Aeternus

Harry Potter - J. K. Rowling
M/M
G
Aeternus
Summary
Severus Snape nunca se importou com o que diziam sobre ele e Lily Evans. Mas quando James Potter o pressiona sobre esse assunto mais uma vez, a verdade escapa antes que ele possa se conter.O que deveria ser apenas mais uma briga entre rivais se transforma em algo diferente, algo que fez o sonserino se odiar só mais um pouquinho. Por que ele sempre tinha que se meter naquele tipo de confusão?Mas no final ele não tinha para onde correr, até porque, nem sempre o que parece ódio é realmente ódio.
Note
Capítulo sem revisão. Boa leitura!
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Capítulo 8

*

 

Severus estava tão confuso. Era impressionante como Potter sempre parecia ser capaz de virar sua vida de cabeça pra baixo.

Ainda estava à noite, provavelmente no início da madrugada e ele não conseguia dormir.

Desde aquele episódio no banheiro, há dois dias, Severus estava fugindo do grifinório como se ele fosse uma praga a ser evitada e talvez ele realmente fosse.

Sua mente estava uma bagunça, há poucos tempos eles se odiavam mais do que tudo, viviam brigando e Severus já tinha feito as pazes com isso, de que ele sempre teria o outro assombrando sua vida, ele tinha aceitado que aquela situação se estenderia em seu último ano, mas de repente tudo mudou.

Severus precisou apenas beijar Potter pro outro mudar completamente com ele e aquilo o estava fazendo enlouquecer.

Ele tinha aprendido a lidar com o Potter valentão, mas não com o Potter apaixonado. Isso se tudo aquilo fosse verdade, ele simplesmente não conseguia entender desde quando o outro gostava dele daquela forma.

O grifinório era tão diferente dele, por mais que Severus detestasse dizer isso, mas Potter tinha uma espécie de luz e calor que incendiava tudo à sua volta, Severus não era assim. Eles não tinham nada em comum, então, por que Potter insistia em continuar com aquela história? Por que ele insistia em dar em cima de Severus e sugerir que o amava?

Uma parte dele achava que era apenas uma nova piada, uma piada cruel, porém ele tinha outra parte dentro de si que acreditava que o outro talvez pudesse estar falando a verdade.

E talvez, apenas talvez, ele quisesse que fosse verdade, mesmo não fazendo sentido nenhum.

 

*

 

— Anda logo Bartolomeu. — Severus falou com a mão direita estendida pro outro, esse que o olhava com os famosos olhinhos de cachorros. — Esses olhos não tem efeito em mim. Agora, me dê o meu dinheiro.

— Você é mau. — Barty falou fazendo biquinho, mas por fim colocou uma bolsinha cheia de dinheiro na mão de Sev.

Por mais que Severus estivesse a meio passo de enlouquecer, algumas coisas estavam indo bem. Aparentemente ninguém duvidava do ‘relacionamento’ dele e de Potter, o que teve como resultado ele com muito dinheiro em mãos, porque sim, ele fez os bastardos dos seus amigos darem o dinheiro das apostas pra ele.

— Você está feliz agora? — Charity perguntou com o rosto vermelho, pelo visto não era exatamente verdade quando ela disse que estava apostando pra poder gastar o dinheiro com ele, Severus sorriu com isso.

— Muito, obrigado por perguntar.

Eles estavam em um dos pátios do castelo, era sábado e o dia estava agradável, e ficou ainda melhor quando Severus começou a contar quanto ele conseguiu com toda aquela mentira. Tinha dado uma boa quantia.

— Eu tinha apostado quase trinta galeões… — Ele pôde ouvir Barty choramingar no ombro de Evan, mas ele não poderia se importar menos.

— Você vai sair com o idiota do seu namorado? — Regulus perguntou ao seu lado, Severus fez uma careta.

Ele ainda não entendia completamente o que o porco estava tentando fazer, mesmo que eles tenham passado as últimas semanas mais próximos, ou pelo menos estavam até aquilo, antes eles estavam agindo quase como se fossem namorados de verdade.

