
A Chama Que Nos Une
O Grande Salão estava mergulhado em um silêncio tenso, rompido apenas pelo crepitar das chamas azuis e douradas do Cálice de Fogo. As tochas flutuantes lançavam uma luz suave sobre as mesas das casas, onde estudantes cochichavam em tom excitado. As decorações do Torneio Tribruxo brilhavam com um esplendor majestoso, mas Harry Potter sentia-se deslocado no meio de tudo aquilo.
Ele se remexia no banco, tentando ignorar o frio na espinha que sentia desde que o torneio fora anunciado. Seu estômago estava revirado, e as palmas das mãos estavam úmidas. Ele nunca quisera participar. Nunca quisera estar ali.
O silêncio foi quebrado pela voz firme de Alvo Dumbledore ecoando pelas paredes de pedra.
— Cedric Diggory!
A reação foi imediata. Os alunos da Lufa-Lufa explodiram em aplausos e gritos de incentivo, suas vozes vibrando com orgulho. Cedric, com um sorriso modesto no rosto, levantou-se graciosamente. Seus cabelos castanho-claros reluziam sob a luz das tochas enquanto ele caminhava até a Sala dos Campeões. Havia algo em Cedric que inspirava respeito. Ele era justo, bondoso e, acima de tudo, não era arrogante em sua popularidade.
Harry aplaudiu junto com os outros, tentando sentir-se genuinamente feliz pelo garoto mais velho. Cedric merecia. Ele era o campeão perfeito para Hogwarts. E, com isso, tudo deveria acabar. Não deveria?
Mas então, as chamas mudaram.
O fogo no Cálice, que antes ardia em tons de azul profundo, se ergueu em um brilho escarlate incandescente. Por um momento, o ar pareceu vibrar, e um pedaço de pergaminho foi cuspido para fora, dançando lentamente até a mão de Dumbledore.
O salão mergulhou em um silêncio sepulcral. Cada olhar estava fixo na figura alta e imponente do diretor, que pegou o pergaminho com um franzir de sobrancelhas. Sua expressão, que sempre irradiava calma e controle, se alterou. Primeiro, confusão. Depois, algo mais sombrio – um lampejo de urgência mal disfarçada.
Ele ergueu os olhos por cima dos óculos meia-lua.
— Harry Potter.
O coração de Harry parou. Por um segundo que pareceu se estender por uma eternidade, ele pensou ter ouvido errado. Mas o silêncio espesso que tomou o salão deixou claro que não havia engano. Milhares de olhos estavam voltados para ele, incrédulos, chocados – alguns cheios de suspeita.
Ao seu lado, Ron congelou como se tivesse levado um feitiço Petrificus Totalus. Hermione, com o rosto pálido, levou uma mão à boca, os olhos arregalados de horror.
— Não pode ser — Harry murmurou, o pânico surgindo em ondas geladas que percorriam sua espinha. — Eu não coloquei meu nome.
— Harry, vá para a Sala dos Campeões — a voz de Dumbledore cortou o silêncio como uma lâmina, e havia algo em seu tom – uma tensão que Harry nunca ouvira antes.
O garoto se levantou em um movimento quase automático, as pernas trêmulas sob o peso invisível daquela revelação. Cada passo em direção ao Cálice parecia interminável, como se estivesse sendo levado a um julgamento do qual não podia escapar.
Enquanto avançava, seu olhar cruzou com o de Fleur Delacour. Ela estava sentada com os estudantes de Beauxbatons, seu cabelo prateado caindo em ondas perfeitas sobre os ombros. Seus olhos azuis brilharam com algo indefinido – surpresa, talvez? Ou seria outra coisa? Viktor Krum, com seu semblante fechado e austero, também o observava com atenção. A expressão dele não revelava nada, mas Harry sentiu um arrepio ao perceber a intensidade de seu olhar.
O mundo ao redor parecia um borrão de vozes abafadas e luzes oscilantes. Harry tentava reunir seus pensamentos, mas eles escapavam como areia entre os dedos. Não importava quantas vezes repetisse para si mesmo que não tinha feito nada de errado – o peso da acusação silenciosa já se alojava em seus ombros.
A porta pesada da Sala dos Campeões se fechou com um baque surdo atrás de Harry, abafando o burburinho distante do Grande Salão. O ambiente era iluminado por um fogo crepitante em uma lareira de pedra, lançando sombras dançantes pelas paredes cobertas por tapeçarias antigas. Havia um certo calor ali, mas não era suficiente para dissipar o frio que parecia ter se instalado em seus ossos.
Seus olhos varreram o cômodo. Viktor Krum estava encostado em uma parede, os braços cruzados sobre o peito largo, sua expressão ainda mais fechada do que o normal. Fleur Delacour permanecia em pé perto da lareira, a luz tremulante acentuando os traços delicados e a pele alva como porcelana. Cedric Diggory, por sua vez, estava ao lado de uma mesa robusta, os dedos tamborilando em um ritmo ansioso no tampo de madeira polida.
