
— Você queria falar comigo — Ririka diz, após alguns minutos de silêncio constrangedor. Mary havia chamado a namorada para uma sala de aula vazia no enorme castelo de Hogwarts, no qual estudavam, mas agora sua timidez a prevenia de dizer as palavras em sua mente em voz alta.
A estudante da Grifinória abriu a boca, mas ainda não consegue comunicar sua pergunta; ao invés disso, ela apenas afirmou:
— Você me convidou para o Baile de Inverno.
— Sim.
— E lá nós temos que… — Mary engoliu em seco, ainda hesitante para compartilhar a preocupação com a namorada. — Nós temos que dançar lá…
— E…? — Ririka diz, mas parece perceber o problema antes de Mary responder. — Ah. Você não sabe? — Saotome assentiu com a cabeça, evitando olhar nos olhos da namorada por timidez. A outra, entretanto, refletia sobre uma solução para o problema. — Nós podíamos treinar juntas até lá… — Ela ofereceu, após ponderar por alguns segundos. — Ainda falta um mês, então você deve conseguir até o baile!
Apesar de não se sentir muito confiante com a ideia, Ririka parecia animada pelas duas e Mary não conseguiria dizer não para o brilho nos olhos da estudante da Sonserina ou para suas bochechas levemente avermelhadas. Por isso, ela assentiu e deixou que a namorada pegasse sua mão e a guiasse pela Sala Precisa.
[...]
Mary ajeitou o vestido vermelho antes de entrar no salão onde o baile aconteceria. Ririka a havia chamado para dançar aquele dia, um mês atrás, mas ela nunca sabia rodar. A cada tentativa de girar, suas pernas pareciam parar de funcionar, ficando duras — um grande contraste das vezes que elas derretiam por qualquer declaração boba da Momobami.
A esperança de Mary era perdida a cada passo até ela ouvir a voz delicada da namorada. “Você pode se soltar. Conte-me sobre a sessão de estudos, se distraia enquanto eu te conduzo,” ela havia dito e Mary confiou. Mesmo sem jeito, ela havia concordado e, enquanto conversava com Ririka, permitiu-se ser guiada pela pessoa que mais confiava e no final, achou ser tranquilo.
Agora, Mary torcia que a situação se repetisse durante o baile. Enquanto andava, sentia que o tecido do vestido era fino demais e estava frio — afinal, estava em uma festa em comemoração ao Inverno. Finalmente encontrou Ririka, que, com seu vestido azul e cabelo prateado, conseguiu se misturar à decoração do local.
Enquanto se aproximava, Mary teve bastante tempo para admirar a beleza de Ririka: ela havia aplicado o batom azul da irmã gêmea em seus lábios, o que fazia com que os pensamentos da Saotome estivessem todos focados na ideia de ter em sua boca o mesmo tom de azul; também teve tempo de observar bastante o vestido azul com detalhes de renda que a namorada usava e a vestimenta foi completada por uma echarpe branca. Os tecidos destacavam perfeitamente as curvas que Mary sabia que ela tinha, como a observadora fiel que era, e o penteado que organizava seus fios de cabelo alvos deixavam seu pescoço e ombros totalmente à mostra.
Todos aqueles detalhes atraíam o olhar de Mary, impedindo-a de focar em qualquer outra coisa. Por fim, Ririka a viu e seus olhos brilharam — um brilho que pertencia exclusivamente à Saotome.
— Mary! — Ela exclamou, acariciando os braços da namorada. — Eu estava te esperando… seus braços estão frios! Você está pálida! — Momobami observou e prontamente tirou a echarpe que antes descansava em volta dos cotovelos da garota. — Fique com isso. Não quero que você fique doente.
Depois disso, Mary de fato se sentiu a temperatura aumentar, porém, pelo fato de seu rosto estar queimando, ela assumiu que o acessório não havia sido o responsável.
— Obrigada… — Ela sussurrou com esforço, porque ainda era difícil expressar seus sentimentos. Em resposta, Ririka sorriu e apertou levemente a mão de Mary.
— Então… — A expressão de Ririka era tímida e hesitante, e a Saotome achava isso incrivelmente adorável. — Quer dançar? — Como sempre, Mary não foi capaz de negar. O olhar envergonhado, as bochechas avermelhadas e o calor de suas mãos juntas faziam com que fosse impossível dizer não. Como negaria algo àquela tão divina bruxa?
Apertando a mão de Ririka o mais forte que podia, Mary caminhou até a pista de dança. A música que tocava era lenta, o tipo de música que implorava para os casais dançarem juntos, com seus corpos grudados um no outro. As duas garotas da Sonserina e da Grifinória obedeceram ao pedido da melodia.
Sentindo as mãos confiantes de Ririka em volta de seu quadril, guiando-a pelo salão, Mary percebeu que só sabia dançar com ela. Com qualquer outra pessoa, ela iria se preocupar com os seus erros, mas o rosto concentrado de Ririka, os poucos fios de cabelo que escapavam seu bem organizado penteado e a pele tão delicada que parecia de porcelana eram suficientes para Mary ter no que se concentrar durante um bom tempo, esquecendo dos passos errados e das pessoas em volta.
E, mesmo quando o nervoso era grande demais para isso ser o suficiente, o olhar apaixonado no rosto de Ririka enquanto bailavam sempre seria o suficiente para fazê-la acreditar piamente que cada passo que dava era correto e que ela estava onde deveria estar.