Ele sempre tinha calafrios com as falas obscenas de Potter. Sair de ‘Snivellus’ pra ‘morceguinho da minha vida’, era um passo grande demais. Potter parecia empenhado em testar todos os tipos estranhos de apelidos carinhosos.

As únicas coisas boas naquilo tudo era o dinheiro que ele recebeu e os olhares tristes e raivosos da maioria dos outros alunos. Essa parte era divertida.

— Ele não é meu namorado. — Ele respondeu de forma cansada, suas forças pra rebater aquele namoro de uma pessoa só estava acabada. — E não, eu não vou sair com ele. Por que você está me perguntando isso?

Regulus chegou a abrir a boca pra o responder, porém a maldita voz grave de Potter deve ter sido ouvida por todo o castelo.

— Morceguinho. — O idiota o chamou como se estivesse cantando. — Amor da minha vida.

Severus se encolheu, ele só queria desaparecer dali. Era impressionante, quanto mais ele tentava evitar o outro, mais facilmente Potter o achava.

Seus amigos suspiraram.

— Mas que cara chato. — Bruce falou enquanto olhava Potter se aproximando.

— Olá pra vocês também. — O grifinório cumprimentou seus amigos rapidamente antes de se jogar no banco ao lado de Severus, quase em cima dele. — Olá querido. Você anda meio sumido.

— Merlin, Prongs. — O cachorro do Black mais velho resmungou ao parar na frente deles, todos os amigos mais próximos de Potter estavam lá. — Você tem ideia do quão vergonhoso é assistir isso?

— Cala a boca Pads. — Potter falou entredentes pro amigo, mas ainda olhava pra Severus, aquilo o estava começando a assustá-lo. Mas então o grifinório se aproximou ainda mais e o deu um leve selinho, Severus virou o rosto na direção oposta. — Você é tão difícil, isso é empolgante.

O grifinório parecia em êxtase.

— O que você quer? — Guardando o dinheiro rapidamente, Sev perguntou. Ele estava cansado.

— Apenas passar o dia com o meu namorado, vulgo, você.

— Não, vai embora. — Potter passou um braço ao redor de sua cintura, mostrando claramente que ele não ia a lugar algum sem Severus. O sonserino não perdeu tempo em empurrar aquele braço pra longe.

Se despedindo rapidamente de seus amigos e não dando importância pros outros grifinórios, que rapidamente também foram embora, ao menos Lupin e Black.

Por mais rápido que ele estivesse tentando andar, o porco estava logo atrás dele.

— Vai embora. — Sev murmurou, pedindo aos céus que ninguém estivesse prestando atenção neles.

— Sev, não seja assim. — James ficou ao seu lado enquanto eles andavam ao redor do castelo. — Nós estamos juntos, namorando. Sabe o que isso significa? Que podemos fazer coisas de casais. Vamos lá, prometo que será legal e prometo que não tentarei nada como aquilo que aconteceu no banheiro, exceto se você quiser…

Severus apenas suspirou enquanto sentia seu rosto esquentar, decidindo não corrigir o termo ‘namorados’ e nem entrar naquele assunto embaraçoso do banheiro, ele realmente estava cansado.

— Pra que?

— Como assim, ‘pra que’? — Potter perguntou o segurando levemente pelo braço. — Nós estamos namorado, Sev.

Sua sobrancelha tremeu levemente.

— Não vou sair do castelo com você. — Quanto mais rápido ele acabasse com aquilo, mais rápido ele se livraria de Potter. Certo?

Potter o puxou pra um abraço apertado, pra logo em seguida o levar até uma área mais afastada do castelo, era quase no limite da propriedade. Era até bonitinho.

— Gostou? — O girfinório olhava atentamente pra ele, contra a sua vontade, Severus acenou brevemente com a cabeça, ganhando em troca um largo sorriso do outro.

O porco era bastante confiante, isso se toda aquela espécie de piquenique significava alguma coisa.

— Como você sabia que eu aceitaria essa palhaçada?

As bochechas de Potter ficaram levemente vermelhas enquanto ele arrastava os dois até se sentarem em cima da grande toalha. Já estava no fim da tarde, o que fazia tudo ficar ainda mais bonito e com mais cara de um encontro.