Por um momento, ninguém falou.
Harry sentia o peso de três olhares intensos sobre si, cada um carregado de perguntas não ditas. O silêncio se alongou, denso como um feitiço mal lançado, até ser quebrado por Cedric.
— Como isso aconteceu? — A voz dele era firme, mas havia uma nota de preocupação genuína misturada ao choque. — Você colocou seu nome no Cálice, Harry?
— Não — Harry respondeu imediatamente, a frustração latejando em sua voz. — Eu não coloquei meu nome. Nem poderia. Eu... eu nem sei como isso aconteceu.
Fleur inclinou a cabeça, os cabelos prateados deslizando como seda por seu ombro. Havia algo em seu olhar que misturava dúvida e curiosidade.
— É impossível para alguém abaixo da idade participar — ela murmurou, sua voz carregada pelo sotaque francês. — O Cálice tem feitiços antigos, e ainda assim... seu nome saiu. Alguém deve ter feito isso por você.
Harry fechou as mãos em punhos ao lado do corpo, tentando controlar a tempestade de emoções que se agitava em seu peito. Era injusto. Ele nunca quisera nada disso. Tudo o que desejava era um ano tranquilo em Hogwarts, longe de aventuras mortais.
— Eu não queria estar aqui — ele disse, e sua voz tremeu levemente. — Eu não queria mais um torneio. Eu só quero... quero que isso acabe.
Por um instante, o semblante rígido de Viktor amoleceu. Ele se afastou da parede, suas botas ressoando no piso de pedra, e parou a poucos passos de Harry.
— Você está assustado, não está? — perguntou, seu tom baixo e rouco, mas sem qualquer julgamento.
Harry piscou rapidamente, sentindo um aperto na garganta. Era mais do que medo. Era cansaço. Era o peso esmagador de estar sempre no centro de algo maior do que ele podia compreender.
— Claro que estou — admitiu em um sussurro. — Eu nem sei o que está acontecendo. Todo mundo vai pensar que eu trapaceei.
— Eu não penso isso — Cedric afirmou, dando um passo à frente. — Conheço você o suficiente para saber que não faria algo assim. — Ele hesitou por um momento antes de acrescentar, com um sorriso suave: — E você já tem problemas demais sem um torneio mortal, certo?
A tentativa de aliviar a tensão arrancou um sorriso fraco de Harry, mas o peso em seu peito permaneceu.
Fleur, no entanto, não estava convencida. Seus olhos claros brilharam com intensidade enquanto ela estudava Harry, como se tentasse enxergar além do que ele dizia.
— Há algo estranho nisso — murmurou, quase para si mesma. — Eu consigo sentir.
Harry franziu o cenho, confuso.
— Sentir o quê?
Ela balançou a cabeça devagar, mas não respondeu. Ao seu lado, Viktor pareceu se retesar ligeiramente, como se também tivesse percebido algo, mas permaneceu em silêncio.
Antes que mais perguntas fossem feitas, a porta se abriu com um estrondo. Dumbledore entrou na sala em passos largos, seguido por Barty Crouch, Minerva McGonagall e Severo Snape. O rosto do diretor, normalmente calmo, estava carregado de uma urgência contida.
— Senhor Potter — Dumbledore começou, sua voz firme. — Você colocou seu nome no Cálice de Fogo?
Harry sentiu um calafrio ao ouvir aquelas palavras, mais frias do que as paredes de pedra ao seu redor. Seus olhos verdes encontraram os de Dumbledore, e ele respondeu com toda a convicção que conseguiu reunir.
— Não, senhor. Eu não coloquei.
O clima na Sala dos Campeões continuava carregado, quase sufocante. Dumbledore mantinha o olhar fixo em Harry, os olhos azul-claro faiscando por trás das lentes em meia-lua. Atrás dele, Barty Crouch parecia ainda mais pálido do que de costume, as profundas olheiras denunciando seu cansaço. A Professora McGonagall, ao contrário, mantinha a postura rígida e protetora, mas seus lábios estavam apertados em uma linha severa. Snape, por outro lado, observava Harry com seu habitual desprezo silencioso, como se esperasse a qualquer momento uma confissão de culpa.
— Há algum feitiço que possa forçar o Cálice a aceitar um nome? — Cedric quebrou o silêncio, sua voz mais calma do que as emoções fervilhando na sala. Ele olhava diretamente para Crouch, que limpou a garganta antes de responder.
— Sim... mas é uma magia antiga e complexa — a voz dele soou seca, como se cada palavra lhe custasse um esforço. — O Cálice é um artefato de poder, não é facilmente enganado. Alguém, um bruxo muito habilidoso, deve ter usado uma poderosa magia de Confundus para burlar suas defesas.
Viktor se mexeu ligeiramente, seus ombros largos tensionados sob a capa pesada. Seus olhos escuros avaliavam a situação com uma atenção silenciosa e calculada.
