não ficou com mais ninguém depois dela. Esse riquinho ai da sua facul é gato? Cala a boca dele com sua boca. Ou melhor, com seu-
—LILY! — Remus grita de trás do caixa para ela, que gargalha terminando seu café. — Não vou ficar com ele. Tá maluca? — ele ofegou, tentando evitar morrer de vergonha ao atender os clientes que provavelmente ouviram a conversa. Lily Evans, sem filtros e sem pudor numa cafeteria num sábado de manha. Remus não poderia ter escolhido alguém melhor.
****
Quando Remus chegou em casa, depois de seu pai finalmente render seu turno, pode finalmente ver as respostas de sua dupla. Black tinha ignorado a mensagem sobre resolverem isso pessoalmente, mas respondeu a que Remus falava que estava trabalhando e até perguntou com o que ele trabalhava. Ele era uma incógnita.
Black: Você acha que conseguiríamos fazer uma ajudante virtual igual a SIRI? Ativado por voz… Ai se for uma emergência, a pessoa pode só falar “SOS” e dar o comando. O que acha?
Não que Remus fosse admitir em voz alta, mas ele tinha boas ideias. E tinha feito uma logo linda para o app deles enquanto Remus trabalhava. Era amarelo, com o nome “SOS” branco e bordas pretas. Tinha até alguns com aqueles laços de conscientização, tipo setembro amarelo. Ele pode ter pago alguém para fazer tudo isso, não se pode duvidar dos ricos. Ele parecia normal por mensagens, desde que Remus saiu do trabalho eles não pararam de conversar. Durante seu almoço, eles falaram sobre o público alvo e quais investidores se interessariam, mas ainda era necessário mais. Não estava nada resolvido, eles precisavam fechar isso e, por isso, a reunião presencial.
Remus Lupin: não sei se temos tempo p isso, mas é uma boa ideia
posso tentar uma folga na segunda p gnt dividir as tarefas e ninguém ficar sobrecarregado
segunda a tarde na biblioteca?
Black visualizou esta mensagem.