Porra, aquilo não era um encontro, certo?

James levou até uma das mãos de Sev e deu um leve beijo , o sonserino a puxou rapidamente. O idiota não parecia nem um pouco incomodado.

— Você sempre aceita minhas ideias.

— Não aceito não. — Severus franziu as sobrancelhas com aquilo.

— Aceita sim. — James o deu um sanduíche, Severus o pegou de forma automática. — Acho que é uma tentativa de se livrar de mim mais rápido, inclusive, isso me magoa.

Severus teve vontade de puxar os cabelos, a contragosto ele começou a comer, torcendo que aquilo tudo não fosse uma piada e que toda aquela comida não estivesse com algum feitiço.

No início, eles ficaram apenas em silêncio e Severus estava quase se esquecendo de Potter, mas então o grifinório resolveu falar.

— Você sabe o que vai fazer quando terminarmos a escola? Digo, eu sei que você vai ser porcionista, mas existem várias áreas dentro de poções.

Severus se virou pra olhar pro outro garoto, Potter estava estranhamente sério. Ele até pensou em não responder, aquilo não era da conta do grifinório, mas o porco estava até se comportando bem nos últimos dias, pelo menos dentro do que se podia dizer que era o normal do outro, e foi graças a mentira que o outro inventou que Sev conseguiu uma boa quantia de dinheiro.

— Quero fazer uma maestria em poções medicinais e talvez em um futuro longe me tornar medibruxo. — Ele murmurou. — Você?

— Auror. Eu vou ser auror. — Potter não hesitou nem por um segundo antes de responder, uma parte de Severus invejou o outro. Deveria ser bom ter a certeza que conseguiria alcançar os seus objetivos, muito diferente dele que tinha que esperar muitas vezes pela boa vontade de terceiros. — Você será um grande porcionista e um incrível medibruxo, tenho certeza.

— Como você tem tanta certeza disso?

Potter o olhou como se ele fosse estúpido.

— Porque você é brilhante. — Ele disse como se aquilo fosse óbvio. Os olhos castanhos claro do outro estavam brilhantes, ele tinha um pequeno sorriso ao olhar pra Severus. — Apenas um tolo negaria isso. Você é um bruxo incrível, com uma mente extraordinária.

Severus desviou o olhar ao sentir seu rosto esquentar com força. Aquele porco não tinha o direito de o deixar assim.

— Você não deveria estar preocupado sobre o quão útil eu posso ser pro Lorde das Trevas? — Isso, bastaria apenas mencionar Voldemort que Potter voltaria ao seu normal.

— Por que? Você não vai se juntar a ele.

— Desde quando sua opnião sobre mim mudou? Você sempre foi um dos que mais enchia o peito pra falar que eu sou um aspirante a comensal da morte.

Potter pareceu envergonhado ao olhar pra baixo.

—Sinto muito por isso, e por todas as outras coisas que fiz e falei. — Severus olhou atentamente pro outro, ele não conhecia aquele Potter. — Mas eu nunca acreditei que fosse seria um deles… Acho que falava isso apenas porque dessa forma seria mais fácil odiar você e você também me odiaria, e então tudo seria mais fácil. Eu lamento Severus.

Severus mordeu os lábios com força enquanto piscava rapidamente tentando afastar a leve… poeira que surgiu em seus olhos.

— Eu não perdoo você. — Ele sussurrou.

Ele simplesmente não conseguia perdoar aquilo, ele nem entendia quando o outro havia mudado tanto, quando Potter pareceu o ver como um ser humano.

— Eu sei. — James o deu um sorriso triste. — Mas ainda assim eu sempre pedirei o seu perdão.

Severus acreditava que morreria tentando entender o que se passava na mente do outro.

 

*

 

James estava com vontade de pular da torre de astronomia, como ele continuou machucando Severus daquela forma? Como ele pôde ser tão idiota?

— Por que você está fazendo isso? Se desculpando, insistindo que somos namorados. Você me odeia. — A voz de Sev estava baixa.