— E por que alguém faria isso? — Sua pergunta veio em um tom grave, carregado com uma preocupação implícita. — Por que colocar Harry em perigo?
Fleur, que até então permanecia quieta, ergueu o queixo delicado. Seus olhos brilhavam com um misto de frustração e suspeita.
— Por quê? — repetiu, a voz melodiosa carregando uma ponta de irritação. — Talvez para vê-lo morto. O Torneio Tribruxo não é um jogo para crianças.
As palavras pairaram no ar como uma sentença. Harry engoliu em seco, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. O peso daquela verdade começava a se instalar em sua mente — alguém queria vê-lo competindo, sabendo muito bem os riscos mortais que isso envolvia.
— Eu não pedi isso... — murmurou, quase para si mesmo, o coração batendo em um ritmo acelerado no peito.
— Sabemos disso — Cedric interveio rapidamente, sua voz firme. — Não estamos dizendo que você quis, Harry. Mas agora que está dentro... não há como sair, certo? — Ele olhou de relance para Dumbledore em busca de confirmação.
O diretor assentiu devagar, as rugas em sua testa parecendo mais profundas do que nunca.
— As regras do Cálice de Fogo são vinculativas — explicou, o tom de sua voz baixo e grave. — Uma vez que o nome é escolhido, o campeão está obrigado a competir. Não há escapatória sem consequências severas.
Harry sentiu um nó se formar em seu estômago. O pânico que tentava manter sob controle ameaçava romper suas defesas. Ele queria fugir. Queria gritar que aquilo não era justo. Mas o cansaço e a pressão o deixavam quase entorpecido.
Foi Viktor quem, mais uma vez, quebrou o silêncio.
— Ele não vai enfrentar isso sozinho — declarou, as palavras carregadas de uma convicção inabalável. — Vamos protegê-lo.
A afirmação simples, porém poderosa, pairou no ar como uma promessa. Fleur assentiu lentamente, seus longos cabelos prateados balançando com o movimento.
— Ele não merece estar sozinho nisso — concordou ela, lançando a Harry um olhar mais suave, quase protetor. — Vamos garantir que ele sobreviva.
Cedric não hesitou.
— Pode contar comigo também — disse, e havia uma certeza tranquila em sua voz. — Não importa o que aconteça, Harry, não vamos deixar você enfrentar isso sozinho.
Por um instante, o peso esmagador do medo em Harry aliviou-se. Pela primeira vez desde que seu nome saíra do Cálice, ele não se sentia completamente isolado. Mesmo em meio ao caos e à incerteza, havia três pessoas que, de alguma forma, escolheram estar ao seu lado.
Dumbledore observou os campeões em silêncio, e algo em sua expressão — talvez um lampejo de alívio ou de compreensão — suavizou-se por um breve momento. Quando ele falou novamente, sua voz retomou a calma controlada.
— Muito bem — disse ele. — O Torneio continuará, e vocês devem se preparar para a primeira tarefa. Mas, Harry... — O olhar dele tornou-se mais penetrante. — Tome cuidado. Há mais em jogo aqui do que parece.
Com isso, ele se virou e deixou a sala, seguido por Crouch e McGonagall. Snape lançou um último olhar carregado de desprezo antes de sair, o som de sua capa esvoaçando ecoando na sala silenciosa.
Assim que a porta se fechou, o silêncio que restou foi mais pesado do que nunca.
— Você deve estar exausto — Cedric quebrou a tensão, seu tom mais gentil. — Quer ir para a Torre da Grifinória? Eu te acompanho.
Mas Harry hesitou. A ideia de voltar para a Torre, enfrentar os olhares curiosos e as perguntas incessantes, fazia seu estômago revirar.
— Ou você pode ficar com a gente — Viktor sugeriu de repente, sua voz firme, mas de alguma forma acolhedora. — O navio Durmstrang é mais tranquilo. Ninguém vai te incomodar lá.
Harry ergueu os olhos para Viktor, surpreso com a oferta. A ideia de escapar do turbilhão que Hogwarts se tornara era tentadora — e, mais do que isso, a companhia deles lhe trazia uma estranha sensação de segurança.
— Eu... eu agradeceria muito — ele respondeu, sua voz mais suave, quase aliviada.
Viktor assentiu uma vez, decidido.
— Então está resolvido. Vamos levá-lo para um lugar seguro.
A noite havia caído sobre os terrenos de Hogwarts, envolvendo o castelo em um manto de escuridão silenciosa. As luzes tremeluzentes das janelas lançavam reflexos dourados sobre o lago negro, que se estendia como um espelho escuro sob a luz pálida da lua. O vento soprava gelado, carregando o cheiro da umidade e da madeira envelhecida do navio Durmstrang, ancorado nas profundezas do lago.
Harry caminhava entre Viktor, Fleur e Cedric, sentindo o peso do cansaço em cada passo. Seu corpo ainda tremia ligeiramente — talvez pelo frio, talvez pela tensão que não conseguia dissipar. A oferta de Viktor em levá-lo para o navio havia sido inesperada, mas, naquele momento, parecia a única coisa que fazia sentido.