— Eu não odeio você.

— Não? Uau, você sempre foi muito bom em esconder esse fato. — Severus desviou o olhar novamente, mas James ainda conseguiu ver os olhos brilhando do outro. — Você vem ajudando a infernizar a minha vida há anos, você passou anos me ofendendo, me agredindo... Não tem uma única parte de mim que você já não tenha feito uma piada, você até mesmo quase me despiu na frente de toda a escola. E agora age dessa forma, como se você se importasse comigo, como se realmente fossemos namorados, como se eu devesse apenas aceitar isso.

Potter apenas olhou pro outro, olhando pro seus próprios sapatos ele suspirou. Aparentemente aquele seria o dia de grandes conversas. Ele sabia que eles teriam que conversar sobre aquilo, mas ele não pensou que seria logo após eles ficarem juntos de forma mais íntima.

Ele sabia que não tinha sido bom pra Severus, ele sabia disso, sabia que o outro merecia alguém melhor, mas ele...

— Sinto muito. Me desculpe por tudo.

— É apenas isso? — Severus parecia cansado, seus olhos, sua voz, sua postura. Tudo nele parecia já estar chegando ao limite. — É com isso que você espera que eu te perdoe?

— Não, você merece mais. — James estava falando sério sobre aquilo. — Eu não fui legal com você, me arrependo de cada coisa que eu fiz e eu quero me desculpar adequadamente, eu quero te compensar.

— Então me deixe em paz. — Severus o deu um sorriso sem humor. — Se você quer me compensar, apenas me deixe em paz. Vamos acabar com toda essa história, tudo isso já durou mais tempo do que o necessário…

Aquilo seria a coisa certa a se fazer, mas acontece que era Severus. James nunca conseguiria deixar o sonserino em paz, por mais egoísta que fosse.

— Não posso e nem consigo te dar isso. — Severus o olhou nos olhos, seus cabelos oleosos estavam presos, dando a James uma visão completa do seu rosto. E, Merlin, o sonserino era lindo.

Não lindo tipo Sirius, que tinha uma beleza indiscutível, mas ainda assim Severus era lindo.

Sev não tinha uma beleza padrão, mas ele era marcante em cada ângulo de seu rosto, desde os seus olhos pretos levemente amendoados até o seu queixo fino, os seus lábios eram finos e ressecados mas tinha um leve tom rosado que combinava lindamente com a sua pele pálida. Seu nariz adunco há anos passou a combinar com o rosto do sonserino, ele era marcante, o dava um ar misterioso e inteligente.

Os seus cabelos, mesmo que fossem oleosos, eram lindos, tão escuros e tão brilhantes, sempre cheirando a jasmim, Potter os amava.

— Potter? Você ainda está aí? — Sev balançou uma das mãos em frente ao seu rosto, James sentiu seu rosto esquentar.

— Me desculpe, o que você estava falando? — Severus suspirou enquanto balançava a cabeça.

— Esqueça, é melhor eu ir embora. — O sonserino se levantou, Potter se levantou tão rápido que chegou a ficar zonzo, com um feitiço rápido ele fez tudo do piquenique desaparecer.

— Espere, por favor. — James entrou na frente do sonserino. — Eu entendo e concordo que você tem inúmeros motivos pra me odiar, mas eu quero me desculpar genuinamente com você. Eu apenas não fiz isso até agora, porque queria que você primeiro visse que eu estou mudando.

— Mudando?

— Sim, eu ainda não sou o melhor, mas eu estou fazendo o melhor que posso. — Em um impulso de coragem James se aproximou mais do outro, o segurando gentilmente pelos braços. — Eu quero que você me veja de verdade, eu pensei que você é o tipo de pessoa que gosta mais de atitudes do que de palavras, foi por isso que nunca falei um pedido de desculpas, pelo menos não ainda. Eu queria te mostrar que me arrependo com minhas ações.

— E você pensou em fazer isso afirmando que estamos namorando? — Severus não se afastou de seus braços, aquilo era bom, certo? — Você pensou que a melhor forma de fazer isso era mentir que gosta ou se sente atraído por mim?! Essa é uma ideia estúpida, que mais parece outra piada.

— Isso não é uma piada!

— Não é? — Severus riu alto. — Então, você está me dizendo que o majestoso James Potter é no mínimo atraído por mim?

— Sim, é exatamente isso. — Severus o olhou como se ele fosse louco.

— Você é apaixonado por Lily.

— Não sou, não era dela que eu sentia ciúmes, não era os meus sentimentos por ela que me fazia agir de forma confusa e idiota.

— Como você espera que eu acredite nisso quando você falava palavras doces pra ela e a dava flores enquanto o que restava pra mim eram apenas insultos e azarações?

James sentiu seus olhos arderem. Mas que merda ele havia feito?

— E-eu estava confuso e com raiva. — Ele trouxe Sev pra mais perto. — Você era, você é tudo o que não deveria querer, um sonserino apaixonado por magia negra rodeado de pessoas que vem de famílias ruins, você parecia me odiar desde o primeiro dia e eu pensei que você era hétero e apaixonado por Evans. Eu fiquei confuso, frustrado e com raiva-

— E isso foi motivo suficiente pra tudo? — Severus tentou se soltar e mesmo não querendo James o deixou ir, mas ambos ainda ficaram perto um do outro. — Você não conseguiu lidar consigo mesmo e descontou em mim?

— Eu sei, foi estúpido. — James não queria, mas ele sentiu que começaria a chorar a qualquer momento.

Severus riu com vontade enquanto passava as mãos no rosto.

— Me deixe em paz.

— Eu não posso.

— Você pode e você vai!

Severus o olhou com raiva enquanto se aproximava dele, ambos ficando a menos de trinta centímetros de distância.

— Você foi estúpido e isso não é problema meu, você não tem o direito de me tratar igual lixo e depois achar que eu devo ficar com você.

— Eu não acho que você deva ficar comigo, eu apenas quero uma chance de te mostrar o que sinto de verdade.

— E estou dizendo não.

Severus passou por ele, James sentiu sua cabeça doer com força, aquilo não podia estar acontecendo.

— Por favor, Severus. — Ele disse baixinho, seu peito começou a doer, sua respiração ficou mais acelerada. — Por favor. Olha, eu entendo, ok? Mas apenas me dê a oportunidade de consertar as coisas.

— Não. — James levou a mão direita até o peito e apertou, sua respiração estava acelerada demais. Respirar doía. — P-Potter? Você está bem?

James se sentia meio fora de si, suas vistas estavam ruins, mais do que o normal.

— Sim, desculpe. — Ele precisou respirar fundo antes de continuar, Severus o estava olhando estranho. — Eu sei que você acha que eu apenas te maltratei durante esses anos, mas mesmo quando você não via eu tentava te ajudar-

— Essa conversa acabou, vai embora e esqueça essa história de namorados. Isso nunca existiu.

— Eu amo você. —Severus pareceu ter ficado paralisado. — Eu vou provar que eu te mereço e vou te compensar.

— E o que eu penso sobre isso não conta?

— Conta, é claro que conta.

— E você percebeu que eu disse 'não'?

Tentando se controlar, James se aproximou novamente do outro.

— Você me odeia? — Severus o olhou confuso e demorou um pouco pra responder.

— Não… — Sev parecia tão perdido, aquela visão fez seu coração doer. — Mas simplesmente porque não vale a pena, é apenas isso.

— Ótimo, isso é tudo que eu preciso. — Criando coragem o grifinório se aproximou e deu um leve beijo na testa do sonserino. — Até amanhã, Sev.

— O que?! Você é surdo ou idiota Potter?!

Ele não parou pra responder o outro, James apenas andou mais rápido. Ele apenas queria ir pro seu dormitório e pensar nos próximos passos, ele não podia errar.

 

*

 

— Tem certeza disso, James? — Moony perguntou logo nas primeiras horas da manhã do dia seguinte.

— Severus sempre quis essa planta. Eu me lembro de ver o nome dela várias vezes no livro de poções dele. — Ele falou como se aquilo justificasse sua decisão. — Ela é muito importante pra poções.