— Está tudo bem? — A voz de Cedric quebrou o silêncio enquanto eles se aproximavam do píer. Havia uma gentileza sincera em suas palavras, um tom acolhedor que aquecia algo dentro de Harry.
— Sim... Obrigado — respondeu Harry, a voz baixa e rouca. — Eu só... não consigo entender por que alguém faria isso.
— Não tente entender agora — Viktor murmurou, seus olhos sombrios fixos no lago. — Primeiro, você precisa descansar. Depois, pensaremos em como resolver isso.
Fleur olhou para Harry, seus olhos azuis mais suaves na escuridão.
— Você não precisa carregar isso sozinho — disse ela, sua voz como uma brisa leve. — Não vamos deixar que te machuquem.
Harry se permitiu relaxar, pelo menos um pouco. A presença deles, de alguma forma, tornava a situação um pouco mais suportável. Eles cruzaram o píer de madeira rangente até alcançarem o imponente navio de Durmstrang. As velas, mesmo recolhidas, pareciam fantasmagóricas à luz da lua, e a madeira negra do casco brilhava com a umidade da noite.
Viktor liderou o caminho, murmurando um feitiço em búlgaro que fez uma escotilha de ferro se abrir com um rangido baixo. Harry hesitou por um instante antes de seguir os outros para dentro. O interior do navio era aquecido, em contraste com o frio cortante do lado de fora. O ar tinha o cheiro levemente defumado de lareiras e cera derretida.
— Meu quarto é o maior — Viktor explicou, guiando-os por um corredor estreito iluminado por lanternas encantadas. — Poliakoff não se importa que vocês fiquem aqui, contanto que não causem problemas.
A cabine de Viktor era mais espaçosa do que Harry esperava. Havia uma grande cama contra a parede, coberta por mantas grossas em tons escuros. Uma escrivaninha pesada de madeira escura estava empilhada com livros e pergaminhos, e uma pequena lareira crepitava silenciosamente, espalhando um calor acolhedor pelo ambiente.
— Pode sentar — Viktor gesticulou, indicando a cama, antes de se afastar para um armário embutido. — Vou pegar algumas roupas para você se trocar.
Harry sentou-se na beira da cama, o peso do dia inteiro o atingindo de uma vez. Seus ombros caíram e ele apoiou os cotovelos nos joelhos, esfregando o rosto com as mãos.
Fleur sentou-se ao seu lado, seus dedos gelados tocando de leve a mão dele.
— Você está seguro aqui, Harry. Ninguém pode te alcançar neste lugar.
Cedric se recostou contra a parede próxima, observando Harry com uma mistura de preocupação e determinação.
— Faremos o que for preciso para te proteger — afirmou. — Não importa contra quem.
Viktor voltou com um conjunto de roupas simples
— um suéter grosso de lã cinza e calças de linho escuras. — Aqui — disse ele, estendendo as peças para Harry. — Vai se sentir mais confortável.
— Obrigado — murmurou Harry, aceitando as roupas. Algo na gentileza prática de Viktor o fazia sentir-se mais à vontade.
Enquanto Harry se levantava para se trocar no banheiro ao lado, Fleur e Viktor trocaram um olhar breve, mas carregado de significado. Havia algo em Harry que os atraía de uma forma que não conseguiam explicar completamente. A herança veela de Fleur e a ascendência dracônica de Viktor pulsavam em seus sentidos, como um fio invisível os conectando ao garoto magricela e esgotado que agora se refugiava em seu espaço.
— Ele é mais forte do que parece — murmurou Viktor em búlgaro, os olhos ainda fixos na porta fechada do banheiro.
Fleur assentiu devagar, a expressão pensativa.
— Mas está tão... machucado — respondeu em voz baixa. — Alguém precisa cuidar dele.
— Nós vamos cuidar — Cedric interveio, sua voz suave, mas firme. — Não deixaremos que ele passe por isso sozinho.
A porta do banheiro se abriu, e Harry voltou vestindo as roupas de Viktor. O suéter era um pouco grande para ele, mas o tecido quente o envolvia em um conforto inesperado. Ele parou por um momento, surpreso ao ver os três ainda ali, esperando por ele.
— Vocês... não precisam ficar — disse ele, sem saber exatamente como expressar o que sentia.
— Queremos ficar — Fleur respondeu prontamente, um pequeno sorriso suavizando suas feições. — Não vamos a lugar nenhum.
Harry olhou para cada um deles, sentindo algo em seu peito se apertar. Não sabia como expressar sua gratidão, então simplesmente assentiu, aceitando a presença deles em silêncio.
— Venha — Viktor indicou a cama novamente. — Está na hora de descansar. Amanhã pensaremos no que fazer.
Com uma hesitação mínima, Harry se sentou novamente. Para sua surpresa, Fleur se acomodou ao seu lado, e Cedric tomou o outro. Viktor apagou as luzes com um movimento da varinha antes de se aproximar deles.