— E então isso é o suficiente pra você entrar no lago negro as cinco da manhã? — Sirius perguntou enrolado em uma coberta que ele estava dividindo com Peter, esse que parecia que estava mais dormindo do que acordado. — Isso é estúpido, por que você está fazendo isso? Ele não vai te desculpar por causa de uma planta.

— Realmente ele não vai, mas talvez com isso ele comece a ver que eu estou falando sério. — James tentava se convencer daquilo

Uma planta qualquer era muito pouco perto de tudo que Sev merecia, mas era um começo. Ele tinha que começar por um lugar, não é?

Respirando fundo ele começou a entrar no lago e começou a se arrepender no mesmo instante, a água estava gelada demais. Merlin, será que ficaria muito feio pra ele voltar atrás e fingir que nunca teve aquela ideia?

Mas antes que ele pudesse desistir, a lembrança do rostinho de Sev veio a sua mente, o seu morceguinho era tão lindo. E tinha também sua bundinha e o seu pênis, que eram duas coisas à parte, James achava que ambos deveriam parecer quase que uma pintura renascentista, pensar nisso o fez rir.

— Do que ele está rindo agora? — Ele conseguiu ouvir a voz baixinha de Peter pouco antes dele mergulhar completamente.

A água estava muito pior com ele totalmente imerso nela, ele sentia que poderia congelar.

Está legal, ele apenas tinha que achar a bendita planta e sair, era simples, certo? Exceto que não na prática, tudo estava escuro demais, ele tinha apenas uma pequena claridade devido a lua crescente, mas ainda assim quase que não era suficiente.

Ele teve que voltar à superfície pelo menos cinco vezes antes de encontrar um pequeno ramo da planta, pra sua sorte não foi tão demorado como ele pensou que seria. Seus pulmões estavam começando a doer, mas assim que ele conseguiu puxar a planta, com sua raiz, ele se virou na direção que seus amigos estavam o esperando e foi quando ele viu um sereiano atrás dele.

Perto demais, perto demais.

Merda.

O coração de James parou por um segundo.

Ele tentou nadar o mais rápido que podia, mas o sereiano era muito mais ágil, ele podia sentir o corpo escorregadio do outro contra o seu. James chutava desesperado, sentindo o peso da água e do medo travando seus movimentos. A planta escorregou da sua mão, mas ele nem percebeu.

Ele deveria ter pensado melhor antes de entrar naquele lago. Idiota.

Ele conseguiu colocar sua cabeça pra fora da água várias vezes e em todos o sereiano o puxava de volta.

O grifinório começou a se sentir cansado.

— James! — A voz de Sirius soou abafada por entre o som da água, mas James a ouviu.

Peter apontava nervosamente para o lago, e Remus já estava correndo pela margem, a varinha em punho.

O sereiano agarrou o tornozelo de James e o puxou com ainda mais força pra baixo. Ele tentou gritar algum feitiço, mas só as bolhas saíram. O desespero começou a nublar sua visão, ele não sabia o que fazer. Tudo ao seu redor parecia girar.

Merlin, que morte mais estúpida ele teria. Sev sempre esteve certo, ele era um idiota. Esse foi seu último pensamento coerente antes de tudo ficar letárgico demais.

Mesmo que fosse Moony a correr primeiro até ele, foi Sirius o primeiro a pular na água.

James ainda se lembra vagamente de Remus gritar alguma coisa, conjurando um feitiço de luz azulada que iluminou parte do lago, revelando a silhueta do sereiano se afastando um pouco, mas não o suficiente, e de Sirius se aproximando de seu corpo.

Peter gritou alguma coisa antes de correr até o castelo, mas ele não conseguiu ouvir claramente.

Sirius agarrou James pelos braços, James se sentia como na brincadeira trouxa que Remus os mostrou há anos atrás, o jogo de cabo de guerra e ele era a corda, seu corpo doía completamente.

Remus lançou um feitiço de impacto que ricocheteou pela água, assustando o sereiano o bastante para fazê-lo recuar.