A penumbra suave da cabine era quebrada apenas pelo brilho âmbar das chamas na lareira. O calor espalhava-se lentamente, afastando o frio da noite, mas o peso invisível da tensão pairava sobre os quatro ocupantes do pequeno espaço. O silêncio era denso, como se cada um deles carregasse uma parte do fardo que agora recaía sobre Harry.
Harry estava sentado entre Fleur e Cedric, suas mãos descansando no colo enquanto tentava absorver a segurança inesperada que aquela situação lhe proporcionava. As roupas de Viktor, embora um pouco grandes, eram incrivelmente confortáveis e cheiravam a especiarias e ao ar salgado do mar. Era uma sensação estranha, quase doméstica, em contraste com o caos que sua vida tinha se tornado desde o anúncio do Cálice de Fogo.
Viktor, agora apoiado contra a mesa, os braços cruzados sobre o peito, observava Harry com uma intensidade tranquila. Seus olhos escuros captavam cada pequeno gesto, cada suspiro contido, como se tentasse decifrar as emoções tumultuadas do garoto à sua frente. Havia algo ali que ele não conseguia ignorar — um impulso primal, uma necessidade silenciosa de proteger Harry de tudo que tentasse feri-lo.
— Você está seguro aqui — Viktor quebrou o silêncio, sua voz rouca e firme, como se quisesse tornar aquela promessa algo imutável. — Ninguém entrará neste navio sem minha permissão.
Fleur assentiu, inclinando-se um pouco mais para perto de Harry. Seus cabelos dourados caíam em ondas suaves sobre os ombros enquanto seus olhos o analisavam com atenção. A herança veela vibrava sob sua pele, reagindo ao laço invisível que começava a se formar entre eles.
— E se alguém tentar te forçar a participar do Torneio... — Ela fez uma pausa, o tom de sua voz se tornando mais decidido. — Nós encontraremos uma maneira de impedir. Você não está sozinho, Harry.
Por um momento, Harry sentiu um nó se formar em sua garganta. As palavras de Fleur e Viktor eram mais do que simples promessas; eram um lembrete de que, talvez pela primeira vez em muito tempo, ele não precisava carregar o peso de tudo sozinho.
Cedric, sentado ao seu lado, passou uma mão reconfortante sobre o ombro de Harry, seu toque firme e acolhedor.
— Não precisa fingir que está bem o tempo todo — disse ele suavemente. — É normal estar assustado. Eu estaria, no seu lugar.
Harry levantou o olhar, encontrando o de Cedric. Havia algo de reconfortante em sua presença — uma calma inabalável que parecia ancorá-lo em meio à tempestade de sentimentos que o assombravam.
— Eu... eu nem sei como agradecer — murmurou Harry, sua voz quase um sussurro. — Ninguém nunca... nunca fez isso por mim antes.
Fleur balançou a cabeça lentamente, seus olhos azuis se suavizando ainda mais.
— Não precisa agradecer — disse ela, sua mão pousando de leve sobre a de Harry. — Nós estamos aqui porque queremos.
O silêncio voltou a preenchê-los, mas desta vez era menos opressivo — mais carregado de compreensão mútua do que de incerteza. Viktor se afastou da mesa e caminhou até a cama, seu corpo alto e robusto movendo-se com uma graça controlada.
— Vocês devem descansar — disse ele, puxando um cobertor grosso de lã escura e o estendendo sobre a cama. — Amanhã será um dia longo.
Harry hesitou, não acostumado a aceitar conforto ou gentileza sem uma sensação de dívida. Mas, quando Viktor sentou-se ao lado dele, seu olhar firme e sereno, Harry sentiu as últimas defesas em seu coração se desfazerem. Com um suspiro cansado, ele permitiu que Cedric e Fleur o acomodassem entre eles.
Fleur se aninhou ao lado de Harry, sua presença quente e protetora, enquanto Cedric descansava do outro lado, próximo o suficiente para que Harry sentisse o calor de seu corpo. Viktor, sem dizer nada, ocupou o espaço aos pés da cama, seu olhar permanecendo atento e vigilante mesmo quando as luzes se apagaram.
O navio balançava suavemente com o movimento das águas, um embalo tranquilizador que, aos poucos, dissipava as tensões de Harry. Pela primeira vez em muito tempo, ele se permitiu sentir algo próximo à segurança — um vislumbre de paz em meio ao caos.
E, enquanto o sono o envolvia, uma certeza silenciosa tomava forma dentro dele. Ele não estava mais sozinho. E, com Fleur, Viktor e Cedric ao seu lado, talvez nunca mais estivesse.
O primeiro indício de que o dia estava nascendo veio com a luz pálida que filtrava-se pelas vigias da cabine. O céu, ainda tingido de um azul acinzentado, anunciava uma manhã fria e silenciosa. Dentro do quarto aquecido, os quatro corpos permaneciam juntos, buscando um conforto que nenhum deles ousaria admitir em voz alta.
Harry despertou lentamente, seus sentidos emergindo como se atravessassem uma névoa espessa. O calor ao seu redor era reconfortante, e por um momento, ele não quis se mover, temendo que o simples ato de abrir os olhos dissipasse a tranquilidade frágil que havia encontrado. Apenas quando sentiu um leve aperto em sua mão, ele se permitiu despertar por completo.
Fleur estava ali, sua cabeça descansando suavemente contra seu ombro. Seus cabelos dourados se espalhavam em ondas suaves, e sua respiração era lenta e constante. O toque dela, leve e protetor, trazia um conforto que Harry não sabia que precisava. Do outro lado, Cedric permanecia perto, seu braço tocando de leve a lateral de Harry, como se ainda quisesse garantir que ele estava seguro. Aos pés da cama, Viktor dormia em silêncio, mas até mesmo em repouso, sua postura transmitia vigilância e força.
Por um instante, Harry permitiu-se absorver a sensação de segurança. Era estranho, mas ao mesmo tempo reconfortante. Desde que seu nome saíra do Cálice de Fogo, sua vida tinha se tornado um turbilhão de medo e desconfiança. Agora, cercado por aqueles três, ele sentia algo diferente – uma promessa silenciosa de que não enfrentaria mais tudo sozinho.
— Já está acordado? — A voz rouca de Viktor cortou o silêncio de forma suave, mas firme.
Harry se virou ligeiramente para encontrá-lo observando-o com atenção. Os olhos escuros de Viktor, sempre tão impenetráveis, agora carregavam algo mais suave – uma preocupação genuína que Harry ainda tinha dificuldade em aceitar.
— Sim — respondeu Harry em voz baixa, como se temesse quebrar a paz do momento. — Eu… Eu não achei que conseguiria dormir.
— Você precisava — Viktor respondeu simplesmente, movendo-se para se sentar mais ereto. — Aqui, você pode descansar. Pelo menos por enquanto.
Fleur suspirou ao ouvir a conversa, mexendo-se lentamente antes de abrir os olhos. O brilho azul oscilou por um momento antes de se fixar em Harry, avaliando-o com um cuidado silencioso.
— Dormiu bem? — perguntou ela, a voz suave e levemente rouca pelo sono.
Harry assentiu, um pequeno sorriso puxando os cantos de seus lábios.
— Melhor do que eu esperava — admitiu. — Obrigado… a todos vocês.
Cedric, que agora despertava ao lado de Harry, soltou um leve bocejo antes de abrir os olhos cinzentos e calorosos. Um sorriso fácil apareceu em seu rosto enquanto ele ajeitava os cabelos bagunçados.
— Não precisa agradecer — disse Cedric, dando-lhe um leve empurrão de brincadeira no ombro. — Nós estamos juntos nisso, lembra?
Harry abaixou a cabeça por um momento, a gratidão inundando seu peito de uma maneira que ele não conseguia expressar em palavras. Por tanto tempo, ele acreditara que deveria lidar com tudo sozinho – mas agora, ele não estava mais isolado.
Viktor se levantou, seu movimento fluido e disciplinado. Ele se aproximou da mesa onde uma bandeja com chá e alguns pães fora deixada na noite anterior.
— Vocês devem comer algo — disse ele, colocando a bandeja sobre a cama. — Vamos precisar de energia para enfrentar o que vem a seguir.
Fleur riu suavemente, o som delicado quebrando a seriedade do momento.
— Sempre tão prático, Viktor — comentou ela, pegando uma xícara de chá e oferecendo a Harry em seguida. — Mas ele tem razão. Não sabemos o que Dumbledore ou o Ministério vão tentar fazer agora.
Harry pegou a xícara com um leve tremor nas mãos, o calor do chá irradiando através da porcelana. Ele ainda não sabia como enfrentaria o que estava por vir, mas, com Viktor, Fleur e Cedric ao seu lado, sentia que poderia lidar com qualquer coisa.
Por um tempo, eles compartilharam o café da manhã em um silêncio confortável, como se aquele simples ato fosse uma âncora em meio à tempestade. O navio balançava suavemente com o movimento do lago, e o som distante da água batendo no casco reforçava a sensação de isolamento e proteção.
— Eu quero falar com Hermione e Ron — disse Harry de repente, quebrando o silêncio. — Eles devem estar preocupados.
Fleur assentiu, seus olhos brilhando com compreensão.
— Claro. Eles são importantes para você. Podemos encontrá-los após o café — disse ela, sua mão pousando brevemente na de Harry, como um lembrete silencioso de que ele não precisava enfrentar nada sozinho.
Cedric se levantou, esticando os braços.
— Eu vou com você — afirmou, seu tom firme. — É melhor não deixar você sozinho em Hogwarts agora. Não depois do que aconteceu ontem à noite.
Harry soltou um pequeno suspiro, dividido entre a preocupação por seus amigos e a estranha sensação de segurança que sentia na presença dos outros campeões.