Com esforço, Sirius conseguiu puxar James até a superfície. Ele tossiu, engasgou com água, mas seus olhos estavam querendo fechar mais do que qualquer outra coisa. Estava difícil até pra respirar.

— Não, não, não faz isso comigo, James... — Sirius murmurou desesperado enquanto Remus ajudava a tirá-lo completamente da água.

Ao longe ele pôde ouvir os passos pesados e rápidos, provavelmente Peter e algum professor, mas ele não conseguiu ver, seus olhos fecharam sem que ele percebesse.

James acordou com uma luz amarelada demais nos olhos. Piscar doía. Olhar brevemente pra sua esquerda ele viu a cortina amarela da enfermaria.

Droga.

Ele se mexeu e percebeu algo quente pressionando levemente contra o seu corpo. Ao virar a cabeça, viu Severus sentado ao seu lado na cama, uma curta distância os separava.

O sonserino estava olhando pra ele com a expressão séria demais, James quase queria voltar pro lago negro.

O rosto de Severus estava tenso, os olhos cansados e, surpreendentemente, ele parecia preocupado, preocupado com James. Havia também um pequeno corte em sua sobrancelha, aquele corte não estava ali antes.

Apesar de Severus estar com os olhos abertos, ele parecia estar em outro lugar, ele parecia não estar realmente vendo James.

— Sev... — Ele tentou falar, mas saiu rouco demais. Tudo doía.

Severus despertou no mesmo instante, mirando em seus olhos. Seus olhos estavam caídos, mas abertos e atentos.

— Você é um idiota completo, — Severus sussurrou. A voz saiu trêmula e furiosa. — Por que... por que você faria isso? Você não pode ser tão estúpido assim pra entrar no lago negro, você sempre tentou o seu melhor pra me fazer estar errado e agora decide me fazer ser o certo?! Você tem merda na cabeça Potter?!

James sorriu, fraco, mas verdadeiro.

— Não fale assim comigo, estou doentinho… — James falou com um pequeno sorriso, mesmo que seu peito doesse. Severus franziu o rosto todo e respirou fundo, indicativo suficiente pra Potter parar de brincar. —Foi pela planta, aquela que você sempre pareceu querer. Nectáurea, ou algo assim, acho que nem me lembro mais…

— Eu não preciso de uma planta seu idiota. — Sev o olhou como se ele fosse estúpido. — Por que fazer isso?

— Foi o meu primeiro passo pra mostrar que eu me importo.

— É, e quase vira o seu único passo também, não é? — James sentiu seu rosto esquentar. — Não faça algo assim novamente, eu não quero ter que passar por isso-... eu não quero ter Black na porta da comunal da minha casa novamente, ele é bastante exagerado e expansivo. Não gosto dele.

Potter sorriu com aquilo, o seu morceguinho se importava, ele não odiava James nem um pouco. Mas então o seu sorriso morreu.

— Como você conseguiu esse corte na sobrancelha? — Sua mente, mesmo que lenta, começou a funcionar. Sirius não fez aquilo, certo?

— Não foi Black. — Sev revirou os olhos. — Ele não é o único que não gosta de mim.

— Quem foi?

— Você quase morreu James, vai dormir.

— Mas eu quero saber quem foi…

— Depois. — Severus suspirou. — Agora durma que eu tenho que voltar pra aula.

James fez biquinho, o que fez Severus bufar e fazer uma expressão de nojo, o grifinório riu.

— Você vai ficar aqui até eu dormir? Por favor. — Potter fez o seu melhor olhar de cachorrinho.

— Você é patético. — Mesmo que Sev estivesse ofendendo, James ainda percebeu um leve carinho na voz do outro. Quando ele pensou que o outro apenas fosse embora, o sonserino segurou sua mão de forma hesitante, James sentiu seu coração acelerar. — Nem uma palavra sobre isso.

— Sim, claro. — Naquele momento James concordaria com qualquer coisa que Sev dissesse.

— Mas… sabe, você ao menos conseguiu pegar a planta? — O seu rosto voltou a esquentar e ele desviou o olhar com aquela pergunta, Severus riu com força. — Você é realmente estúpido, seu porco.

 

*

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