— Obrigado — murmurou, seu coração batendo um pouco mais leve ao perceber que, finalmente, ele não estava mais sozinho.
O ar gélido da manhã abraçava os terrenos de Hogwarts quando Harry e Cedric deixaram o navio Durmstrang, atravessando a ponte de madeira que os conectava à margem do lago. A neblina rastejava pelo solo, envolvendo os pés deles em um véu pálido. Harry, ainda sentindo o calor da presença dos outros campeões, puxou o manto mais próximo ao corpo enquanto o vento cortante bagunçava seus cabelos.
Cedric, ao seu lado, mantinha o passo firme e atento. O silêncio entre eles era confortável, preenchido apenas pelo som dos sapatos afundando no chão úmido. De tempos em tempos, Cedric lançava um olhar rápido para Harry, como se quisesse garantir que ele ainda estava bem.
— Você está mesmo certo disso? — perguntou Cedric em tom baixo, quebrando o silêncio quando se aproximaram da entrada do castelo. — Falar com Hermione e Ron agora... Dumbledore provavelmente estará de olho em você.
Harry hesitou por um momento antes de responder.
— Eu preciso vê-los — disse ele, sua voz firme, mas tingida por uma nota de vulnerabilidade. — Eles são meus melhores amigos. Depois de tudo que aconteceu, eu... eu só preciso saber que eles estão bem.
Cedric assentiu em compreensão, sua expressão suavizando.
— Tudo bem. Mas eu não vou te deixar sozinho — afirmou, a determinação em sua voz não deixando espaço para discussão.
O Grande Salão estava mais silencioso do que de costume. Os alunos ainda se reuniam em grupos dispersos, murmurando sobre os eventos da noite anterior. Harry sentiu os olhares sobre ele assim que cruzou as portas. Alguns eram de curiosidade, outros de suspeita, e uma pequena parte carregava algo mais sombrio – como se o nome dele no Cálice tivesse manchado sua reputação de vez.
No entanto, sua atenção desviou-se rapidamente quando avistou Hermione e Ron sentados à mesa da Grifinória. Os dois estavam juntos, inclinados em uma conversa tensa. Hermione segurava uma xícara de chá, mas suas mãos tremiam ligeiramente. Ron, com as sobrancelhas franzidas, apertava os punhos como se estivesse tentando conter a frustração.
Ao vê-los, algo dentro de Harry relaxou.
— Harry! — exclamou Hermione ao levantar-se apressadamente, sua voz carregada de alívio e preocupação. Ela atravessou o salão em passos rápidos, jogando os braços ao redor dele em um abraço apertado. — Você está bem? Nós estávamos tão preocupados!
Harry retribuiu o abraço com força, sentindo um nó se desfazer em seu peito.
— Eu estou bem agora — respondeu, sua voz abafada contra o ombro dela. — Me desculpem por não ter conseguido falar com vocês antes.
Ron aproximou-se logo em seguida, as orelhas ainda vermelhas de irritação, mas seus olhos brilhavam com um misto de alívio e determinação.
— O que diabos está acontecendo, Harry? Por que você sumiu? — perguntou ele, mas seu tom era mais suave do que Harry esperava. — Malfoy tá espalhando que você está se achando por ter sido escolhido.
— Não me surpreende — murmurou Harry, sentindo o cansaço pesar sobre seus ombros de novo. — Eu não coloquei meu nome naquele cálice, Ron. Eu juro.
O rosto de Ron suavizou-se, e ele assentiu devagar.
— Eu sei — disse ele, em uma admissão silenciosa de fé em Harry. — Só me irrita que eles sempre coloquem a culpa em você.
Cedric, que permanecia em silêncio até então, pigarreou levemente para chamar a atenção do grupo.
— Ele não está sozinho agora — disse Cedric, sua voz firme e segura. — Eu, Fleur e Viktor estamos cuidando disso. Ninguém vai deixar nada acontecer com ele.
Hermione lançou a Cedric um olhar avaliador antes de sorrir levemente, reconhecendo a sinceridade em suas palavras.
— Obrigada — disse ela, a gratidão evidente em sua voz. — Harry precisa de pessoas que estejam do lado dele agora.
— E nós estamos — respondeu Cedric, o peso da promessa pairando em suas palavras.
Por um momento, eles permaneceram em silêncio, cada um absorvendo a estranheza da situação. Então, Hermione endireitou-se, seu semblante voltando à determinação prática que Harry conhecia tão bem.
— Precisamos descobrir o que está acontecendo — disse ela em tom decidido. — Algo está errado, Harry. Alguém quer você nesse Torneio por um motivo.
— Concordo — Cedric afirmou, cruzando os braços. — Viktor está conversando com Poliakoff, e Fleur está tentando descobrir o que Madame Maxime sabe. Não vamos deixar você lutar sozinho.
Aquela afirmação trouxe um calor inesperado ao coração de Harry. Pela primeira vez em muito tempo, ele não se sentia o único a carregar o peso do mundo nas costas.
— Então, o que fazemos agora? — perguntou Ron, sua voz cheia de determinação renovada.
Harry olhou para seus amigos e para Cedric, sentindo o início de uma esperança silenciosa se formar.
— Nós descobrimos a verdade — respondeu ele, e, com aqueles poucos palavras, o grupo soube que não importava o que viesse a seguir – eles enfrentariam juntos.
Depois de deixar o Grande Salão, Harry, Cedric, Hermione e Ron seguiram por um dos corredores menos movimentados de Hogwarts. O ar ainda carregava um frio cortante, e as tochas nas paredes lançavam sombras dançantes que tremulavam em tons dourados e alaranjados. Harry sentia o peso dos olhares curiosos e desconfiados, mas a presença de Cedric ao seu lado era um lembrete silencioso de que ele não estava sozinho.
Hermione, sempre pragmática, mantinha o passo rápido enquanto consultava mentalmente todas as informações que conseguira reunir até então. Ron, por outro lado, caminhava com os punhos cerrados, claramente irritado com a forma como Harry estava sendo tratado.
— Temos que ser cuidadosos — murmurou Hermione, virando-se para os outros assim que entraram em uma sala de aula vazia para conversar em particular. Ela fechou a porta com um movimento firme antes de continuar. — Se Dumbledore realmente não sabe como seu nome foi parar no Cálice, isso significa que alguém muito poderoso está por trás disso.
Harry encostou-se a uma das mesas, exalando um suspiro pesado. O cansaço emocional começava a pesar, mas a preocupação de seus amigos o mantinha firme. Cedric se posicionou próximo a ele, mantendo uma postura protetora, como se estivesse pronto para intervir a qualquer sinal de perigo.
— Viktor acha que há alguém de dentro da escola ajudando — comentou Cedric, sua voz baixa, mas carregada de convicção. — Ele vai tentar descobrir mais com Poliakoff. E Fleur… bem, ela não confia em ninguém além de Madame Maxime, mas até mesmo isso parece frágil agora.
Harry franziu o cenho, seus pensamentos correndo em direções diferentes.
— Por que alguém iria querer me colocar nesse torneio? — perguntou, a frustração evidente em suas palavras. — Eu não sou ninguém importante. Só quero passar esse ano sem quase morrer, o que parece impossível ultimamente.
Ron soltou um resmungo, cruzando os braços.
— Você derrotou Você-Sabe-Quem três vezes, Harry. Eu diria que isso já é um bom motivo para alguém te querer morto.
— Ainda assim… — Harry passou a mão pelos cabelos desordenados. — Isso parece maior do que só me colocar em perigo. Sinto como se estivesse sendo vigiado o tempo todo.
Hermione assentiu lentamente, seu rosto marcado por uma expressão pensativa.
— Isso porque você está, Harry. Mas agora você tem apoio. Viktor e Fleur parecem realmente querer ajudar, e Cedric… — Ela olhou para o lufa-lufa, que não desviou o olhar firme. — Está claramente comprometido em proteger você.
— Eu não vou deixar nada acontecer com ele — disse Cedric com simplicidade, mas a intensidade em sua voz fez o coração de Harry acelerar por um instante. Havia algo no jeito como ele falava, como se estivesse disposto a enfrentar qualquer obstáculo por Harry.
Harry engoliu em seco, sentindo uma mistura estranha de gratidão e confusão.
— Obrigado — murmurou, seu olhar encontrando o de Cedric por um momento longo e silencioso. — Eu… eu não sei como agradecer por isso.
— Não precisa agradecer — respondeu Cedric suavemente, um leve sorriso se formando em seus lábios. — Estamos nisso juntos agora.
Antes que Harry pudesse responder, a porta se abriu ligeiramente e uma figura esguia e graciosa entrou com a leveza de uma brisa. Fleur Delacour, com seu cabelo prateado brilhando à luz das tochas, fechou a porta atrás de si com um movimento fluido.
— Maxime concordou em nos ajudar — anunciou ela, sua voz musical, mas firme. — Ela não confia em Dumbledore neste momento e acha tudo isso… como vocês dizem? Suspeito.
Hermione arqueou as sobrancelhas, surpresa com a rapidez com que Fleur conseguira a cooperação de sua diretora.
— Isso é um bom sinal — admitiu ela. — Quanto mais aliados tivermos, melhor.
Fleur aproximou-se de Harry, seu olhar suavizando ligeiramente ao observá-lo de perto.
— Você está bem? — perguntou ela em um tom mais delicado.
— Estou… melhor — respondeu Harry, e era verdade. Rodeado por essas pessoas que claramente se importavam com ele, o fardo parecia um pouco mais leve.
— Bom — disse Fleur, com um toque de determinação em seu tom. — Porque você não precisa carregar isso sozinho mais, Harry.
Cedric e Fleur estavam certos: eles o protegeriam. E Harry começava a acreditar que, talvez, dessa vez, não precisasse enfrentar tudo sozinho.